Cristiano Ronaldo se tornou o primeiro jogador a disputar cinco edições da Eurocopa e, com dois gols em cima da Hungria, na semana passada, ele ultrapassou o francês Michel Platini em números de gols: dez, no total. Mas CR7 foi além das páginas e sites esportivos por conta de um gesto, longe das quatro linhas.

Durante coletiva, CR7 tirou duas garrafas da Coca-Cola do alcance das câmeras e ainda falou: “Bebam água, não Coca”, enquanto segurava uma garrafa de água mineral. A imprensa internacional chegou a cogitar a possibilidade de a gigante ter perdido US$ 4 bilhões por conta do gesto de Ronaldo, muito embora as ações já estavam em queda antes mesmo de o episódio acontecer.

“Bebam água, não Coca”, disse Cristiano Ronaldo antes de a coletiva começar

Depois do português, foi a vez do francês Paul Pogba, que é mulçumano, repetir o gesto – desta vez com uma garrafa de Heineken (zero álcool, detalhe).  E como se não bastassem os dois jogadores, na última quarta, o italiano Manuel Locatelli moveu as garrafas de Coca-Cola para o lado e colocou uma de água na frente.

Fábio Wolff, sócio-diretor da agência de marketing esportivo Wolff Sports, defende que as federações, e outras entidades de esportes em geral, precisam se blindar por meio de contratos. “Tais regras devem ser muito bem costuradas juridicamente para que, caso um ou outro atleta – que vamos chamar de ‘indisciplinado’ – venha a se posicionar de forma contrária aos protocolos da competição, que ele seja punido”, afirmou.

Wolff não acredita que esse ‘movimento’ possa avançar, no entanto, reitera a necessidade de regras e de multas, quando for o caso.  “Se um atleta não quiser participar de um campeonato porque lá estará exposta uma marca que ele não deseja ter associada à sua imagem, esse atleta que não participe”, disse.

Fernando Trein, professor de marketing esportivo da ESPM, também acredita que as entidades ligadas ao futebol têm de se prevenir.

Paul Pogba, que é mulçumano, retirou uma garrafa de Heineken, um dia após gesto do português

“As organizações precisam se fortalecer para que os contratos não permitam a escolha de determinada marca por cada jogador. Ao mesmo tempo, as empresas precisam ficar atentas a esse movimento”, falou.

José Maurício Conrado, professor de publicidade e propaganda da Universidade Presbiteriana Mackenzie, vai por um caminho diferente de Wolff e Trein. Para ele, não existe uma forma de blindar episódios assim. 

“Até porque são personagens que se constroem e ficam muito poderosos. A grande questão é que as marcas estejam preparadas para lidar com gestão de crise. Elas precisam pensar em respostas rápidas, pensar em questões éticas e tentar entender o conceito macroambiental”, disse.

MODELO DE PATROCÍNIO
Uma das possibilidades levantadas por Marcelo Boschi, coordenador do MBA de Marketing Esportivo da ESPM, seria reconsiderar o atual modelo de patrocínio. Para ele, a lógica desse tipo de entrega pode abrir brechas até mesmo para outras manifestações semelhantes.

“Pode um atleta, por exemplo, afetar um patrocinador que está contribuindo literalmente para a renda e para a rentabilidade daquele evento? Isso tem uma discussão que transcende a atitude. Esse comportamento pode gerar rupturas graves”, disse. 

UEFA E PATROCINADORES
O diretor da Euro2020, Martin Kallen, afirmou que a “Uefa lembrou às seleções que os patrocinadores são essenciais para a concretização do torneio e para garantir o desenvolvimento do futebol em toda a Europa, incluindo para jovens e mulheres”.

Já a Heineken informou que respeita “totalmente a decisão de todos no que diz respeito à bebida de sua preferência”. Por fim, a Coca-Cola preferiu não se manifestar sobre o assunto.