O festival considerou os protestos pontuais e destacou o grande espaço dado pelo Cannes Lions às questões ambientais e sociais
Mal começou e o Cannes Lions já serviu de palco para manifestações contundentes quanto à responsabilidade das empresas na forma com que produzem e comunicam seus produtos. A pressão por responsabilidade ambiental e social foi cobrada na primeira noite de entrega de troféus, quando o head de criatividade do Greenpeace, Gustav Martner, invadiu o palco para devolver o Leão que havia sido conquistado em outra premiação, portando um cartaz com os dizeres: No Awards in a Dead Planet (Nada de prêmios num planeta morto – em tradução livre).
O protesto era contra a indústria publicitária, como um todo, acusada de divulgar produtos e empresas que não respeitam o meio ambiente. O próprio Cannes Lions foi acusado de premiar essas empresas e de produzir troféus, sem necessidade. O protesto ganhou adeptos, que imprimiram cartazes com a frase escrita por Gustav, afixando-os em postes das ruas de Cannes. Outro cartaz de protesto apareceu no palco do Palais, pelas mãos da indígena ativista brasileira Txai Surui, com os dizeres Salve a Amazônia (em inglês), no momento em que a agência brasileira Africa recebia seu Leão de Ouro em Outdoor, com o case The Refugee Jatoba.
Podemos até questionar os protestos, mas o fato é que as empresas estão realmente pressionadas, como nunca antes, em pensar na produção e comunicação dos seus produtos de forma responsável. Basta ver os cases ganhadores de Grand Prix na noite do dia 20, nas demais categorias. O GP for Good-Health foi atribuído à Hip Hop Public Health com a campanha que alerta para as 150 diferentes formas “escondidas” de denominar o açúcar presente em produtos.
A campanha Lil Sugar – Master of Disguise usou o Hip Hop para alertar crianças e jovens quanto ao açúcar escondido na composição dos produtos, travestido por nomes complicados, para disfarçar. Já o case vencedor de Grand Prix na categoria Health & Wellness valorizou uma ideia simples, mas muito eficaz no combate à dengue na Índia.
O repelente de mosquitos Maxx Flash passou a ser embalado num papelão embebido numa substância capaz de impedir o crescimento de larvas do mosquito da dengue. Assim, ao se descartar a embalagem, que vai parar em lixões e ambientes onde proliferam os mosquitos, ela cumpre seu papel de impedir a geração de larvas. São atitudes como essa que se esperam de empresas alinhadas com os princípios ESG, de se preocupar com as pessoas e o planeta, além do seu lucro.
Ao seu favor, o festival considerou os protestos pontuais e destacou o grande espaço dado pelo Cannes Lions às questões ambientais e sociais. O diretor do festival, Simon Cook, acha que esse é um processo natural e citou um painel do evento sob título “Em 2030 toda propaganda será verde”. O fato é que empresas e suas agências de comunicação devem fazer seu dever de casa, entendendo muito bem as nuances ESG e praticando seus princípios de forma criteriosa e consistente. A pressão da sociedade está aí e só vai aumentar.