Tempos atrás, aqui mesmo neste espaço, abordei o tema deste artigo. Na época, o título adotado foi algo como “O marketing evolui e a formação não acompanha”. Fundamentei meu texto na dificuldade que as escolas têm em alterar o seu programa de graduação, em função da burocracia junto ao MEC. Assim, as escolas são obrigadas a cumprir um conteúdo programático pré-aprovado durante todo o período do curso sem poder alterá-lo.
O que me motiva a voltar ao tema é a constatação de que nada mudou. Ao contrário, o quadro fica mais dramático devido ao ritmo das mudanças que observamos hoje em dia. E muita coisa mudou e continua mudando desde os famosos 4 P’s de Philip Kotler. O próprio Kotler, já há tempos, apregoa o Marketing 3.0, atualizando profundamente seus fundamentos. A cada semestre observamos novos conceitos sendo estabelecidos, novas técnicas sendo implementadas, novas demandas sendo impostas… e a formação básica continua lá, imutável.
A internet e o universo digital voltado ao marketing, por exemplo, vêm estabelecendo novas equações, obrigando marqueteiros – e suas agências – a se virarem para acompanhar, captar e capacitar profissionais na raça. Lembro-me bem da internet sendo encarada como um bicho à parte, tocada por nerds e “aquele pessoal de TI”.
Hoje, suas ferramentas se incorporam aos processos de marketing com a mesma naturalidade com que a energia chega aos aparelhos eletrônicos. Ela está lá disponível. Ninguém fica querendo saber como ela nos chega (se bem que, com a carência atual de energia, existe a preocupação com a sua origem). Rapidamente, o que era novo passa a ser corriqueiro e banal. E lá vamos nós, correr atrás das atualizações.
Outro exemplo é o setor de live marketing, que já foi promo, virou marketing promocional e agora adota novo nome e novas atribuições. A verdade é que o próprio mercado está sempre correndo atrás das mudanças, sem conseguir acompanhar seus passos largos e rápidos.
O que vemos no Cannes Lions Festival, por exemplo, é a proliferação de categorias. A cada ano, uma nova variante do mix de comunicação e marketing é criada, demonstrando uma rápida evolução. No ano passado, foram 17 categorias, a saber: Film, Film Craft, Press, Outdoor, PR, Design, Cyber, Radio, Promo & Activation, Direct, Media, Titanium & Integrated, Mobile, Creative Effectiveness, Branded Content & Entertainment, Innovation e Product Design.
O que vemos é a convivência de categorias clássicas (digamos assim), como Film, Press, Outdoor e Radio, com outras surgidas há pouco tempo, como, por exemplo, Cyber, Mobile e Branded Content.
Assim é o marketing de hoje: muitas empresas, principalmente aquelas produtoras de produtos de consumo popular, não podem abrir mão da
propaganda convencional, que usa mídia de massa, mas acrescentam ao plano uma série de ações da nova era.
Quem está formando os profissionais de mídia capazes de lidar com esse leque de opções de incômoda amplitude? E quem forma marqueteiros com uma visão holística, que permite formatar equações
complexas envolvendo novos meios e formatos, como big data, mídia programmatic, apps, mobile, publicidade nativa, redes sociais, sem deixar de lado a mídia convencional, o trade marketing, a ativação, o live marketing?
Difícil, não? Sofrendo na pele a deficiência de mão de obra qualificada nessas novas disciplinas, não resta outra opção ao mercado senão a de assumir a tarefa da formação especializada num constante treinamento on-the-job. Correndo o risco de perder o profissional qualificado, que passa a ser assediado pelos concorrentes.
Mas há, sim, outra forma de qualificação possível. Se as escolas não podem alterar seu conteúdo programático de graduação na velocidade que o mercado exige, elas podem oferecer cursos de pós-graduação e extensão livres das amarras do MEC. Abre-se um mercado de formação contínua, por intermédio dos cursos livres e dos programas de extensão universitária.
Nossa Pátria Educadora precisa de iniciativas privadas para suprir as necessidades tão importantes da Educação. E nós podemos preencher essas brechas.