Na última semana, o Ministério da Justiça multou em R$ 3 milhões a Fiat devido um defeito no eixo traseiro do Stilo e que deve ter provocado acidentes com pelo menos 49 motoristas. No último fim de semana, estreou anúncio informativo da montadora convocando os donos de 52.474 carros para o recall a partir desta quinta-feira (18). Nos veículos, os cubos das rodas traseiras, fabricados em ferro fundido, deverão ser substituídos por peças em aço forjado.
A campanha, veiculada nos principais jornais do Brasil, foi feita pela Leo Burnett.

Em comunicado enviado à imprensa na última semana, a Fiat disse que cumprirá a “inusitada” decisão do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), órgão subordinado ao Ministério da Justiça.

No comunicado, a montadora afirma estar surpresa com a determinação, e reitera que os modelos Fiat Stilo “não apresentam qualquer inconveniente nem risco ao consumidor”. A montadora também acrescenta que tomará de imediato a providência de recorrer da decisão nas esferas competentes.

No entanto, a recente determinação de recall do veículo da companhia não representa um caso isolado no segmento. Em 2009, por exemplo, conforme informações divulgadas no mercado, o Brasil teve 40 convocações e quase 1,2 milhão de carros apresentaram comprometimentos na segurança. Segundo Procon e DPDC, o número é quatro vezes maior do que o de 2007.

Neste ano, diversas montadoras já anunciaram recalls. Um dos casos mundiais recentes mais graves é o da Toyota. Ao todo, a montadora terá de dar assistência técnica a 8,5 milhões de automóveis em todo o mundo. No Brasil, os consumidores não foram atingidos, pois os carros com problema não são vendidos aqui, segundo a montadora.
A Volkswagen anunciou, em fevereiro deste ano, uma convocação para quase 194 mil donos de Novo Gol e Voyage para a verificação dos rolamentos das rodas traseiras.

A montadora declarou que “tem como procedimento fazer uma convocação toda vez que for identificado qualquer risco de segurança de seus produtos”. Em 2008, a montadora realizou um recall do Fox depois que alguns clientes tiveram o dedo decepado no porta-malas.

A Honda também convocou, no mês passado, um recall. 187 mil proprietários dos modelos Fit fabricados de 2003 a 2008 foram chamados para a aplicação de uma proteção adicional no interruptor principal de comando dos vidros elétricos.

A Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores)  informou que não possui competência para argumentar sobre o crescente número de recalls, já que o assunto diz respeito às próprias montadoras.

Valdner Tapa, professor de pós-graduação no curso gestão de concessionárias da ESPM, afirmou que a pressão pela redução de custos prejudica a qualidade da produção. “É  importante saber que existe uma pressão pela redução de custos entre as montadoras e os fornecedores de autopeças. Isso também prejudica a qualidade da produção”, acrescenta Tapa.

Ao mesmo tempo, o professor acredita que o recall configura-se como uma característica importante da indústria automobilística, pois significa responsabilidade sob o produto. “Não vejo o recall negativamente. Mas, sem dúvida, o crescente volume de produção é incompatível com  qualidade. O caso da Toyota nos EUA, que vem optando por uma maior penetração de mercado, exemplifica a questão”, destaca. Tapa ressalta que o Brasil, ao lado da China, foram os únicos países que obtiveram crescimento no mercado de automóveis em 2009.

Segundo dados da Anfavea, de 2008 para 2009 houve um aumento de 12,8% no número de carros licenciados (de 2,19 bi para 2,47 bi de veículos). No mês de dezembro, o aumento foi de 48%, passando de 150,4 mil carros para 222,6 mil. Em relação ao primeiro bimestre de 2010, a produção no período atingiu 499,5 mil veículos, representando crescimento de 28,3% em relação ao mesmo período de 2009.

por Cristiane Marsola e Juliana Welling