É bastante provável que você, assim como eu, está torcendo para este ano acabar logo. Desde o início da pandemia, estamos na expectativa de uma volta à normalidade. Mas o que se nos apresentam são idas e vindas de esperança e desesperança. Passamos da fase de “aqui no Brasil não vai pegar” para o mau exemplo de estar no topo do ranking de países mais infectados.
Do negacionismo de alguns, chegamos à desgraceira de mais de uma centena de milhares de mortes e uma debacle econômica sem precedentes. E, por mais de seis meses, somos obrigados a conviver com estatísticas que ninguém gostaria de ver.
Todos os dias, nas primeiras páginas de jornais e nos noticiários da TV, sem contar as plataformas da internet, lá estão os números de infectados e de mortes do dia. Um massacre psicológico a que somos submetidos, sem chance de defesa.
Sem contar os dados econômicos, que levam muitos ao desespero, não enxergando muitas saídas para sobrevivência. Mas, nos últimos dias, as tais estatísticas começaram a dar um alento. Os tenebrosos números de mortos e infectados começaram a apontar com maior consistência para baixo.
Bastaram esses primeiros sinais de melhora para observarmos praias lotadas e aglomerações por todo o lado. Cá entre nós, acho até compreensível. Não é fácil manter-se confinado olhando para os dias lindos e ensolarados lá fora, distantes do nosso retiro forçado.
Estamos todos ansiosos por algum alento que nos traga de volta, ainda que parcialmente, uma certa normalidade. E as raras oportunidades de respirarmos livremente, sem um incômodo tecido apertando nossas narinas. Mas a má notícia é que a pandemia não acabou.
Entre uma vacina e outra, seja aquela com nome de foguete russo que juram, inconsistentemente, que estará disponível ainda este ano, ou outras, mais confiáveis, que respeitam testes e estão fadadas a retrocessos normais desse tipo de desenvolvimento que lida com a vida humana. No campo econômico, precisamos estar cientes de que o ano também não acabou. Ao contrário: o último quarto é sempre muito importante para os negócios. Temos datas promocionais importantes nesse período. Não só o Natal, mas a Black Friday e o Dia das Crianças estão entre as datas mais importantes do comércio. Depois de termos perdido o Dia das Mães e o dos Namorados, será que conseguiremos aproveitar as datas do último trimestre
do ano?
Que tal se criássemos uma nova data, mais coerente com os dias atuais? Que tal Dia do Home Office? Por que não? Ofertas de traquitanas para melhorar sua performance em conference calls ou lives. Câmeras mais potentes, sistemas de som e iluminação, fundo verde para chroma key, cadeira ergonômica, tripés para celulares e outras bugigangas que tornem seu home office mais agradável e produtivo.
Não é uma má ideia, hein? Eu mesmo já comprei algumas dessas coisas aí. Sim, o ano não acabou. Ainda teremos eleições municipais. E ainda temos de tirar da cartola ações que minimizem a porrada no resultado da nossa empresa. E, mais ainda: temos de planejar 2021.
Ai, ai, ai… tarefa inglória pensar em 2021 no meio de tanta incerteza. Teremos vacina quando? Mesmo ainda sem vacina, o quanto saberemos lidar minimamente com a pandemia, de modo a permitir uma recuperação econômica?
O PIB deve crescer – afinal, partiremos de uma base terrível –, mas o quanto isso refletirá dos nossos setores de atuação? Por outro lado, há hábitos que vieram para ficar. O e-commerce dobrou no período de pandemia. Devemos investir mais na digitalização e na virtualização dos nossos negócios? Parece óbvio que sim, mas não podemos deixar de observar que o e-commerce, por exemplo, ainda representa apenas pouco mais de 5% do total.
As crises são também momentos de grande aprendizado. Parece claro que o banal, meramente funcional, tende a ser virtual, mas o especial, a experiência excepcional, deve continuar presencial. Não deixe o ano acabar antes de uma boa reflexão sobre esse momento raro nas nossas vidas.
Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) alexis@ampro.com.br