Amazon e Alibaba têm, no mínimo, duas semelhanças. Começando pelo naming. O primeiro nome escolhido por Jeff e Mackenzie Bezos para a Amazon, 5 de julho de 1994, foi Abracadabra. Expressão usada pelos mágicos. Mackenzie e Jeff escolheram esse naming para uma empresa de venda de livros pela internet. Um de seus advogados diz aos dois “a palavra não é boa, soa parecida com cadáver”. Nos finalmentes, encantado com o rio, com a região, e pelo fato de começar com a primeira letra do alfabeto, Amazon! 1999, Jack Ma funda sua empresa com 18 pessoas. Um ano antes, fascinado com a história de Alibaba e nos Estados Unidos, decidiu perguntar aos americanos o que achavam de Alibaba. E todos conheciam e disseram tratar-se de uma pessoa esperta, bondosa e voltada para os negócios. Amazon seria Abracadabra, de origem Celta, e a Alibaba confirmou-se Alibaba, personagem fictícia da Arábia pré-islâmica.

A segunda coincidência, o primeiro Natal das duas empresas. Uma tragédia! Bezos nos primeiros anos vendia apenas livros. No país de um dos índices de leitura mais elevados do mundo, Estados Unidos, emplacou na decolagem. No primeiro mês recebeu pedidos de todos os 50 estados americanos, e de outros 45 países. Em 1997 faz a primeira rodada de capitalização, com 2,5 milhões de livros no catálogo e vendas de US$ 148 milhões. A partir de 1998 reposiciona para marketplace e passa a vender CDs e DVDs. Em 2000, cria coragem e se reinventa com marketplace “full”. Vem o primeiro Natal e Bezos descobre que mar- ketplace é muito mais que uma vitrine. E que na cabeça de quem comprava a responsabilidade era da Amazon. As vendas do primeiro Natal foram um desastre. Alguns presentes para o Natal chegaram em abril… E ainda, de quebra, estoura a primeira bolha da internet. Na soma das decepções, fracassos e bolha, as ações da Amazon despencam de US$ 100 para US$ 6. O primeiro Natal da Alibaba, em verdade, não foi Natal. Foi a criação do Dia do Solteiro. 11.11. Ideia de converter o dia dos chineses solteiros no principal momento de compras daquele país. E se a Amazon naufragou na virada do milênio, o Alibaba repetiu o fracasso no dia 11 de novembro de 2012, 12 anos depois. Se o Dia do Solteiro já era uma realidade, o comércio eletrônico era uma megainterrogação. E, de repente, parece que, em 2012, eclodiu a consciência entre vendedores e compradores que o comércio eletrônico viera para ficar. E assim, todos decidiram-se por comprar e vender em 11.11.2012! Em 11.11.11 correu tudo dentro do esperado. Do 1 milhão de pacotes de 2010, para 22 milhões em 2011, e a certeza que não passaria de 30 milhões em 2012. Foram 72 milhões de pacotes! A logística naufragou. Em meio ao caos, aviões, trens e navios paralisados. Equipe de entrega e carteiros trabalharam dias seguidos com poucas horas de descanso. Produtos que levariam 24 horas para serem entregues… Duas semanas…

O segundo Natal da Amazon e o segundo Dia do Solteiro da Alibaba foram perfeitos! Nada atrasou mesmo com um movimento de compras algumas vezes maior. Prepararam-se. Mais que isso, caiu a ficha que um marketplace é responsável pela operação toda, e não apenas em fazer a aproximação entre quem quer vender e quem quer comprar e virar as costas. Ming Zeng, presidente do conselho da Alibaba: “Chocados com a força assustadora dos consumidores da China e apavorados diante da perspectiva de um aumento no volume de pacotes de 50%, todos, liderados pelo Alibaba, decidiram arregaçar as mangas em 2013”. Investiram em infraestrutura física e tecnológica. Na véspera, 10 de novembro de 2013, a apreensão era geral. Mas, deu tudo certo! 152 milhões de pacotes entregues em duas semanas. A maior parte, em 72 horas. Além de circunstâncias e parecenças na escolha do naming, denominação, Amazon e Alibaba jamais se esquecerão de um trágico Natal e Dia Do Solteiro. Marketplace não é só aproximar comprador de vendedor e depois tapar os ouvidos… É tudo! Tudo, e muito mais!

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
(famadia@madiamm.com.br)