Jurado brasileiro da categoria Industry Craft Lions, Marcelo Reis foi reconhecido pelo Advertising Age como um dos criativos mais premiados do mundo. Em 2011, ingressou na Leo Burnett Tailor Made como sócio e CCO à frente do time de criação da agência.

Em 2013, tornou-se co-CEO da Leo Burnett, mesmo ano em que a Leo foi a agência brasileira que mais conquistou prêmios em Cannes, com 22 Leões. Nascido em Belo Horizonte, Marcelo Reis chegou a São Paulo em 1999 e de lá para cá atuou em agências como W/Brasil, DM9DDB, Loducca, Y&R e Lew’Lara\TBWA. Em 2014, foi jurado em Cannes na categoria Press. Para ele, vão fazer falta este ano o debate com os jurados e a interação com as pessoas no Palais, onde “você acaba absorvendo o calor e as tendências do que está ocorrendo no mundo”. Atualmente, Reis está na liderança do movimento #VoltaPinheiros.

Desafios
O fato de o festival ser novamente online, sem dúvida, atrapalhará os julgamentos. Além de ser muito mais desgastante e solitário, o melhor dos dias em que estamos em Cannes são os debates, as integrações, as conversas entre jurados dentro e fora da sala do júri. Algumas ideias regionais precisam desses debates. Essa ausência, sem dúvida, prejudicará bastante o festival este ano. Não podemos esquecer que, com o festival sendo realizado no Palais, você acaba absorvendo o calor e as tendências do que está ocorrendo no mundo. Nesse exato momento, já julguei todo o shortlist que me foi oferecido nas plataformas virtuais, mas quero deixar claro que a preparação para Cannes não acontece na véspera do festival. Nem meses antes. Também não começa quando você é convidado para ser jurado. Isso, na verdade, é algo que se desenvolve durante toda a sua carreira, seu ano, sua vida. Só assim, você está apto para ser convocado para o júri do mais importante festival de criatividade em todo o mundo.

Critérios
Não existe outra forma de avaliar a pertinência e a originalidade de uma ideia. Ou ela é boa ou é ruim, o resto é filosofês e numerologia. O Digital Craft Lions celebra a arte tecnológica. Os trabalhos inscritos terão de demonstrar forma e função excepcional em um contexto digital; ou seja, um trabalho com design impecável, execução magistral e excepcional experiência do usuário criado para todos os ambientes digitais. Os critérios considerados durante o julgamento serão predominantemente a execução, experiência e, óbvio, criatividade.

Expectativa
Não tenho, no presente momento, a menor noção de como será o resultado de Cannes este ano. Não sei se os jurados serão mais complacentes ao avaliar as peças, devido à pandemia ou mais frios devido justamente à falta de debates e trocas de opiniões que só o julgamento presencial permitiria. Apenas na etapa final e coletiva dos julgamentos é que poderei avaliar o tom dos trabalhos que competem este ano. Como são quatro grupos de jurados, sendo que um deles é “fantasma” (quer dizer que não participará do debate final), poucas peças brasileiras passaram por mim. Também desconheço se neste ano está existindo uma seleção de peças por jurado para evitar votos tendenciosos por país. Estou completamente por fora. Por isso afirmo que só terei condições de fazer essa avaliação mais criteriosa quando tiver em mãos o shortlist. Até lá, prefiro evitar de dar palpites.

Brasil
Quanto ao desempenho brasileiro este ano, acredito que, como sempre, será bom. A pandemia parece que deixou nossas agências ainda mais inovadoras, apesar do desgate que estamos sofrendo pela carga excessiva de trabalho e pelo improvisado “working from home”. Mas ainda não tenho nenhuma pista da performance brasileira na minha categoria, só na fase final aberta poderei avaliar.

Marcelo Reis: “O melhor de Cannes são os debates e as conversas dentro e fora da sala do júri”/Foto: Divulgação