Depois da rusga gerada pelo fato de o comercial “Perseguição”, da Leo Burnett para Tintas Coral, ter sido apontado, pela NeogamaBBH, como cópia da idéia visual do filme “Breeze”, da BBH londrina para o gim Gordon’s, da Diageo, as duas agências chegaram a um acordo.
Uma reunião entre Renato Loes, presidente da Leo Burnett e Alexandre Gama, presidente da NeogamaBBH, na última terça-feira (11), levou à seguinte solução: a Leo foi aconselhada a suprimir a cena comum aos dois comerciais, ou seja, a de um semáforo, assim como subtrair os números, que em ambos os filmes se desprendiam das imagens.
As mudanças foram feitas, o que garantirá que o filme brasileiro continue a ser veiculado até pelo menos o fim deste mês, como estava previsto no plano de mídia elaborado pela Coral e sua agência.
Os investimentos das Tintas Coral na campanha foram de R$ 8 milhões (a verba deste ano é de R$ 42 milhões). Na ocasião, o anunciante afirmou não ter conhecimento das semelhanças entre os dois filmes e estar “completamente satisfeito com a campanha”.
A campanha da Coral foi ao ar no dia 2 de outubro, ao passo que a da Diageo foi ao ar pela primeira vez no dia 22 de novembro, no Reino Unido. Tanto a Leo quanto a Neogama fazem parte do grupo Publicis, o que facilitou um acordo com vistas a minimizar os prejuízos da primeira, diante, por exemplo, de uma possível suspensão.
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Visual do filme londrino “Breeze”, da BBH para Diageo, e de “Perseguição”, da Leo Burnett para Coral, causa discussão entre agências
Roseani Rocha
Quem assiste aos dois filmes percebe, de fato, uma semelhança grande entre eles, principalmente no que diz respeito ao seu formato visual. Trata-se do comercial “Breeze” da BBH de Londres para o gim Gordon’s, da Diageo, premiado este ano com Leão de bronze, em Cannes, e do filme “Perseguição”, da Leo Burnett brasileira para as Tintas Coral.
A semelhança entre as duas peças foi apontada pela Neogama, agência do grupo BBH, que afirma, ainda, que a presença de uma cena “exatamente igual à do original de Gordon’s: a cena do semáforo”, corrobora o uso de uma mesma idéia.
Num primeiro momento, a Leo Burnett afirmou que seu filme estava pronto desde o início deste ano. A Neogama rebateu a justificativa com a informação de que o filme para a Gordon’s teve sua primeira veiculação no dia 22 de novembro de 2004, no Reino Unido, passando logo a ser bem divulgado no trade. “A anterioridade da idéia e da veiculação do comercial de Gordon’s da Diageo, portanto, é evidente”, dispara Alexandre Gama, presidente da Neogama.
Efeitos
Os dois comerciais usam efeitos de animação gráfica, e é como se a câmera passeasse em ritmo acelerado por um ambiente urbano. No desenho de que são feitos os comerciais aparecem uma série de números, que se misturam e ajudam a compor as imagens – “os números das cores, como nos livros de colorir, sugerindo sua importância pela ausência delas”, explica Gama.
Praticamente, os filmes são monocromáticos, aparecendo cor somente em um detalhe. No caso do filme da Leo Burnett, um rapaz nota o vermelho da blusa de um senhor e passa a segui-lo pela cidade e se entristece ao perdê-lo de vista, quando aquele entra num trem do metrô, mas assim que se abaixa, já numa praça, para amarrar o tênis, repara o mesmo vermelho vivo nas flores de um jardim e volta a alegrar-se.
No primeiro comercial, os números vão se desprendendo das imagens e passam a voar como um enxame de abelhas e vão todos em direção a uma garrafa de Gordon’s, ao lado da qual existe um copo, passando assim a colorir ambos.
A ação da Diageo é amarrada com a assinatura “Clear yet colorful” (claro, mas vívido) e na da Coral, o filme é concluído pela locução “Escolha uma cor. Qualquer cor”.
A campanha da Leo para a Coral foi ao ar no último dia 2 e deve – ou deveria – permanecer em veiculação até o fim do mês.
Além do filme, que tem versões de 30 e de 45 segundos para TV (aberta e paga) e cinema, foram criados anúncios para as principais revistas de decoração e arquitetura, ações para internet e mídia exterior.
Felipe Massis e Alexandre Scaff assinam a criação e Ruy Lindenberg, a direção de criação do comercial, produzido pela Vetor Zero, com direção de Nando Cohen e trilha da S de Samba.
Grupo britânico
A Tintas Coral, que passou a fazer parte do grupo britânico ICI, em 1996, consumiu na campanha R$ 8 milhões, dos R$ 42 destinados a ações de marketing para o ano de 2005, no Brasil. Questionada sobre o caso envolvendo o comercial, a empresa, que é cliente da Leo Burnett desde 2001, afirmou estar “completamente satisfeita com a campanha, que atende completamente às expectativas da marca”. A Coral declara, também, não saber da semelhança entre os dois comerciais.
Segundo informações da Neogama, o grupo BBH ainda avalia a situação, antes de tomar qualquer medida, pois alguns fatores devem ser levados em consideração, entre eles, o fato de a Diageo ser um cliente comum tanto à Leo quanto à BBH, pois nos locais onde esta última não possui operação, produtos da companhia de bebidas são atendidos pela Leo Burnett.
Além disso, tanto a Leo quanto a BBH pertencem a um mesmo grupo, o Publicis.
Ruy Lindenberg, vp de criação da Leo, revela que a campanha da Coral foi aprovada em junho e admite haver grande semelhança entre as duas. “É um problema acontecer isso, mas vamos tentar consertar a situação o mais rapidamente possível. Não houve má intenção”, declarou Lindenberg.
O publicitário conta que chegou a conversar com Alexandre Gama, na última sexta-feira, assim que voltou ao Brasil de uma viagem feita a Miami. Para Ruy, o impasse deve ser resolvido somente entre as agências.
Inquirido sobre se a veiculação da campanha para a Tintas Coral, prevista para durar até o fim de outubro, seria suspensa, Lindenberg declarou que a questão ainda ia ser discutida internamente pelos profissionais da Leo Burnett.