Alê Oliveira

Um dos nomes mais conhecidos da propaganda mundial, Marcello Serpa será o primeiro brasileiro a receber o Lion of St. Mark este ano no Cannes Lions, prêmio que ele considera “bacana” traduzir para Leão de São Marcos, “porque cada país tem o  próprio nome de santo”. Lançado em 2011, o prêmio reconhece os profissionais mais importantes e com contribuições consideradas marcantes para a indústria. Confira abaixo os principais trechos da entrevista que Serpa concedeu ao PROPMARK, falando sobre o reconhecimento da sua carreira e o período sabático após a saída da AlmapBBDO, em agosto de 2015, entre outros assuntos.

Reconhecimento

Para mim, pessoalmente, esse prêmio é um tremendo reconhecimento, principalmente em um momento de vida em que encerro um caminho longo na Almap, um caminho longo na propaganda, uma carreira de 35 anos. Eu fiz uma pausa e resolvi dar uma parada. E receber esse prêmio neste exato momento é de um simbolismo muito forte. Ou seja, é quase que um reconhecimento de todo o trabalho que fiz durante tanto tempo, filme a filme, anúncio a anúncio. Para mim, é uma honra, uma alegria enorme, porque realmente é o final, é uma cereja do bolo, quase como um Prêmio Nobel, um Oscar pela carreira, pelo trabalho feito. Então isso é muito legal, muito bacana. Eu acho que, de certa maneira, é um reconhecimento para o mercado brasileiro também. Fico profundamente agradecido ao Philip Thomas (CEO do Cannes Lions), ao festival, por olhar para o meu trabalho, para mim e para a minha vida, e ter dito: ‘esse cara fez um trabalho muito importante para a indústria e vamos reconhecê-lo’.

Aprendi a aplaudir
Eu conheço John Hegarty, Lee Clow, Bob Greenberg, Dan Wieden e Joe Pytka (os únicos até agora a ganharem o Lion of St. Mark). Conheço todos eles. São colegas, pessoas que estão nesse mercado há muito tempo também, que eu sempre aprendi a aplaudir sentadinho na primeira fila lá no Festival de Cannes. É legal ter um brasileiro reconhecido no mesmo nível que os anglo-saxões, porque se a indústria da comunicação se comunica em inglês, fica mais fácil para os grandes mercados, grandes agências, para países como Inglaterra e Estados Unidos terem uma certa predominância sobre o que ocorre no mundo. Como brasileiro, ao ser premiado, eu me sinto absolutamente à vontade e feliz da vida, porque são caras que admirei a vida toda.

Final de carreira
Eu acho que o prêmio marca o final da minha carreira. É uma cereja no sundae. Ele termina uma fase espetacular da minha vida, o que não quer dizer que eu não comece outra lá na frente. Mas essa minha fase, que começou lá atrás, quando eu era moleque, desenhava, rabiscava, daí estudei design, me formei e trabalhei em agências na Alemanha, depois vim para DPZ, DM9, Almap, trabalhando durante todo esse tempo. Acho que esse prêmio encerra essa fase da minha vida de uma maneira absolutamente brilhante. Não poderia ser um encerramento melhor.

Repercussão
Eu lido muito bem com a repercussão do meu trabalho, acho legal. Tem uma coisa que é interessante, quando você expõe o trabalho em palcos mundiais, em festivais como Cannes, D&AD e One Show, por exemplo, você está colocando seu trabalho numa exposição mundial. Se o trabalho ganha, é reconhecido, ele é admirado mundialmente também. Isso já ocorre há algum tempo com o trabalho da Almap, com o nosso trabalho. Isso é uma coisa que acontece com certa naturalidade. Tem outro aspecto interessante também, que é a repercussão que o Brasil teve nos útimos 20, 30 anos, na qualidade da criação. Para países parecidos com a nossa realidade publicitária, como Tailândia, Índia, China, Colômbia e México, é como dizer: ‘se eles (o Brasil) conseguem fazer, nós conseguimos também’. É uma maneira de você ver o trabalho fora do eixo anglo-saxão ser reconhecido. Já dei palestras em todos esses países que falei, já fui jurado, já fui a todos esses países, e as pessoas admiram o trabalho brasileiro, porque é um referencial. Hoje, por exemplo, o mercado do Oriente Médio é fortíssimo, do Sudeste Asiático também, com Tailândia, Filipinas e Índia fazendo trabalhos muito bacanas. Já no Brasil isso começou mais cedo. Então, essa liderança brasileira fora do eixo dos Estados Unidos, Inglaterra e Europa é muito bem reconhecida pelo mundo todo. Isso me deixa muito feliz também.

Sob os holofotes
O lado bom de estar sob os holofotes da propaganda mundial é que você tem o seu trabalho reconhecido, com isso o trabalho da agência é reconhecido, e com isso os clientes que também são mundiais têm um respeito profundo pelo trabalho que você faz, o que melhora muito as relações entre agências e clientes. Quando um trabalho é reconhecido, todo mundo é reconhecido e isso é muito bom para as relações de negócios. O lado ruim, não sei não. Acho que só tem lado bom.

AlmapBBDO
Eu e o Zé Madeira (José Luiz Madeira, seu sócio que deixou a direção da agência junto com ele após 22 anos) temos escritório na Almap. Venho aqui de vez em quando, cuidar e arrumar minhas coisas, mas sinto saudades das pessoas. Eu tenho um profundo carinho pelas pessoas que ficaram aqui, com quem trabalhei. Sinto muitas saudades da convivência com eles. Mas quando venho à agência, acabo sentando com um e com outro, vou almoçar, a gente bate-papo, ri bastante e isso, de certa maneira, é recompensador. Mas saudade do passado não sinto, porque tenho muito carinho por tudo que fiz e aconteceu comigo. Eu estou agora vivendo e me preparando para uma outra fase na minha vida e minha energia está nisso.

Período sabático
Meu projeto de vida é um projeto pessoal, de passar um ano fora. Eu estou indo para o Havaí, a partir de julho. Estou esperando meus filhos terminarem esse semestre no Brasil para poder começar o semestre em agosto nos Estados Unidos. Vou passar um ano sabático fora, cuidando da família, pintando, desenhando, lendo, surfando e pensando em possíveis projetos para o Brasil. Mas isso eu vou decidir mais tarde. Bem mais tarde.