A Globo vem construindo ao longo de décadas uma marca vigorosa pautada em expressões fortemente simbólicas, principalmente após a criação de Hans Donner em meados dos anos 1970, uma notável inovação para a época. O globo e a Globo incorporam a TV que, por sua vez, contempla ambos, esta foi a base da criação do designer. Algumas atualizações foram feitas buscando expressar os valores estéticos do tempo, diferentes tons platinados sustentando a denominação popular “Vênus platinada”, com utilização da cor branca, recursos de volume, brilho e mobilidade.

A identidade visual composta por símbolo e logotipo encontrava outra expressão na sonoridade característica do plin-plin e dos ecos que assumia em vinhetas da programação e ocasiões extraordinárias, como no plantão do jornalismo. Assim, sobre o verbal, o visual estático e em movimento e o sonoro amalgamavam camadas sensíveis, reforçando os sentidos desejados. Portanto, há tempos, a Globo é uma brand sense.

Na noite de 1º. de dezembro, conhecemos a nova identidade visual da Globo, que já nasceu transbordante para a publicidade mais significativa da emissora, o filme de fim de ano, que agora é ainda mais significativo por tratar-se de um fim de ano após meses de suspensão dos encontros e contato pessoal, incertezas, sofrimentos de natureza diversa e, principalmente, perdas de vidas. A mensagem de otimismo sempre esteve presente no filme de fim de ano da Globo “hoje é um novo dia…”, mas, neste ano, a diversidade e a mistura cromática em tonalidades atenuadas ambientam o valor dos reencontros, ressaltando a emoção do ato, construindo uma paisagem sensível. Realmente, precisamos de um novo dia. Em seis cores que se fundem e se abrem, a nova identidade visual da Globo é puro otimismo pela diversidade e vibração que instauram, é também leveza pela mobilidade que atenua cada cor; assim segue o espírito do tempo que instaura o bem-estar e a esperança como único caminho possível. Na moda, o dopamine dressing tem dado o tom e o nome é reflexo da sensação de bem-estar causada pela dopamina, um neutrotransmissor produzido pelo nosso organismo. Sabemos da potência que as cores têm no caminho de nos proporcionar sensações diversas, no encontro do fisiológico, com o cultural e o psicológico.

Cores como um estímulo à mudança da nossa condição interna a favor do equilíbrio emocional e, quem sabe, à abertura para uma melhor existência. Na Globo, os movimentos cromáticos transbordantes borram as fronteiras da forma e invadem os contextos, as cenas, envolvem as pessoas, proporcionando uma experiência imersiva sensória de prazer e contentamento. Como toda esta mudança está plasmada na celebração de um novo ano, é possível que teremos um Réveillon multicolorido, diverso e eufórico como inspiração para todos os dias do próximo ano.

Assim, a Globo atua na gestão expressiva da sua marca de forma competente dobrando tempo, passado e presente se misturam ao futuro. Mantém o reconhecimento e a familiaridade da sua identidade visual, o que dá o tom da permanência, fundamental para uma marca longeva e a principal referência no campo, ao mesmo tempo que modifica, atualiza e transforma, fundamentos do signo da inovação.

Clotilde Perez é professora titular de publicidade e semiótica da ECA-USP
(cloperez@usp.br)