Quando todos esperávamos que o início deste ano fosse diferente, começando nos negócios, embora lentamente, logo a partir da primeira semana de janeiro, tendo em vista a mudança de governo no país e as promessas de campanha que ouvimos na ocasião, enaltecendo a necessidade de uma aceleração imediata na economia, eis que alguns desencontros nas hostes governistas atravancaram o esperado deslanche.
Nossa torcida agora é para que, pelo menos, possamos ver confirmada a velha máxima brasileira, que reza que o país só começa para valer após o Carnaval.
Talvez seja questão de sina, para quem nisso acredita. É bem possível que a expedição de Cabral, quando aqui desembarcou em 1500, já tenha entendido sinais dos nossos povos indígenas, reclamando que em abril ainda era cedo para qualquer tipo de negócio, embora com o ano começado… Após o Carnaval.
A verdade é que 519 anos depois, continuamos a cultuar essa sofrência, torcendo para que realmente agora, com o Carnaval já cumprido, os mercados passem a funcionar ativamente. Fontes do PROPMARK, porém, desconfiam que, além do período do Carnaval, teremos este ano algumas outras dificuldades que segurarão a economia, impedindo-a de deslanchar.
Temos um governo que foi eleito, obviamente, pela maioria dos eleitores. E se a maioria o escolheu, dois fatos ficaram evidentes: a reprovação pela maioria do candidato que representava a até então situação, embora Michel Temer, o presidente anterior, não pertencesse aos quadros do PT, saindo como candidato a vice na eleição anterior devido a uma coalização de partidos.
Com o impeachment de Dilma Rousseff, ele assumiu a Presidência da República, faltando-lhe, porém, um tempo necessário para efetuar as prometidas reformas no campo político do país.
Além do mais, o fator Janot o desequilibrou, naquele célebre episódio de uma conversa à noite com um dos irmãos donos da então poderosa JBS. Sentiu-se claramente a partir dali o enfraquecimento do presidente Temer perante a opinião pública brasileira e diante de si mesmo.
Houve um pacto silencioso entre as forças políticas do país, para mantê-lo no cargo até o final do mandato a cumprir, para não prejudicar ainda mais o país já encostado nas cordas após o descalabro do período Dilma Rousseff.
Voltemos ao novo presidente. Bolsonaro foi eleito com uma vantagem expressiva de votos em relação ao seu concorrente mais direto. E conseguiu vivenciar um dia festivo de posse, apesar de ainda combalido pelo ataque que sofreu de um sujeito que agora se conclui, por laudos técnicos, ser um doente mental.
Muito bem organizadas as cerimônias de posse e homenagem, com um destaque especial que deve ser dado à primeira-dama Michele, que se expressou no alfabeto em libras, com grande desenvoltura e assim cativando boa parte do público brasileiro presente ao ato e o assistindo em todo o país através da TV.
Foram momentos marcantes e promissores, que acenavam para um novo país a partir dali, apesar do calendário apontar para uma data muito próxima a esse dia da posse, na qual o presidente eleito e já empossado prosseguiria no seu martírio físico e mental no hospital Albert Einstein, em São Paulo, em consequência do ataque acima já relatado.
Foram momentos de muita tensão e expectativa para o país, pois a promessa de um novo e diferente período de governança dependia da recuperação do presidente vítima – dizem agora os laudos – de um irresponsável.
Mas, ele resistiu mais uma vez e pôde retornar ao Palácio do Planalto, para governar um dos países mais difíceis de serem governados em todo o planeta, repetindo a história de um outro país que enviou considerável parte da sua população para o Brasil entre os fins do século 19 e os primeiros anos do século 20, do qual boa parte dos antepassados de Bolsonaro era oriunda.
Disse certa feita um importante prócer da Itália, que não só era impossível governá-la, como – pior ainda – era inútil.
Bem, chegamos aos dias de hoje no Brasil, com o presidente Jair Messias (uma boa possibilidade) Bolsonaro praticamente refeito da agressão que só não o matou porque não estava escrito.
Pode ter surpreendido a muitos brasileiros, a entrega de cargos importantes do seu governo a militares (aqui não incluído o vice-presidente general Mourão, que concorreu na chapa de Bolsonaro e com ele foi eleito). Logo foi lembrado o período da ditadura militar iniciada em 1964 e que durou 20 anos.
Um grande exagero nisso, pois aqueles derrubaram um presidente constituído (era vice de Jânio Quadros, que havia renunciado sete meses após sua posse) e estes atenderam a um chamamento do presidente da República recém-eleito e que não se cansou durante toda a sua campanha e mesmo depois da posse de repetir a palavra democracia, criticando inclusive países como a Venezuela que afastaram de há muito esse sistema político de governo.
Mas, Jair Messias Bolsonaro, ainda aprendiz de presidente da República (o cargo mais difícil do país) e sem nenhuma experiência anterior no Executivo onde morava, embora tendo sido deputado por várias legislaturas, precisa se submeter a uma rígida disciplina de controle da fala, cuja língua-mãe Camões carregou de amores, mas sabendo evitar suas traições. Porque o nosso idioma, por ser um dos mais belos de todos que se praticam no planeta, está sempre pilhado, pronto para fazer derrapar um seu interlocutor, mesmo que ocupe o mais alto cargo na nação.
Vamos torcer para que os tropeços destas primeiras semanas de governo efetivo do palmeirense Jair Bolsonaro sejam logo superados porque o país não aguentará a debacle que já está sendo pretendida pelos oportunistas de plantão, açulados pelos incorrigíveis ingênuos de sempre.
Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência, que publica o PROPMARK e as revistas Marketing e Propaganda (aferrentini@editorareferencia.com.br).