As produtoras são espécie de termômetro do mercado. Se a produção começa a fluir é sinal de que as coisas caminham. Durante a pandemia, situação agravada em São Paulo com o aumento do número de casos por Covid-19, que provocou a entrada do estado na fase vermelha, as produções publicitárias ficaram no modo stand by. Agora, com a flexibilização do protocolo, começam a se expor mais, embora não abandonem os cuidados.
Marianna Souza, presidente-executiva da Apro (Associação Brasileira da Produção de Obras Audiovisuais), afirma que aos poucos estão flexibilizando as medidas restritivas, seguindo as orientações previstas no Plano São Paulo. “Retornamos com a capacidade de equipe nos sets reduzida a 25% e esperamos que na próxima semana possamos flexibilizar um pouco mais esse número”, argumenta, acrescentando: “É importante ressaltar que a situação de fase vermelha que vivenciamos nesta segunda onda da pandemia é completamente distinta do que vivemos no passado”. Segundo ela, foi possível constatar a diferença analisando a curva de casos de Covid dos profissionais envolvidos nas produções dos associados. Agora, finalmente, observam a curva caindo e o número de casos entre os profissionais desacelerando. “No entanto, estamos sempre alerta e monitorando os números para que possamos mitigar os riscos para todas as partes envolvidas”, diz.
Já Marcelo Altschuler, produtor-executivo da Saigon, lembra que, em abril, o mercado esteve aquecido. “Incrivelmente aquecido. Pelo menos em comparação ao que aconteceu durante o primeiro trimestre inteiro, que ficou praticamente parado”, revela.
Ingrid Raszl, managing director da Stink Films, vai na mesma linha de Altschuler, afirmando que há algumas semanas orçavam filmes para quando São Paulo saísse da fase vermelha e, após a flexibilização do protocolo, alguns projetos já aprovados puderam ter suas produções e filmagens agendadas.
Daniel Soro, sócio-diretor da Piloto, comemora porque já está trabalhando, “o que é muito importante”. “Anunciantes, agências, produtoras e equipes assimilaram bem mais a situação, as dificuldades e as possibilidades do momento em que vivemos. Mais de um ano depois do começo da pandemia, acredito que o processo de produção ainda esteja limitado e desconfortável para todos. Estamos mais acostumados e, principalmente, conseguindo realizar alguns bons filmes”, conta.
Cris Almeida, produtora-executiva da Hogarth Brasil, afirma que tem sentido “os motores se aquecendo novamente e a demanda de orçamentos tem aumentado bastante, o que é o primeiro sinal de retomada”. “Outro índice interessante é que muitas campanhas que ficaram ‘on hold’ estão voltando a todo vapor”, declara.
Beatriz Basilio, também produtora-executiva da Hogarth Brasil, vai além e destaca que, no Brasil, se percebe um aquecimento atrelado ao afrouxamento das restrições e não necessariamente à melhora da economia. “Como na Hogarth produzimos campanhas locais, regionais e globais, já havíamos percebido uma retomada econômica real na Europa, Ásia e Estados Unidos. Agora, vemos projetos globais voltando a ser produzidos no Brasil. Neste momento, por exemplo, estamos em um projeto com a Inglaterra”.
Marcella Feo, produtora-executiva da Boiler, também fala que estão aos poucos retomando as produções, mas sem deixar de seguir os protocolos de segurança. “A produção nessa fase é desafiadora, poucas pessoas no set e poucas horas de diária, mas ainda assim sinto que as produções estão voltando”.
Marianna afirma que tem observado um aumento no volume de orçamentos, muito impulsionado por datas comemorativas, como a Páscoa e o Dia das Mães. “Essas datas servem sempre de estímulo para um incremento nas produções”.
Altschuler, no entanto, declara não saber se pode dizer que houve aumento, “já que durante o primeiro trimestre inteiro quase não houve produções”. “Parece que havia uma demanda reprimida por vários fatores e, agora, estão sendo contempladas para valer. A insegurança permanece na medida em que ainda não está claro como a pandemia vai se comportar por aqui. Pelo jeito, infelizmente, é possível que essa intermitência persista ainda por um tempo, enquanto a pandemia não for controlada de acordo”, arrisca.
A executiva da Stink acredita que “houve rápida recuperação”. “Muitos filmes que não podiam ser feitos remotamente estavam represados e aguardando a flexibilização para poderem ser realizados”, relata.
Marianna fala ainda da rigidez com os protocolos de segurança. “O ano passado nos mostrou que os protocolos funcionam. O set de filmagem se mostrou um lugar de pouco contágio e de muita rigidez com os protocolos. Então, entendo que se queremos continuar filmando e sem contaminação o único caminho é seguir o protocolo com rigidez. Não é fácil! Produções são necessariamente uma atividade que inclui muita gente e muitas horas de trabalho”, analisa. Mas, segundo ela, aos poucos vão descobrindo outras formas de fazer e otimizando nossas necessidades.
Altschuler agradece aos céus os protocolos do setor, “chancelados pelas principais entidades que o representam, pois se mostrou superseguro e eficiente, cumprindo-se de maneira correta, o que refletiu no baixíssimo número de casos ao longo dos últimos nove meses”. “Quanto à rigidez, acredito que ela permanece, pelo menos aqui na Saigon, o que mudou foram alguns critérios, que permitiram que a maior parte das produções inviáveis até o momento pudessem ser retomadas”, argumenta. Ele cita como exemplo, autorizações para filmar em lugares públicos, durante o dia, com algumas pessoas no set, pouco ainda, mas o suficiente para que o mercado acordasse de um período no qual se orçou muito, se negociou bastante, mas que na hora h não iam adiante. “E agora estão indo”.
A executiva da Stink Films também fala do protocolo, que continua rígido. Segundo ela, é o mesmo com relação aos cuidados, higienização, testes a cada quatro dias, controle sanitário, porém “ao sair da fase remota devem ter uma equipe maior envolvida no set de filmagem e presencialmente”.
Soro fala que agora, durante a flexibilização em São Paulo, as produções foram retomadas com um “protocolo ainda mais rígido do que antes”. “Sabemos que os números da pandemia parecem estar melhorando, mas ainda vivemos num patamar que exige todo o cuidado das produtoras e de todo o setor”.
“Mesmo com a mudança da fase em São Paulo, a situação continua bastante crítica e o mercado de produção publicitária tem se organizado de maneira bastante séria em relação à mitigação de riscos, o que faz de nós um dos segmentos com os menores níveis de contaminação”, cita Cris Almeida.
E Beatriz Basilio acrescenta: “Ao mesmo tempo, pode existir uma percepção de que os protocolos estão menos rígidos pela variedade de estilos das campanhas publicitárias. Mérito das produtoras, que encontraram novas formas de filmar e de cocriar com os clientes, respeitando os protocolos. Tivemos de nos reinventar”.