“O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) não serve mais ao que se propõe: fiscalizar o mercado”. Esta é a opinião do Projeto Criança e Consumo, do Instituto Alana, que reagiu ao parecer da entidade sobre a denúncia feita contra uma campanha do McDonald’s, que foi veiculada no cinema durante o trailer da animação infantil “Rio”.
Segundo a representação, o comercial falava diretamente com crianças menores de 12 anos, o que feria o próprio Código de Ética do McDonald’s e o acordo de autorregulamentação firmado junto à Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) e à ABA (Associação Brasileira dos Anunciantes), em 2010. De acordo com a advogada e coordenadora do projeto, Isabella Henriques, no último dia 16 o órgão proferiu parecer sobre o assunto, no qual fez piadas com o conteúdo da denúncia, ao mesmo tempo em que fez comentários ofensivos ao Instituto Alana.
O documento, assinado por Enio Basilio Rodrigues e ratificado por todos os conselheiros, traz frases como “Vale a fantasia de trocarmos o nome Instituto por outro mais característico – a bruxa Alana, que odeia criancinhas”. E ainda: “Ao contrário dos EUA, aqui o McDonald’s não é vício, é aspiração. Cada vez mais crianças pedirão um brinquedo para o pai e este orgulhosamente dirá: Sim, eu posso. Queira ou não a Alana”.
Para a advogada, isso resume a falta de seriedade e de compromisso do Conar com a ética e com a sociedade brasileira. De acordo com Isabella, o primeiro problema com o Conar começou com a demora na análise do caso. Ela contou que a reclamação, que foi baseada em denúncias feitas por pais ao instituto, data de 14 de abril, mas a campanha saiu do ar antes do parecer do Conar. De acordo com a advogada, isso geralmente não acontece, a análise é feita entre 15 e 20 dias após o pedido. No entanto, neste caso, a decisão do Conar só saiu no dia 16 de junho e foi contrária ao Alana – arquivada por unanimidade.
No parecer, o Conar disse também que “não há por que considerar que haja arranhões ao código de ética na atitude do McDonald’s em promover seu McLanche Feliz, associando a possibilidade da criança consumir o alimento e adquirir o brinquedo. As fantasias ambientais de McDonald’s e do desenho animado se harmonizam, fazem parte do mesmo universo”.
Outro ponto do documento disse que: “a criança azucrina os pais por causa disso? Claro que sim! Crianças foram feitas para azucrinar e para isso existe, quando necessário, o famoso ‘não’, sem precisar ameaçar chamar a bruxa”. Ainda de acordo com o texto, “o Alana não tem o direito de decretar a hipossuficiência da família nos cuidados com os filhos, não tem o direito estalinista de tomar para si a gestão das crianças e de formatar seus hábitos”.
Segundo Isabella, o Alana ainda não decidiu se tomará alguma medida contra o Conar. Ela afirmou, apenas, que continuará atuando da mesma forma: “Vamos manter as denúncias feitas ao Ministério Público, Procons, Ministério da Justiça, entre outros”. Procurado pelo propmark, o Conar não quis se pronunciar sobre o assunto.
por Andréa Valerio