O conflito entre Elon Musk, dono do X (antigo Twitter), e o juiz Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), inflama a tentativa de se estabelecer os limites entre regulamentação das plataformas e censura, um imbróglio que parece estar longe do fim. No sábado, dia 6 de abril, Elon Musk perguntou a Alexandre de Moraes: “Por que você está exigindo tanta censura no Brasil?”.

A provocação foi lançada em um post antigo no perfil oficial de Moraes no X, que elogiava a nomeação de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça e Segurança Pública. Musk deflagrou, então, uma sequência de reclamações. Disse que a plataforma “foi obrigada, por decisões judiciais, a bloquear contas populares no Brasil”, e que todas seriam reativadas. Ameaçou ainda fechar o escritório brasileiro.

João Oliver, da ESPM: fica cada vez mais difícil aprovar um plano de mídia (Divulgação)

A reação de Moraes veio no dia seguinte. O ministro do STF abriu um inquérito contra Musk, determinando uma multa diária de R$ 100 mil por perfil desbloqueado, caso a plataforma descumpra as medidas judiciais. Elon Musk passou ainda a ser investigado no Inquérito das Milícias Digitais. Segundo Moraes, Musk articulou uma campanha de desinformação sobre o trabalho da Suprema Corte e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), incitando a “desobediência e obstrução à Justiça, inclusive, em relação a organizações criminosas”.

No Brasil, a Constituição Federal assegura a liberdade de expressão, mas proíbe o anonimato. Se a pessoa infringir leis ou desferir alguma ofensa, terá de responder pelos danos. Mas a internet faz as próprias regras, acobertadas por plataformas que lucram à custa de polêmicas. O poder econômico alimentado por algoritmos e dados seria inimaginável há poucos anos.

O professor de marketing e mídia João Oliver, da ESPM, lembra a força que o Twitter já teve na formatação de estratégias de mídia e marca. Mas não reconhece a mesma potência no X. “Há uma clara mudança, no antes e depois. Fica cada vez mais difícil aprovar um plano de mídia”, situa Oliver. Para o acadêmico, o desvio de curadoria e boas práticas da plataforma preocupa mais que a possível associação e conivência de anunciantes à postura de Musk.

Leia a matéria na íntegra na edição do propmark de 15 de abril de 2024