O varejo cresceu 106% nos últimos 10 anos, portanto, bem acima do PIB brasileiro, que apresentou no mesmo período um crescimento de 44%. Esses números foram expostos por Flávio Rocha, presidente do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), no 2º Fórum Nacional de Varejo, realizado pelo Lide – Grupo de Líderes empresariais neste sábado (29), no hotel Sofitel Jequitimar, no Guarujá (SP). Por causa desse crescimento, Rocha considera o período como a “década do varejo”.
Com o fim da inflação, o poder aquisitivo da população aumentou e o Brasil deixou de ser um dos países mais desiguais do mundo (3º consenso) para criar uma imensa classe média consumidora – “a pirâmide virou losango”, diz Rocha. A competitividade, a abertura da economia e o crescimento do número de consumidores elevaram a competitividade do varejo brasileiro, que foi responsável pela criação de 3,7 milhões de empregos formais ao longo dos últimos 10 anos, sendo atualmente o maior empregador privado do país. Apesar disso, a participação do varejo no PIB brasileiro ainda é pequena, 26%, e metade desse porcentual ainda está na informalidade. Portanto, ainda há muito espaço para crescer. Rocha acredita que os próximos dez anos também se caracterizarão como outra década do varejo.
Exemplos
Para João Pedro Paro, presidente da MasterCard, o varejo, por meio do crediário, teve um papel fundamental na inclusão financeira da população de baixa renda. Isso porque 40% da população ainda não têm conta bancária e a maior parte das transações, 85%, são feitas com dinheiro. Apesar disso, o Brasil é o segundo maior país em transações de crédito, atrás apenas dos Estados Unidos, o que demonstra a grande adaptação que o brasileiro tem com os meios eletrônicos.
Ricardo Bomeny, do Bob’s, disse que no Brasil o varejo tem um faturamento anual de R$ 430 bilhões, sendo que cerca de R$ 100 bilhões correspondem à cadeia de fast-food, o que dá 2,4% do PIB brasileiro. Bomeny crê que esse setor irá crescer exponencialmente nos próximos anos devido a três grandes movimentos: a expansão da oferta de fast-food em lojas e estabelecimentos como shoppings; a chegada de novas cadeias concorrentes, vindas do exterior; e o crescimento rumo ao interior e as regiões mais distantes, o que já se observa pelo aumento da inauguração de shoppings em cidades com até 100 mil habitantes.
Luiza Helena Trajano, do Magazine Luiza, disse que inovação e atendimento são os fatores que irão distinguir uma empresa da outra, pois, segundo ela, todo o resto, inclusive preço, não passam de commodities. “E quem faz isso são as pessoas, os vendedores, e eles precisam estar motivados. Por isso que eu digo, as pessoas são o que de mais importante tem uma empresa”.
Proximidade
Para Ciro Diehl, presidente da Oracle, as empresas deveriam apostar mais na proximidade com os clientes. “Os caminhos são os mais variados para isso. Entendo que as redes sociais vieram para colaborar e, principalmente, para estreitar essa relação”, afirma. Ainda de acordo com o executivo, um dos principais erros que as companhias cometem é não disponibilizar nos sites o 0800. “As empresas precisam entender que o 0800 é uma oportunidade de estar ao lado do seu cliente”, enfatiza.
E essa relação, uma vez estabelecida, não deve terminar no ato da compra. “O ideal é que essa relação seja ainda mais intensa depois que o cliente comprar o produto”, diz. “A empresa também deve orientar o vendedor a estar sempre informado sobre o histórico de interação, a fim de que pergunte ao cliente sobre o produto que ele comprou anteriormente”, completa.
Ricardo Scaff, diretor de varejo para os Estados Unidos da Accenture, vai ainda mais além. Segundo ele, o consumidor terá todo o poder num novo cenário que está desenhando com o crescimento da tecnologia. “Isso porque o digital permeia a vida do consumidor atualmente”, diz. “O consumidor digital faz compras 24 horas por dia, sete dias por semana”, completa o executivo.
Ainda de acordo com Scaff, as empresas precisam fazer alguns investimentos fundamentais: desbloquear o big data, apostar em analytics e ter 100% de visibilidade do estoque. “O consumidor precisa ver se o produto que ele deseja comprar está disponível no estoque”, diz. Outros investimentos, segundo ele, são: conteúdo envolvente, experiência bem pensada, repensar o preço e o lucro e rever a cadeia de abastecimento.
*especial para o propmark