Em minha opinião, ter um dia para comemorar o Dia da Mulher é uma grande injustiça, porque o dia delas é todo santo dia. Falar do valor da mulher na propaganda chega a ser redundante e corre-se o risco de cometer alguma falha, porque todas elas, sem uma única exceção, têm importância fundamental na nossa existência. Mas tudo o que se escreveu sobre o papel da mulher na propaganda foi muito bom, muito justo e muito bonito. Elas têm, e não é de hoje, toda uma competência e insofismável sabedoria para comandar as coisas. Afinal, elas fazem o mais difícil, que é parir, educar e formar seres humanos.
Quando comecei a trabalhar em propaganda, pouco antes da década de cinquenta, era possível contar nos dedos de uma mão a quantidade de mulheres que já brilhavam na atividade, isso sem falar nas secretárias, datilógrafas e cargos ainda menores, mas acredito e espero que em breve tempo elas serão de 60% para cima.
Mas eu gostaria é de falar sobre a importância da mulher no todo da existência humana. Outro dia fui convidado por um grupo de mulheres de vários níveis: social, profissional e etc. e tal para participar de uma palestra sobre a tragédia do feminicídio que assola o nosso país. Duas coordenadoras tinham tomado conhecimento de um livro que lancei no ano passado: Rua da Amargura SN – memórias de um morador de rua na cidade de São Paulo, na década de 1950. No livro abordo vários aspectos do valor da mulher.
Com muita tristeza e vergonha do meu gênero, pude observar que o crime de feminicídio aumenta diuturnamente e entre os muitos matadores de mulher, não tinha apenas homens das chamadas classes menos favorecidas, gente atrasada, mas tinha, sim, também advogados, médicos, religiosos, engenheiros e muitos outros, tidos como superiores àqueles infelizes trabalhadores braçais, para quem a “posse da mulher” ainda vigora como nos velhos tempos: “muié minha não trabaia pra homi nenhum”. ”Não qué sê minha, intão num vai sê de ninhum outro…”
As justificativas dos chamados intelectuais que matam e mutilam mulheres são as mesmas, é claro que usando o verbo com mais finura e cinismo. Instado a comentar a reunião, além de expressar minha vergonha com o gênero masculino, do qual ainda faço parte, liquidei o que tinha a dizer, lembrando que todo mundo presente ali, conhece sobejamente os Direitos Humanos, a lei Maria da Penha, aquela que obriga o agressor a não se aproximar da vítima num raio de tantos metros, leis que foram citadas por todos os palestrantes. E disse mais; faltou falar dos sentimentos do outro.
O sentimento de cada um é o que a pessoa tem de mais seu, sagrado mesmo e não está impresso nem nessa, nem naquela lei e em nenhum código oficial. Está na consciência de cada ser humano. Carlito Maia, grande publicitário, dizia que os humanos podiam ser melhores. Só faltava entender que cada um precisa do outro.
Humberto Mendes é VP Executivo da Fenapro.