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O conceito de GovTech é uma tendência mundial: parcerias de tecnologia entre governos e empresas privadas vêm tornando, em várias partes do mundo, o setor público mais eficiente e menos oneroso. De acordo com um levantamento do Banco Mundial, os brasileiros gastam quase 2 mil horas, cerca de 88 dias, por ano resolvendo burocracias.

Este foi o tema do seminário GovTech Brasil, realizado na semana passada em São Paulo, que reuniu especialistas do mundo inteiro e discutiu, inclusive, a agenda de desburocratização com alguns pré-candidatos à Presidência da República, como Geraldo Alckmin (PSDB), Guilherme Boulos (PSOL) e Henrique Meirelles (MDB).

Letícia Piccolotto Ferreira, fundadora do BrazilLAB – organizadora do evento em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio) -, fala que vários países já estão no caminho de se tornarem Smart Nations (Governos Digitais) e a ideia de trazer alguns exemplos, como o da Estônia, é que o Brasil se inspire na forma como essas transições foram feitas.

“Mais tecnologia é o melhor instrumento para reduzir a burocracia. Embora ainda seja necessário promover a inovação em larga escala, já existem alguns experimentos no governo no caminho da inovação, que demonstram que estão dispostos a inovar. O Pitch Gov, do governo do Estado de São Paulo, é um exemplo de programa que busca estimular essa parceria entre startups e o setor público. Outros programas nesse sentido são o programa Startup São José, em São José dos Campos, e o Seed, em Minas Gerais, que estão fomentando o uso de tecnologias no governo. Ainda estamos em uma fase piloto, mas precisamos dar mais atenção a essa pauta”, diz Letícia.

O BrazilLAB anunciou um investimento entre R$ 50 mil e R$ 200 mil para acelerar a conexão de startups com governos no Brasil. Segundo Letícia, desburocratizar não é utópico, mas uma questão de vontade política. Ronaldo Lemos, diretor do ITS, diz acreditar que o Brasil pode se tornar um modelo mundial em desburocratização, e apresentou durante o evento o projeto Mapa da Informação, plataforma digital que mapeia e ajuda a compreender os labirintos burocráticos que existem hoje no país.

Estiveram no GovTech representantes dos governos da Índia, de Israel, da Estônia, do Chile e do Uruguai, contando os desafios e processos de digitalização. A Estônia, por exemplo, iniciou sua jornada para se tornar um e-government há 20 anos e hoje é um dos principais países inovadores do mundo. Na Estônia, abrir uma empresa leva exatos 15 minutos – enquanto no Brasil são quase três meses. Também deu seu depoimento no GovTech Uri Levine, um dos fundadores do Waze, aplicativo gratuito de tráfego e navegação cujo programa Connected Citizens já conta com 600 parceiros no mundo. Entre as novas parcerias firmadas ao longo do último ano estão a Prefeitura de São Paulo e a cidade de Nova Orleans.

Letícia afirma que o uso de tecnologias é um aliado da transparência, e há estudos mostrando que países como Suécia e Estônia tiveram sucesso no combate àcorrupção a partir de soluções de tecnologia. 

“Alguns exemplos são o Portal Meu Município, da Fundação Brava, que usa big data para expor a situação fiscal dos municípios brasileiros, e a Operação Serenata de Amor, que usa inteligência artificial para apontar inconsistências nos reembolsos de parlamentares”, exemplifica.

O Brasil Lab – tem como principal referência o Programa Solve do MIT, que engaja a sociedade em desafios globais – hoje já tem 25 prefeituras parceiras. Juiz de Fora implementou um aplicativo, o Cuco Health, em 63 UBSs da cidade: trata-se de um app que funciona como uma enfermeira digital e foi acelerado pelo Brazil Lab em 2016. O aplicativo funciona engajando os pacientes no tratamento de doenças crônicas e está sendo bem recebido na cidade.

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