Guilherme Leal, Luiz Seabra e Pedro Passos. Leal no centro. Esboçam sorrir. Sorriem. Os anos passaram. Uma rápida, fugaz e merecida recaída na adolescência. A emoção de um momentâneo rejuvenescimento. Época Negócios, julho 2017. Capa.
Raquel Grisotto assina a matéria. Rogério Albuquerque fez as fotos. A foto. Raquel escreve, “Enquanto aguardava o início da sessão de fotos para esta reportagem, Antonio Luiz Seabra, fundador da Natura e ainda um de seus principais controladores, sacou do bolso do paletó um pacotinho de lenços de limpeza facial. Usou um deles e ofereceu os demais ao time que o acompanhava. Disse, “é bom para não sairmos com a pele brilhando demais”. Leal, sorrindo, afirma: “Quem emana luz aqui é você, Luiz. Pode fazer qualquer coisa que estará sempre brilhando…”.
Como diz Raquel, “meninos em dia de festa”. Acabavam de comprar a inglesa The Body Shop. E assim, depois de algumas tentativas, segue a Natura em uma nova tentativa – talvez a mais consistente e ambiciosa de todas – de conquistar o mundo.
Se existia alguma coisa em comum entre as duas empresas, Body Shop e Natura, eram seus líderes. Anita e Luiz Antonio. Mais em crenças e pensamento, não necessariamente na forma de agir.
Anita Roddick, 1942, Sussex, Inglaterra, filha de imigrantes italianos. Hippie, ativista, lutava pelo desarmamento e marchava contra a fome. Foi expulsa de um Kibutz em Israel, trabalhou para o Herald Tribune e para a ONU, foi professora, esteve presente em Altamira, Brasil, em 1989, na Conferência dos Povos da Floresta. Sempre foi contra a globalização. Tinha 34 anos quando criou a The Body Shop. Morreu de hemorragia cerebral, aos 64 anos, em 10 de setembro de 2007, decorrente de hepatite C. Vendeu a sua empresa para a L’Oréal em 17 de março de 2006… De quem a Natura acaba de comprar.
Luiz Antonio Seabra também nasceu em 1942. Talvez aqui a maior coincidência. Paulistano, economista. Aos 27 anos, sete antes de Anita, no dia 28 de agosto de 1969, criou aquela que seria a Natura, numa pequena loja da Rua Oscar Freire, na cidade de São Paulo. Leitor voraz, filósofo, provedor-master de conteúdo de sua empresa: “Deveríamos pensar em nossas companhias não apenas como operações concretas, mas como um projeto de alma”. Repete sempre, ano após ano: “Estou cada vez melhor”. É no que acredita, “Independentemente de uma série de informações genéticas, como diz Freud, somos habitados pelas pulsões de Eros e Thanatos, vida e morte. Quando se diz, estou cada vez melhor, você erotiza, ilumina com amor, um olhar, um pensamento e suas circunstâncias. Você vence a sombra. Convocando a beleza, vence a tendência à banalização da vida, que por vezes predomina em nossa volta”.
Como o espaço é curto, direto à pergunta. O que eu acho? Se tivesse no lugar dos três, depois de 10 anos de monotonia e desencanto após a abertura de capital e ter de prestar contas aos homens de olhos vermelhos, talvez fizesse o mesmo. Prancha no bagageiro e em direção ao mar.
Mas os riscos sãos descomunais. O pior momento das duas empresas, negócios semelhantes na aparência e território, mas radicalmente diferentes nas práticas e plataformas. Razões, motivos e causas parecidas. E, ponto.
Emoções à parte, em meu entendimento, a Natura deveria mergulhar mais fundo ainda no que, além da base conceitual e propósito, claro, lhe deu fama e fortuna: a venda direta. Acima de qualquer outra coisa, é o que é.
Seabra comenta sobre a única visita que Anita Roddick fez à Natura: “Havia respeito e interesse mútuos. Ela deixou claro na visita o quanto admirava a Natura. Imagine como nos sentimos lisonjeados. Lutar para revivificar o espírito de Anita Roddick no que ele tinha de mais construtivo para a sociedade e para a sua empresa é algo que vai nos encantar…”.
Que assim seja, que todas as forças da natureza – mote maior dos dois – conspirem a favor.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)