Sempre estratégica, a área de recursos humanos já vinha evidenciando sua importância e protagonismo nos últimos anos com o fortalecimento de discussões sobre inclusão, diversidade e equidade. Agora, os profissionais que cuidam de profissionais encaram uma situação inédita: pensar no momento pós-pandemia, reestruturar o dia a dia mantendo os times motivados e em segurança. Ainda que muitas agências já tivessem operações remotas em clientes e/ou times em home office, ter toda a equipe em casa de uma hora para outra exigiu uma mobilização física e emocional de todos rapidamente. Já o retorno será gradual.
Fernanda Coelho, CTO do Publicis Groupe no Brasil, que entre outras marcas tem DPZ&T, Leo Burnett Tailor Made, Publicis Brasil, Talent Marcel, Sapient AG2, One, Vivid Brand e MSL Andreoli, afirma que o foco segue na saúde e na segurança das pessoas. As decisões serão tomadas com calma e, mesmo após junho, a prioridade segue sendo o teletrabalho. “Isso significa que pessoas de grupos de risco, que vivem ou cuidam de pessoas de grupos de risco, pessoas que precisam utilizar transportes públicos ou aquelas que simplesmente não se sentem confortáveis em voltar para a agência poderão continuar trabalhando a distância”, diz.
As pessoas que não se sentem bem trabalhando de casa também estão sendo consideradas. “Para elas, estamos há mais de um mês desenhando um plano de reabertura que seguirá as mais rígidas recomendações das autoridades de saúde e as guidelines do grupo. O uso do espaço físico respeitará as regras de distanciamento, o uso de máscaras e todos os demais cuidados”, completa.
Ana Lacerda, diretora de RH da Hogarth Brasil, acredita que também é preciso adaptar o conceito de estratégia. “Estamos lidando com uma situação de extrema pressão psicológica, em que o incerto faz parte da rotina. Antes da pandemia, bem-estar era considerado um pilar dentro do RH e tinha o mesmo peso que engajamento, performance e atração de talentos. Agora, tornou-se a pedra fundamental de sustentação das nossas ações, que são trabalhadas nas dimensões escutar, comunicar e apoiar”, diz.
A próxima etapa é preparar o time para uma nova realidade. A agência está monitorando os colaboradores com enquetes e pesquisas internas para entender quais os medos e anseios. “E trabalhamos intensamente num processo de comunicação para que nossos colaboradores fiquem sempre cientes das decisões”, diz.
A nova forma de trabalhar é um dos desafios apontados por Rita Steigleder, diretora de RH da W3haus. “O que temos hoje não é um home office ‘normal’. Estamos todos isolados em nossas casas, sem muitos estímulos ‘concorrendo’ com o trabalho. Não temos como sair e ir ao cinema, teatro ou confraternizações com os amigos. O ‘novo normal’ terá uma infinidade de variáveis que precisaremos considerar”, indica.
No momento, o Ecossistema Haus estuda caminhos como formatos híbridos para chegar num formato com o mínimo de riscos ao time, cuidando de seu bem-estar físico e emocional, que permita a entrega das demandas e necessidades dos clientes. “O sucesso dependerá do engajamento e da construção conjunta, evitando deslocamentos desnecessários e fazendo melhor uso de recursos tecnológicos para a comunicação continuar alinhada e eficaz.”
Volta estruturada
Para a AlmapBBDO, o retorno à agência não será da forma tradicional. Monica Kamimura, head de RH, explica que a pandemia fez repensar o modelo de trabalho além dos espaços físicos e seus impactos. Segundo ela, a agência se reinventou nesses dias de quarentena e a volta terá um novo modelo de utilização do espaço e de integração dos profissionais. “Não temos pressa em ter um plano 100% de retorno ao prédio da agência. Já estamos estudando isso, mas com o objetivo de que esta volta seja muito bem estruturada e sempre preservando a saúde e o bem-estar das pessoas. Fizemos, por exemplo, um levantamento interno para entender as necessidades dos nossos colaboradores, o que será respeitado”, conta.
Camila Fidélis, gerente de gestão de pessoas da Africa, explica que mesmo com o anúncio do governo sobre a flexibilização progressiva da quarentena, para a segurança de todos, a Africa continuará com home office integral. Um comitê de gerenciamento de crise acompanha diariamente a evolução da situação na cidade e no país e “existe um planejamento interno muito detalhado para garantir a saúde e a segurança das pessoas”. “Tais cuidados envolvem manuais, protocolos e treinamentos sobre comportamentos seguros e atenção à compra de itens para garantir a prevenção. Manter todos informados é fundamental e é o que estamos fazendo regularmente. Mesmo quando definirmos uma data, esse retorno acontecerá aos poucos, começando com 20% das pessoas da agência e seguindo todos os protocolos de segurança das autoridades locais e os definidos pelo Grupo Omnicom”, diz.
O retorno também será gradativo na Lew’Lara\TBWA, como explica Elise Passamani, chief culture & operation officer (CCOO). “Nosso plano de retorno está pronto. Não temos pressa para voltar, pois a saúde de todos é o que mais nos importa e porque aprendemos que somos capazes de manter a agência 100% operante durante o home office. Quando a liberação acontecer, voltaremos de forma gradativa e o apoio dos nossos clientes e da rede TBWA nos dão tranquilidade”, explica. Até lá, a Lew’Lara investe na proximidade com os colaboradores. “Pudemos nos conectar com mais fre- quência e profundidade com vários deles. Este sentimento de pertencimento tem sido chave para manter união e motivação.”
Processo semelhante vive a F.biz, que vê o envolvimento do RH como crucial para o processo de retomada com planejamento, comunicação e implementação. Juliana Amorim, diretora de cultura e pessoas, conta que por enquanto não há a intenção de estimular as pessoas a voltarem para o escritório. “Isso tem sido falado nas lives com os sócios e também nas orientações diretas aos gestores: quem prefere manter o trabalho remoto por tempo indeterminado, terá essa opção. Antes de qualquer coisa, queremos que nossos colaboradores sintam-se seguros para circular pela cidade”, reforça.
Outros benefícios
Para amenizar a situação de isolamento social, desde abril a FCB Brasil investe em lives com aulas variadas para oferecer convívio ao time. Também há sessões de mindfulness, truques de mágica, aula de pôquer e lives de psicólogos. Sandra Denes, VP de RH da FCB Brasil, comenta a importância dessa atuação. “Sabemos que o momento atual é delicado e estamos fazendo o possível para que os nossos colaboradores não se sintam sozinhos e possam ter respiros durante o expediente em casa”, diz.
Hercules Pereira, head of culture da Purple Cow, destaca o Purple Update, projeto com convidados para debater o cenário fora da perspectiva da publicidade. Outra medida foi colocar o e-mail em segundo plano e ter a comunicação institucional prioritariamente via WhatsApp. “Também incentivamos os colaboradores a fazerem as chamadas com câmera ligada, e conversarem sobre o dia a dia e assuntos que não sejam de trabalho, mantendo a sensação de pertencimento”, comenta.
Na Mutato, que também tem oferecido palestras e aulas variadas, Eduardo Zanelato, head de cultura & comunicação, avalia que os próximos passos exigem um diálogo aberto e sincero. “Ninguém está com certezas, e acho muito pertinente colocarmos esse desconforto e nossas fragilidades na mesa. Isso passa por incertezas sobre o futuro, rendimento e performance. Não podemos achar que a entrega será a mesma de antes, todas as variáveis do jogo mudaram. Temos uma oportunidade de construir isso com as pessoas, deixando para trás aspectos tóxicos de culturas de trabalho.”
Por todo esse papel decisivo para os times, Monica Szanto, diretora de RH da DPZ&T, avalia que falar que a área de RH tornou-se “mais” estratégica neste momento não seria justo com o próprio RH ou com os gestores que atuam em colaboração e parceria com este. “Prefiro a ótica de que neste momento todos nós assumimos novos papéis e responsabilidade, e para se manter estratégico o RH precisa entender e acompanhar as prioridades do negócio (como sempre).”
