Desde que o Bozo, com suas conversas para boi dormir no cercadinho, suas lives de boteco da zona, suas leituras dificultosas de textos xoxos no teleprompter e seus discursos improvisados de lunático, começou a dar o tom da campanha da reeleição, ficou no ar a impressão de que o marketing político tinha sido abatido a caneladas. E teríamos de conviver com um festival de baixarias, que dispensaria qualquer profissionalismo.

Mas não. Como num prenúncio de primavera, eis que brotam novas expressões de civilidade, devolvendo conteúdo e estética de qualidade à comunicação.

Antes de falar nas peças veiculadas com propósito eleitoral, vale o registro da “Declaração à Nação”, que evitou que a Bolsa de Valores derretesse e a alta do dólar jogasse a economia brasileira num buraco sem fundo.

Essa notinha, singelamente salvadora, de dez itens, teve o dedo verde de Elsinho Mouco, marqueteiro de Michel Temer, na sua elaboração. Por isso, terá sido devidamente dosada para ser, ao mesmo tempo, equilibrada, clara e, ainda, cumprir o cruel desafio de fazer sentido para a simploriedade do discurso bozista.

Só os bons profissionais alcançam essa combinação inteligente entre conteúdo e forma, desenhada na medida para o cliente.

O que, aliás, estão fazendo outros já contratados, como João Santana que, rapidamente, conseguiu dar um tipo de protagonismo a Ciro Gomes, que o temperamento incendiário do pré-candidato vinha tendo dificuldade de alcançar.

A estratégia de colocar seu cliente como bombeiro, às vésperas do 7 de setembro, foi inteligente, já que ele não teria nada a perder: se morresse alguém nas manifestações, não seria por falta de aviso; como não morreu ninguém, seus conselhos terão sido ouvidos.

Já o vídeo de Eduardo Leite, atribuído por algumas fontes a Nizan Guanaes, traz um posicionamento claro, num texto de raciocínio notável, e com uma estética padrão, mas realizada com esmero técnico.

Peca, no entanto, na presunção, talvez efeito do empoderamento que o dinheiro e a fama costumam gerar em algumas mentes, de que Chico Buarque, usado sem autorização, fosse deixar por isso mesmo. Pior ainda, usado num paralelo com Sérgio Reis, de quem certamente quer distância.

O Bozo, por sua vez, deve contar com a assessoria daquele gringo sinistro que atendeu ao Trump, para, quem sabe, promover um outro “evento” decisivo. Lula e João Doria ainda se movimentam em busca por profissionais.

Interessante observar que, embora Henrique Meirelles tenha acabado a eleição de 2018 com menos votos que o Cabo Daciolo, sua campanha foi considerada a melhor, e sua equipe de marketing, seja hoje, merecidamente, objeto do desejo de algumas candidaturas fortes.

Átila Francucci, que fez história, ao eleger João Doria para a prefeitura de São Paulo no primeiro turno, é outro criativo bastante cotado para campanhas em 2022. Mais um indício de que o padrão Bozo de comunicação está em baixa. E de que o marketing político profissional volta a ganhar seu necessário e merecido espaço. Melhor assim.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing (stalimircom@gmail.com)