Já faz uns cinco anos, quando convidei os italianos da Zoopa, uma das precursoras no processo de crowdsourcing, para falar da então supernovidade no comitê de Marketing Trends do WTC Business Club, o qual eu presido.

Lembro da incredulidade da plateia em ver que era possível desenvolver, por exemplo, uma logomarca de uma nova empresa simplesmente acionando as massas, sem nunca olhar no olho de quem a desenvolveu. Era só jogar o briefing no sistema montado pela Zoopa envolvendo uma comunidade mundial de criativos e aguardar as propostas. Aí, era escolher a vencedora – entre dezenas de opções – e remunerar o autor. Simples assim.

As agências especializadas se incomodaram, mas não muito, já que há argumentos em favor de um serviço mais profundo, impossível de ser cumprido por um job isolado, atirado a esmo na imensidão da web.

O tempo passou e pouco ouvi falar sobre o processo mágico. Aí pintou o case do carro Mio, da Fiat, concebido de forma totalmente colaborativa, com a ampla participação de crowdsourcing. A ideia de criar coletivamente o carro atraiu 17 mil pessoas, que geraram mais de 11 mil ideias. E, desse processo, nasceu o primeiro carro “crowdsourced” do mundo.

Lançado no Salão do Automóvel, o protótipo foi uma excelente jogada de marketing, gerando uma expressiva mídia espontânea, além de conquistar prêmios. De lá para cá, pouco ouvi falar do crowdsourcing. Até que, na semana passada, participei de mais um encontro do comitê Digital Trends do WTC Business Club, liderado por Fábio Madia. Para falar de Crowdsourcing e Crowdfunding, lá estiveram Carl Amorim, fundador da Academia Cloud Computing, e Ariel Tomaspolski, fundador do Juntos.com.vc.

As apresentações me impressionaram ao ver o quanto esse recurso cresceu silenciosamente e como multiplicaram suas aplicações. Há pelo menos dois novos negócios criados dentro do conceito de colaboração das “massas”, que eu não enxergava como pertencente a esse universo: o Airbnb e o Uber.

O primeiro, um sistema de aluguel de quartos particulares, já alcança valor de mercado acima de US$ 10 bilhões (mais do que muita rede de grande porte de hotéis do mundo). E o segundo, um controvertido transporte em carros particulares, alcança valor ainda maior, cotado em mais de US$ 18 bilhões.

O que eles têm em comum? O serviço colaborativo, prestado com uma certa informalidade. Pela grandiosidade dessas duas startups, os serviços “informais” estão sendo questionados no mundo inteiro. Afinal, é justo deixar alguém possuidor de um carro para uso particular, concorrer com táxis, que pagam licenças para cumprir seus serviços?

Questionamentos à parte, a verdade é que o uso da força das massas para turbinar negócios parece ganhar peso nos mais diferentes setores.

“O conceito de colocar um monte de gente dentro de um prédio para desenvolver um produto ou serviço não faz mais sentido”, disse Carl, durante sua apresentação no Digital Trends. Sua alegação está fundamentada no crescimento do valor dos imóveis e, principalmente, no custo do deslocamento dos profissionais por ruas cada vez mais congestionadas.

A ideia é simples: você tem um projeto em que acredita muito, mas não tem o dinheiro para colocá-lo em prática? Conte com os potenciais investidores espalhados pela rede.

Um caso famoso é o da criação de um cooler (uma espécie de geladeira cheia de funcionalidades). Um americano criou um conceito bacana e usou o Kickstarter – a maior plataforma mundial para intermediação de levantamento de fundos para projetos criativos – para angariar dinheiro para o seu projeto. Dos US$ 100 mil pretendidos, ele conseguiu nada menos que US$ 10 milhões! Agora ele está com delicioso problema de garantir uma produção muito maior que a planejada para atender aos milhares de pedidos. O intermediário fica com um percentual do arrecadado, o que é mais do que justo.

Enfim, nós sabemos que, no marketing de hoje, o público é cada vez mais protagonista no processo de comunicação. Mas não subestime a sua força em até substituí-lo no seu emprego.

* Diretor de marketing do WTC