Marcelo Bicudo, CEO da Superunion Brasil, participa pela primeira vez como jurado de Cannes. O executivo analisará os trabalhos inscritos em Design Lions, categoria que “tem evoluído muito em suas variantes de produto, arquitetônicas e digitais, integrando linguagens e escalas”, observa Bicudo. A expectativa é participar de “grandes discussões ao redor de grandes trabalhos” guiados por funcionalidade, ergonomia e interatividade. Mesmo a distância, ele acredita que o estímulo ao debate e às diferentes percepções serão preservados para garantir um olhar empático. “O que gostaria de capturar são essas diferentes visões”, conclui.
Critérios
O design se propõe a atingir questões além de aspectos comerciais. Isso significa que funcionalidade, ergonomia e interatividade são mito importantes para o fato de que o design se define de uma maneira mais sistêmica, técnica e tecnológica. Podemos destacar que o cuidado ao fazer (craftsmanship) e a atenção aos detalhes, à escolha tipográfica, cromática, são sempre muito relevantes. A atenção aos códigos de linguagem sempre traz subtextos, ou seja, o design é mais discursivo do que a publicidade. A ideia é sempre importante, mas também são relevantes princípios como impacto e qualidade de execução.
Pandemia
Contemporaneidade é um aspecto que o design traz consigo. Portanto, o zeitgeist (espírito da época) sempre pode ser depreendido de uma peça de design. Da mesma maneira que veremos a Covid-19 como pano de fundo em diversos trabalhos, veremos também que o tema do otimismo tem sido muito trabalhado pelas marcas hoje em dia. As marcas estão assumindo o seu papel como faróis da sociedade.
Inspiração
Em minhas andanças mundo afora percebo que o design tem evoluído muito em suas variantes de produto, arquitetônicas e digitais, integrando linguagens e escalas. Um design mais interdisciplinar. O design ainda vem sendo cada vez mais compreendido como algo estratégico. Há bons trabalhos em que o design gráfico nem é tão relevante, mas o raciocínio lógico, a interatividade e a genialidade por trás do gráfico têm feito muita diferença.
Perspectiva
Cannes congrega inscrições de pequenos estúdios, muitas vezes com uma pegada mais autoral, e grandes escritórios. Sem falar na grande presença que as agências de publicidade têm também nessa categoria. Poder olhar sincronicamente para o que há de melhor em design e ambiente, embalagem, design interativo e branding, entre outras categorias, dá uma grande percepção de como o mundo do design vem se comportando e apontando para determinadas tendências, ao ser reflexo de nossa cultura. Espero, grandes discussões ao redor de grandes trabalhos.
Tendências
Veremos trabalhos que miram mais nas pessoas do que em personas, mais trabalhos de nicho e mais trabalhos que olham para necessidades específicas. Estamos em um tipping point de uma sociedade absolutamente massificada para a possibilidade de focar no indivíduo por meio da tecnologia.
Preparação
Alguns trabalhos vencedores em outros prêmios serão vistos por aqui. Certamente veremos muita coisa nova também. E essa surpresa é ótima. O júri debaterá sobre os critérios a serem levados em consideração de uma forma geral e a própria discussão nesse sentido leva a consensos e dissensos. O que é ótimo, pois o que gostaria de capturar são essas diferentes visões. No mais, é usar toda a experiência que se ganha ao longo da carreira, no meu caso tanto como executivo no mercado, como no meio acadêmico.
Distância
São muito ricas as interações presenciais e quem já foi a Cannes sabe que o ambiente lá é muito instigante. Por outro lado, é também uma oportunidade, pois é a primeira vez que o julgamento a distância ocorre. Estamos estabelecendo novos padrões. E isso é muito legal. Há um grande cuidado da organização em construir uma plataforma interativa com os jurados trocando muito e com o uso dos recursos digitais para melhorar a performance. Será um júri que deve estimular muito o debate e as diferentes percepções de cada um, buscando sempre um olhar empático.