Lara: acreditamos que essa proibição é impossível na era da comunicação

 

A Abap (Associação Brasileira de Agências de Publicidade) divulgou nesta quarta-feira (17) o primeiro balanço da campanha “Somos todos responsáveis”, iniciada há um ano pela entidade para debater sobre a proibição à publicidade infantil. O resultado foi um dossiê de 220 depoimentos de juristas, educadores, pais e especialistas em educação para crianças, além de cinco cartilhas elaboradas para os seguintes públicos: legisladores, professores, pais, publicitários e jornalistas. Entre os que deram depoimentos para a campanha estão o filósofo Mario Sergio Cortella, o ministro do Supremo Tribunal Federal José Antônio Dias Toffoli e a psicóloga Rosely Sayão.

A campanha teve início em fevereiro do ano passado e foi lançada para discutir o Projeto de Lei 5.921/01, que proíbe a publicidade dirigida à criança e regulamenta a dirigida a adolescentes, que aguarda parecer na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara. A campanha ficou centrada na internet, como um blog e perfis no Twitter, Facebook e YouTube. De acordo com a entidade, 1,7 milhão de pessoas foram impactadas com os posts ao longo dos últimos 14 meses.

Durante a ação, o blog “Somos todos responsáveis” recebeu cerca de 20 mil visitas. No Facebook, o perfil da campanha soma hoje quase 17 mil fãs e mais de 34 mil visitas. De acordo com números da Abap, 59% dos comentários nesta rede social são positivos. A Medialogue, agência contratada pela entidade para fazer a campanha, afirma que ainda está medindo o nível de favorabilidade à ação, mas que o resultado é bom. “No início, 95% do conteúdo que aparecia na página de buscas do Google era extremamente negativo à publicidade infantil”, afirma Alexandre Secco, presidente da Medialogue. “Com nosso trabalho, o material da campanha passou a ser exibido na primeira página de buscas do Google, o que mostra que o interesse pelo debate cresceu”, aponta.

De acordo com Luiz Lara, presidente da Abap, a proibição é um retrocesso. “Acreditamos que ela é impossível na era da comunicação”, diz. Segundo ele, o objetivo do trabalho foi gerar conteúdo “menos emotivo” sobre o tema. “A campanha é um debate sem radicalismo sobre como ter comportamento responsável como pais, educadores e publicitários. Antes havia muita polêmica e pouca informação”, acredita.

O executivo afirmou que o conteúdo publicitário ainda precisa evoluir e defendeu a autorregulamentação do mercado. Em março, o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) vetou o merchandising em programas infantis e apresentou novas regras para anúncios que tenham crianças e adolescentes como algo. Entre as medidas, o órgão proíbe, por exemplo, a linguagem imperativa na comunicação publicitária.

De acordo com Lara, o futuro presidente da entidade, Orlando Marques, irá continuar a campanha. Nos próximos meses, a Abap irá visitar o Congresso para apresentar o material coletado contra a proibição da publicidade infantil. Para o executivo, a ação legislativa não resolve o problema da relação consumismo e público jovem. “Querem demonizar a parte mais visível do processo, que é a publicidade”, argumenta. “Ela é um direito legítimo de expressão comercial da iniciativa privada”, defende.

A associação não disponibiliza números sobre o quanto os anúncios do gênero movimentam, mas afirma que é um montante baixo. As principais ações das marcas hoje estão concentradas na TV fechada e na promoção de experiências, principalmente em shopping centers.