Há vários grandes momentos do Brasil em Cannes, e, se for puxar pela memória dos primeiros tempos, certamente vêm os primeiros Leões com trabalhos emblemáticos como O homem de 40 anos, primeiro Leão de ouro da história da propaganda brasileira, conquista da dupla Francesc Petit e Washington Olivetto, na DPZ, em 1975. Olivetto assinou outro Leão de ouro no ano seguinte, mas com pseudônimo: George Hamilton, com o filme criado pela Umuarama para o Bamerindus, então concorrente de seu cliente Itaú, na DPZ. O filme Homem Frustrado foi dirigido por Andrés Bukowinski e era estrelado pela atriz Irene Ravache, em 1976.
Outros filmes assinados por Olivetto, como Hitler (W/GGK, 1987), Explicação (1997), ambos para a Folha de S.Paulo, e A semana (trabalho 3 minutos de duração criado em 2000 para a revista Época) também ganharam notoriedade mundial a partir da conquista de Leões de ouro em Cannes, entre vários outros prêmios internacionais. Primeiro Sutiã, da W/Brasil para Valisére, de 1987, também levou ouro em Cannes e deixou sua marca na história da publicidade.
O primeiro Grand Prix brasileiro foi conquistado em 1993 por Umbigo, uma criação da DM9DDB para o Guaraná Antarctica Diet – que por pouco não foi Agência do Ano (ficou em segundo lugar) naquela edição do festival, título que acabou conquistando em 1998, tornando-se a primeira agência brasileira a ter o título no festival, façanha que repetiu no ano seguinte, e em 2009, sendo que em 2005 levou o Interactive Agency of the Year.
Vale destacar ainda a força da AlmapBBDO, que ficou com o GP de Agência do Ano em Cannes quatro vezes: 2000, 2010, 2011 e 2016. Musa, da Ogilvy, lembra que em 1993, quando o Brasil ganhou o primeiro GP, ele ainda era um estudante em início de carreira, e de como aquele prêmio lhe deu – e a outros colegas – a chance de sonhar grande.
Vinte anos mais tarde, quem diria, seria ele a marcar a história do festival com Sketches, para Dove, que acabou rendendo à agência o título de Agência do Ano no festival em 2013. O projeto Dove Sketches, da Ogilvy Brasil, foi um trabalho recordista em Leões na história brasileira no festival – levou 19 no Cannes Lions em 2013, incluindo o GP de Titanium, e mais um Leão em Creative Effectiveness no ano seguinte – e é considerado um marco na propaganda mundial, influenciando o discurso das marcas voltadas para a beleza feminina de uma maneira geral.
Outro grande marco brasileiro em Cannes foi o primeiro Grand Prix em Film que, apesar da boa performance do país no festival desde os anos 1970, veio apenas em 2015, com 100, um tributo à fotografia assinado pela agência F/Nazca S&S para a marca Leica. O filme teve produção da Stink e áudio da Satélite, e celebrava o centenário da marca alemã.
Por sinal, a F/Nazca S&S chegou a ser Agência do Ano pelo menos uma vez em Cannes, mas bem antes de ganhar o GP, em 2001. “A categoria Film sempre foi o tendão de Aquiles da propaganda brasileira, pela maneira com que os nossos anunciantes investem nela. Uma agência vencer esse GP, com diretores de cena brasileiros, foi a resposta de que nada é impossível para o Brasil, em propaganda”, comenta Luchi, da Lew’LaraTBWA.
Hugo Rodrigues, da WMcCann, afirma que o maior marco de todos é o Brasil ter se posicionado, ao longo do tempo, entre as três melhores indústrias de comunicação, ao lado dos Estados Unidos e Inglaterra. “Isso sim é um marco e tanto”, conclui.
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