Quando Akio Morita partiu, a Sony ficou órfã. Continua até hoje. Meses atrás, despediu-se do Brasil. Para os jovens, a Sony não quer dizer absolutamente nada. Para os mais andados, apenas alguma saudade sem grandes e fortes emoções… Um dia, Akio Morita, físico pela universidade de Osaka, ouviu falar de um tal de transistor. Visitou o criador do transistor, Laboratório Bell, que acreditava ter em suas mãos importante inovação, mas que não sabia o que fazer. Comprou a invenção por US$ 25 mil, no ano de 1953 e, quatro anos depois, lançou os primeiros rádios transistores. Produtos menores, e mais baratos.
Sua empresa tinha um naming grandão, “Tokyo Tsushin Kogyo Kabuishiki Kaisha”, e decidiu-se por um mínimo, que começasse com uma consoante forte e remetesse a som: Sony. Um dia, visitando lojas nos Estados Unidos, entendeu que o made in Japan significava quinquilharias. Emblematicamente representados pelo guarda-chuva de papel crepon colocado para enfeitar e decorar sorvetes. “Era o que de melhor o Japão fabricava e vendia para os americanos”, escreveu Morita.
Decidiu mergulhar de cabeça no design. Fez produtos lindos, mas que ficavam perdidos em lojas multimarcas, e assim optou por lojas próprias e exclusivas com produtos Sony. Onde, e um dia, inspirou-se Steve Jobs anos depois para as suas Apple Stores. Morita partiu em 1999 e, definitivamente, não conseguiu enraizar o suficiente sua cultura de design e inovação em sua Sony. E aos poucos, ano após ano, a Sony foi perdendo o brilho, enfraquecendo-se e sendo superada pelas empresas da Coreia do Sul. No ano passado anunciou o fechamento de sua fábrica no Brasil, na cidade de Manaus.
Na declaração oficial, disse que depois de 48 anos iria fechar sua fábrica em Manaus no mês de março de 2021. Reconhecendo ter perdido competitividade em televisores, áudio e câmeras. Em depoimento ao jornal Valor, um varejista que vendia os produtos da Sony foi taxativo: “A Sony não tinha preço, competitividade zero. Só compravam um Sony os adoradores da marca – em número cada vez menor – e um público sempre numa faixa de idade acima de 40 anos. Não exercia nenhuma atração nos jovens…”.
A perda de magneto e atratividade da marca, os sintomas escancarados de envelhecimento galopante traduzem-se nos números globais da empresa. Há 10 anos a Sony detinha, por exemplo, no mercado de televisores, uma participação de 10,5%. Fechou 2019 com 4,2%. De quem brigava pela liderança hoje disputa a rabeira do ranking. Disparando na sua frente Samsung com 18%, TCL com 13% e LG com 11%.
Em seu livro Made in Japan, Akio Morita teve uma premonição do que levaria a Sony à decadência. Escreveu: “Quando você comanda uma grande indústria precisa manter o time da produção permanentemente informado e orientado sobre o que é relevante para o mercado, sobre o que os clientes valorizam. Não existe nada mais importante que isso. Trabalhar a cabeça de seus engenheiros…”.
De certa forma, dizendo, se começarem a isolar-se e concentrar-se no produto desenvolverão ótimos produtos – apenas e exclusivamente para vocês mesmo – e totalmente distantes do mercado e das demais pessoas. E arrematou: “Não vejo futuro para as empresas que não consigam inovar permanentemente. E existem três momentos e lugares onde a inovação é vital. Em tecnologia, no planejamento e desenvolvimento de produtos, e no marketing. Não é suficiente inovar em dois dos três. Tem de inovar nos três, sempre…”. E assim, e por não conseguir preservar esse ensinamento definitivo de seu criador, Akio Morita, a Sony mergulhou, de 10 anos para cá, num processo até agora irreversível de encolhimento. A Sony nunca mais foi a mesma depois da partida dele, Akio Morita. Akio Morita, seu nome é saudades.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)