O festival de tolices invadiu o ambiente corporativo – mundo e especialmente Brasil –, com pessoas apostando que daqui para frente, como cantavam Roberto e Erasmo, tudo vai ser diferente, e que a distância prevalecerá. Esqueçam. fake news tosca. A música dos Carlos, Roberto e Erasmo, tá certa! Daqui para frente, e passado esse pesadelo da pandemia, “tudo será diferente. Vamos reaprender a ser gente…”. Trabalhar próximos, juntos, decodificando olhares, gestos, sentimentos, pausas, expressões, não apenas através de uma telinha gelada que não comunica nada e ainda causa cegueira. Que revela, mal e parcamente, como somos, pescoço pra cima. “Mané, você desligou o botão do som…”. Lembra, pessoa de verdade, cabeça, tronco e membros. Coração e mentes. Olhos e mãos. Corpo. Vida. Ao vivo, live. Presencial!

Fogo é fricção, atrito. Inovação e luz eclodem no conflito. Contrapontos, discordâncias, presenciais, sempre! Trabalho em equipe, coletivo. Juntos! Pessoas têm propósito; equipes, missões. Propósito se cultiva e pesquisa a distância. Talvez. Missão cumpre-se, presencialmente, coletivamente, de mãos dadas, gritos de guerra e sob intensa emoção.

Pergunte às pessoas que vinham trabalhando assim antes da pandemia o que acham, o quão são tristes e sentem-se ignorados? Você já conversou com um faroleiro, isso mesmo, aqueles solitários que passam a vida morando num farol no meio do mar… Ou com o porteiro da noite de seu prédio, guarda-noturno, zelador de cemitério… Tudo o que era possível de ser feito a distância, e diante da impossibilidade física ou econômica de se fazer pessoalmente, já vem funcionando dessa maneira há anos e décadas. A pandemia não muda a essência do que quer que seja. Nem do trabalho, nem das pessoas, nem da vida.

Assim, e em partindo, todos correndo para o abraço. Tô com Érick Jacquin e não abro. Com a reabertura dos restaurantes, o tal do delivery de luxo tende a voltar, em no máximo um mês, ao que sempre foi e era antes da pandemia. A zero! Não existe restaurante a distância, não existe delivery para restaurante de verdade. Bobagem. Esqueçam. Assim como não existe educação a distancia para crianças. O sentimento geral dos chefes de cozinha é que tiveram de fechar os olhos e adotar as marmitas por sobrevivência. Perguntaram ao Jacquin, chef consagrado, se pretende manter o delivery, depois da pandemia. Quase voou na jugular do jornalista. Urrou: “Não! Chega! Isola! É o momento de resgatar o restaurante, um negócio verdadeiro e único. Tive prejuízos durante todo esse período, e o delivery, cá entre nós, é a maior dor de cabeça. Quando a embalagem chega revirada ninguém liga para o aplicativo de entregas pra reclamar. Ligam para o Jacquin… Além de assassinar verdadeiras obras de arte, delícias, prazeres… O tal do delivery é qualquer outra coisa, menos restaurante”.

O mundo levou séculos para criar o descanso do domingo. Outros 50 anos para muitos negócios, muito especialmente com o prevalecimento da sociedade de serviços, da tal da semana inglesa, semana de cinco dias. É isso. Quem sabe alguns negócios, depois de anos ou décadas, possam considerar algumas semanas de quatro dias por ano. Quem sabe a última do mês.

Repita comigo, por favor: Não existe trabalho a distância. Existem atividades que só podem ser realizadas a distância, e a tecnologia facilitou e em muito todas essas. Mas essas pessoas que não têm alternativa são, no mínimo, tristes. Parcela expressiva, depressiva. Alguns, no desespero, preferiram partir… Peço demissão e tô fora desse tipo de vida; vou procurar outras pessoas que têm a estranha mania de gostar de pessoas. Enquanto é tempo, e a sandice não tomou conta do mundo. Assim, todos correndo para o abraço, amanhã. Ou você acredita ser possível, também, o abraço a distância?

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)