União pode criar potência na distribuição de conteúdo via plataformas mobile, vídeo e banda larga

 

Com a saturação de diversos mercados de TV paga já maduros, a região emergente e promissora da América Latina torna-se alvo da gigante de telecomunicações americana AT&T, que acaba de propor a compra da DirecTV, a maior provedora de TV paga do mundo, que tem uma base de 18,1 milhões de assinantes e é líder na região e controladora da Sky. A união das duas empresas – consideradas complementares em serviços – criará uma potência na distribuição de conteúdo via plataformas mobile, vídeo e banda larga.

Randall Stephenson, chairman, presidente e CEO da AT&T, disse durante coletiva que quanto mais estudava a possibilidade de adquirir a DirecTV, mais se entusiasmava com a América Latina. “É ainda um mercado com potencial gigantesco, especialmente no Brasil. O potencial de alcance nacional de wireless é grande e pretendemos investir na Argentina, na Colômbia e no Brasil. Há muitas mudanças ocorrendo na região e certamente trarão muitas oportunidades”, disse.

A proposta de compra – por US$ 48,5 bilhões – foi anunciada na semana passada e aponta diversas tendências deste mercado. A primeira delas é, sem dúvida, o potencial de expansão da TV paga em todos os países da América Latina, em especial o Brasil. Números da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) mostram que, somente em abril, foram feitas 170 mil novas assinaturas de TV paga no país. Aqui há potencial, nos próximos 10 anos, para triplicar o volume de assinantes, que atualmente é da ordem de 16 milhões, em uma população em torno de 200 milhões. A expansão no Brasil enfrenta a alta carga tributária e questões tecnológicas, barreiras bem mais extensas do que em países como o Chile, por exemplo, que possui um dos melhores serviços de TV paga da região.

Outra forte tendência é o crescente interesse, por parte das empresas de telefonia como a AT&T – e outras como Oi e Telefonica –, em oferecer um pacote de serviços que combine telefonia fixa, móvel, internet banda larga e TV paga, entre outros serviços adicionais. O consultor Carlos Caixeta, professor de Estratégia e Marketing do Ibmec em Minas, acredita que este é o interesse da AT&T, um dos maiores players do setor e interessada em ampliar sua participação de mercado valendo-se da larga experiência em outros países.

“Sua experiência no negócio inclui telefonia fixa, móvel, banda larga e acordos de parcerias com outras empresas de tecnologia. A empresa quer aproveitar o crescimento do mercado brasileiro e possivelmente expandir para outros países, incorporando outras companhias. Quem se esforçar para entender o mercado regional e tiver ações direcionadas, terá maiores chances de sucesso”, analisa Caixeta.

A terceira tendência é, sem dúvida, a corrida para oferecer melhores serviços na região, que ainda tem poucos players, mas consumidores ávidos por ampliar suas opções de entretenimento e, principalmente, ver melhorar a qualidade do que é oferecido. “Há uma preocupação crescente com a qualidade do serviço fornecido, fruto de enorme quantidade de reclamações junto aos órgãos oficiais. O foco da discussão, no entanto, não deve passar pela necessidade legislativa, mas pela diminuição da insatisfação dos consumidores do serviço”, diz o advogado Marcelo de Souza Moura.

Para fechar o negócio, a AT&T está disposta a abrir mão de sua participação de US$ 5 bilhões na America Movil (de Carlos Slim). Hoje a operação latino-americana da DirecTV corresponde a 95% do crescimento da base de assinantes – mas apenas 20% da receita. A empresa tem participação de 41% na Sky México – controlada pelo Grupo Televisa, que opera no México, América Central e República Dominicana. Também é dona da PanAmericana, que oferece serviços de TV via satélite em vários países da América Latina.

De cara, a união possibilitaria saltar para 70 milhões de clientes e acelerar o crescimento dos negócios de banda larga, wireless e de vídeo e a inovação no segmento – boa notícia especialmente para clientes da DirecTV, que verão saltar as possibilidades e a qualidade dos serviços ofertados.

Mike White, presidente da DirecTV, disse que uma das vantagens para a DirecTV será contar com a imensa rede de distribuição varejista do novo controlador. Espera-se que o negócio seja fechado ao longo dos próximos 12 meses, pois depende da aprovação dos stockholders da DirecTV e de alguns Estados americanos e países na América Latina.