Entro no Google e digito: “acomodação de terreno”. Caio num portal batizado de “SindicoNet”. Fala de “trincas em paredes, pilares, lajes”. Leio o primeiro parágrafo da explicação: “Em geral, o aparecimento de pequenas fissuras não é preocupante, já que a estrutura do prédio pode ir se acomodando ao terreno com o passar do tempo, especialmente se a edificação for nova – tiver menos de cinco anos – ou se houver grandes obras por perto, que também podem causar essas rachaduras em diversos locais…”.
No momento em que escrevo este artigo, a situação do país ainda é indefinida, mas todos os sinais encaminham para uma troca de comando. E a perspectiva de muito brevemente reencontrarmo-nos com um mínimo de luz e esperança.
De qualquer maneira, os estragos estão feitos. E é dentro de uma nova realidade que teremos de recomeçar ou dar sequência. Mais ou menos como esses temporais que alagam determinadas regiões da cidade, destroem móveis e pertences, mas não carregam a casa com tudo. E aí o que resta é arregaçar as mangas, proceder a limpeza, e, aos pouquinhos, no correr de meses ou anos, ir recomprando o que a chuva levou.
Diante dessa realidade definitiva, em vez de se ficar aguardando pelos “finalmente”, é melhor já providenciar o reposicionamento dentro dessa nova realidade. Como muitas empresas já vêm fazendo. Até porque cortar-se até o último milímetro de carne não vai levar a lugar outro que não seja a indigência, debilidade, fim.
Na coluna de Carlos Sambrana, na revista Dinheiro, encontro dois exemplos que ilustram com consistência e propriedade o não ficar esperando e ir se reposicionando.
O primeiro exemplo é da Sorridents, que acaba de ter seu “case” estudado pela Harvard Business School. Uma rede com consultórios dentários voltados para pacientes das classes C e D. Criada em 1995, pela dentista Carla Sani, seguia seu caminho naturalmente quando se deu conta de um novo público aterrissando em suas clínicas. Classes A e B!
Segundo Carla, em 2015, a Sorridents atendeu a 441 mil pessoas, realizando 2,2 milhões de procedimentos. E revela a foto: “antes, 2% dos clientes eram do topo da pirâmide, agora já representam 17%”. E, em 2016, serão 25%. Diante dessa nova realidade e dos fatos, a Sorridents reorientou sua busca para os próximos consultórios, considerando o novo público “submergente”. Procedendo, claro, algumas adaptações e aprimoramentos nos serviços.
O outro exemplo é da Kroton, a maior rede privada de ensinos do Brasil, com mais de 500 mil alunos em 120 unidades. Para perplexidade dos céticos, e dos acionistas que se desfizeram de suas ações, fechou o ano com uma receita líquida de R$ 5,26 bilhões, contra R$ 4,82 bi de 2014. E um lucro líquido de R$ 1,78 bi, contra R$ 1,37 bi de 2014. Crescimento de 9% nas receitas e 30% no lucro! E aí todos se perguntam qual a razão do milagre?
Não teve milagre, teve ação. Em vez de ficar se lamentando, o Kroton fez o que tinha de ser feito. Aceitar a nova realidade e se reposicionar. Conforme explicou Rodrigo Galindo, presidente do grupo Kroton, a Carlos Sambrana:
“No começo de 2015, nos perguntamos o que podíamos fazer para combater a crise. Decidimo-nos por focar no que estava sob nosso controle. A redução do FIES foi anunciada em dezembro de 2014. Na primeira semana de fevereiro de 2015, já tínhamos um produto de financiamento próprio. O aluno paga 50% da mensalidade até completar o curso e o restante nos outros quatro anos…”
Sorridents e Kroton também tomaram outras providências, mas, entre esperar para ver e acompanhar protagonizando, optaram pela segunda alternativa.
Logo o terreno vai se acomodar. E todos os que pararam para esperar vão ter de arcar com um custo adicional: o do tempo perdido. Até porque, contrariando o ditado, Quem Espera Nunca Alcança… Nunca!
Francisco A. Madia de Souza é consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing