Heber Garrido tem quase 30 anos de experiência na indústria do turismo e mudou de emprego em outubro de 2020, quando assumiu, em plena pandemia, a área de marketing e vendas do complexo que agrega o Hot Beach Resort, o Celebration Resort Olímpia, o Thermas Park Resort & Spa e o Hot Beach Suites. De lá para cá, ele viu crescer os investimentos em comunicação, a geração de novos negócios e a volta surpreendente do público, reforçando sua análise sobre a força do segmento. “Vejo o turismo como parte da cura espiritual”. Acompanhe a entrevista.
Antes do Hot Beach Olímpia você estava na Aviva. O que foi o projeto?
Foi uma fase muito interessante do ponto de expansão, quando o Grupo Rio Quente Recort compra o complexo hoteleiro da Costa do Sauípe. Tínhamos de lançar a marca Aviva, em que entretenimento era fim e a hotelaria passou a ser meio. Isso veio com muito impacto e muita força. Mudou o modelo de negócios, não foi só uma aquisição imobiliária. Nesse período veio a pandemia.
Você tem quase três décadas de experiência no mercado e nos últimos anos está envolvido em grandes expansões e novidades no segmento, em paralelo com os desafios da pandemia. Como tem sido esse período?
O desenvolvimento do turismo com mais força e escala, pensando em resorts, é de 20 anos para cá. Quando eu comecei tinha alguma coisa na Bahia, no Rio de Janeiro e em Foz do Iguaçu (PR), hoje a oferta é muito maior. E esse período da pandemia foi de muito aprendizado pessoal e profissional, de rever valores e propósitos, valorizar mais o ser e não o ter. Também fiz uma transição de carreira no meio dela. Foi uma grande transformação. Mas ainda estamos em pandemia, ainda requer cuidado, protocolos e vacina. Mas estou otimista.
Em que momento você chegou ao novo negócio e com qual missão?
Ficamos fechados de março a outubro de 2020. Eu cheguei justamente nesse momento para a reabertura parcial, então completei recentemente um ano, que foi um período de montanha-russa. Mas, apesar de tudo, a retomada foi muito forte. Quando reabriu, foi surpreendente. O desafio naquele momento era lidar com públicos diferentes, os que respeitavam os protocolos e os que não, então era o desafio de fazer valer a segurança das pessoas. Como ficamos fechados, tivemos tempo para nos preparar e chegar com mais segurança. Foi um baque de caixa, mas tivemos tempo para nos preparar. A estratégia então era comunicar a segurança e os protocolos, criar um ambiente de confiança, deixar claro como iríamos operar, como seria esse retorno, com transparência, criando vínculos e sendo flexíveis nas políticas adotadas. Fizemos isso e 95% das reservas remarcadas não foram canceladas.
Houve demissões?
O Grupo Ferrasa tem 40 anos e foco na construção civil. Como não paramos com as construções isso deu fôlego e caixa, mas fizemos pequenos ajustes. Utilizamos as regras para fazer licenças e afastamentos, mas voltamos a contratar pessoas.
Passada essa fase, hoje o que você tem sob seu escopo de trabalho?
Temos quatro resorts, inauguramos o Hot Beach Suites, sob o modelo de multipropriedades, na temporada das férias de julho deste ano, e temos o parque aquático, que é o grande gerador de demanda para o destino. Olímpia tem dois parques aquáticos, um é o nosso, que está entre os dez mais visitados da América Latina. Ele também é um grande gerador de negócios para a multipropriedade, que está sob meu guarda-chuva na questão do
marketing e comunicação para os multiproprietários, que faz Olímpia crescer. Até então tínhamos hotéis próprios, o Thermas Park Resort & Spa, os condo-hotéis Hot Beach Resort e o Celebration. Toda comunicação, marketing, estratégia e área comercial estão sob minha responsabilidade.
Apesar de todos os desafios recentes vocês estão investindo no turismo com novidades e expansão no modelo de negócios. O que significa esse momento?
Ficamos muito felizes em fazer parte da retomada do turismo. Eu vejo o turismo como parte da cura espiritual. O turismo é muito maior que se relacionar com culturas diferentes. Ele ajuda na saúde mental e emocional. Foi difícil para todo mundo, vejo o turismo muito mais do que só algo na indústria, de geração de emprego e negócios, mas como uma terapia para todos.
Quais investimentos estão sendo feitos no parque hoje? E o que já está previsto em 2022?
Estamos em expansão, porque o grande gerador de audiência e entretenimento é o parque. Recebemos uma média de 8 mil pessoas por dia, queremos crescer a área de entretenimento para receber até 12 mil pessoas. Temos um investimento de R$ 7 milhões para o primeiro semestre de 2022 em construção de novas áreas. Estamos na estratégia de levar marcas para diferenciação em experiências, eventos e produtos.
O que motivou essa investida na estratégia com outras marcas?
Começou em outubro do ano passado. Muitas marcas estavam precisando de espaços e plataformas para expor, num momento que bares, restaurantes e festivais ainda estavam sem acontecer, por exemplo. Era uma excelente alternativa.
Quantos projetos estão fechados?
Fechamos três contratos e tem dez em negociações. Fechamos com a Heineken Brasil, com a Coca-Cola FEMSA e Chandon Brasil. Isso equivale, em investimento de marketing por parte das marcas, a algo em torno de R$ 5 milhões em cinco anos. São projetos tailor made, como a praia que a Heineken tematizou. O novo espaço na área da praia tem quatro bangalôs, bar, cabine de DJ e painéis instagramáveis, tudo integrado num ambiente configurado em estilo lounge. Com a tematização da Ibiza Beach, a Heineken amplia a projeção da sua marca para toda a área do complexo. Desde julho, a empresa já oferece as cervejas Amstel, Baden Baden e Eisenbahn em restaurantes, bares, quiosques e máquinas automáticas, por exemplo. Também estamos planejando eventos, como uma Beer Fest. Já com a Coca-Cola trazemos a carreata de Natal para Olímpia, algo bem simbólico. E com a Chandon, já estão implementadas, todos os contratos são celebrados com Chandon e vamos fazer um lounge focado em celebrações.
Pelo que é possível observar, a maior parte do público é de famílias, sempre com crianças. Como funciona a questão do acesso a esses novos espaços de experiências?
De fato o público do complexo é formado por famílias, diria que 90%. Não temos restrições de espaços e as pessoas buscam as preferências. Por exemplo, temos o espaço kids e os pais de crianças menores tendem a ficar mais nessas áreas. Esse espaço com a Heineken naturalmente atrai mais jovens, grupos sem filhos, com bangalôs, DJ, bar molhado etc.
Essa movimentação toda surgiu em que contexto, foi uma ideia interna?
O projeto nasceu em casa e nós implementamos e aceleramos isso. No momento era mais no tom de ‘vamos juntos enfrentar isso que está acontecendo’, muito diferente do cenário hoje, de escala, de expansão, crescimento. Mas tomou uma grande escala de indústria, de negócios. Criamos uma grande plataforma para exposição das marcas.
Com quais outros setores vocês estão conversando nesse sentido?
Esse olhar de parcerias sempre acontece pela relevância da escala. Então, além de bebidas, cervejas e refrigerantes, que são coisas que consumimos muito no verão, também estamos conversando com outras áreas como telefonia, proteína e bandeiras em pagamento. Buscamos projetos baseados no que falamos, de propósitos e experiências. E queremos sempre manter a relevância. Então, quando falamos em volume de cartões de crédito, 90% das nossas operações é no cartão. Queremos buscar cada vez mais parcerias interessantes. Tem muita novidade vindo.
Como é a estrutura de comunicação para viabilizar toda essa demanda?
Temos hoje aproximadamente 48 pessoas dentro de comercial e marketing. Temos a Hipi Oss, uma agência de Goiás, especializada em modelo de time sharing e multipropriedade, e temos a Duo, que faz a parte criativa e de mídia da hospitalidade e entretenimento. Ainda trabalhamos com a Pmweb, uma parceira estratégia mais voltada para o e-commerce.
Nesse processo, a área de marketing também cresceu? E como ficou o mix de mídia?
Crescemos uma média de 150% de investimento em comunicação, isso passa muito por aquela fase das mudanças. Estamos com uma área de marketing duas vezes maior do que era em 2019. Diria que atualmente 70% da mídia é digital e tende a crescer para 85% em 2022. Hoje 50% da receita gerada para parque e resorts é call center, 20% é pelo site. Um dos desafios é migrar o call center para o e-commerce.
Diante de tudo isso, é possível dizer que vocês já voltaram aos níveis da pré-pandemia?
Dá para dizer melhor. Em maio deste ano ainda com restrição, mas agora já podemos operar com 100% seguindo os protocolos. No acumulado do segundo semestre estamos com média de 40% a 50% acima do mesmo período em 2019, sem pandemia. Pensando em ocupação e em receita gerada, voltamos com muita força. Passamos a ser, por exemplo, uma alternativa para o público que não viajou para fora do Brasil, para quem não fez cruzeiro ou não foi para o Nordeste. Passamos a receber um público que não conhecia Olímpia. Tomara que o mercado como um todo volte forte.
Como tudo isso que a empresa realiza em Olímpia tem impactado a imagem e os negócios na cidade?
Queremos tornar Olímpia um destino como é Gramado (RS) para o país, então estamos lançando programações com aéreos inclusos de outras capitais. Isso passa por produtos, campanha e marketing. Queremos reforçar a cidade do ponto de vista de desenvolvimento imobiliário, de emprego e um destino principalmente baseado em entretenimento. O lazer nacional está puxando a retomada.