O Carnaval tem migrado das avenidas e ganhado cada vez mais as ruas. Não à toa, apenas na cidade de São Paulo, a festa será a maior da história neste ano, com 678 desfiles de blocos aprovados e autorizados pela Prefeitura.

E com o aglomerado de multidões, crescem também os casos de assédio sexual no período. Dados do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) revelam que as denúncias aumentam 20% durante o Carnaval, isso sem considerar os inúmeros casos não denunciados.

Monobloco tomou as ruas da capital paulista neste Carnaval

Em busca de ocupar papel mais relevante na vida das pessoas, as marcas saíram na frente no Carnaval deste ano ao assumir posicionamento claro sobre questões relacionadas ao respeito, empoderamento feminino e militância contra o assédio. A abordagem não é nova. Pelo menos desde 2015 a temática tem sido observada e tratada com mais atenção pelas marcas, sobretudo, depois de uma campanha da Skol causar polêmica por trazer mensagens abertas a dupla interpretação e possível associação ao estupro.

Depois do impacto negativo de mensagens como “Esqueci o não em casa”, criadas pela agência F/Nazca à época, a Skol trouxe nos anos posteriores forte discurso de empoderamento feminino, seja distribuindo apitos para as mulheres chamarem atenção em caso de apuros, seja criando campanhas educativas que explicavam a diferença entre paquera e assédio.

Acolhimento

Em 2020, o momento é de mais amadurecimento das marcas. As empresas de mobilidade urbana e de tecnologia foram as que mais trouxeram ações nesse sentido. O aplicativo 99, por exemplo, apresentou a campanha #CarnavalSemAssédio em parceria com o Catraca Livre, a produtora Rua Livre e a Prefeitura de São Paulo. A ideia é levar uma força-tarefa dos “Anjos do Carnaval” aos blocos. Pelo segundo ano consecutivo, a equipe voluntária tem papel de acolher e orientar vítimas de assédio. Do alto de trios elétricos de blocos parceiros, eles também ajudarão a identificar assediadores.

Além de São Paulo, a iniciativa será expandida para outras quatro cidades Belo Horizonte, Recife, Rio de Janeiro e Salvador. A campanha também conta com o Ônibus Lilás, cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, e outros cinco pontos de atendimento fixos. Todos terão técnicas da prefeitura capacitadas para atuar na orientação e no atendimento de vítimas de assédio.

Carona

A 99 também encabeçou campanha que subsidia corridas para a Delegacia da Mulher no Carnaval.Como forma de apoiar vítimas de assédio e incentivar denúncias, a empresa vai subsidiar R$ 20 em corridas que tenham como destino uma das 180 Delegacias da Mulher de todo o país, entre os dias 21 e 26 de fevereiro.

Para tornar a experiência mais segura em sua plataforma, a 99 também implementou há um ano o rastreador de comentários em parceria com a consultoria Think Eva. A ferramenta de inteligência artificial rastreia comentários de passageiros e motoristas, deixados após as corridas, e identifica possíveis situações de assédio. 

Conduta

A Uber acaba de estrear campanha que reforça seu Código de Conduta sobre questões sensíveis como segurança e respeito. Para deixa o posicionamento mais claro para motoristas, entregadores, restaurantes e usuários em geral, o aplicativo de mobilidade trouxe uma campanha nas ruas. A ideia é dialogar com os foliões que pedem um Uber na hora de voltar da folia. Entre as mensagens, destaque para conteúdos contra discriminação e assédio – crimes não tolerados no uso do aplicativo.

Desde 2018, a Uber fez anúncio público sobre seu enfrentamento à violência contra a mulher. A comunidade LGBTQIA+ também tem sido foco de ações da Uber, que neste ano pretende ampliará as temáticas de discussão para orientação sexual, identidade de gênero e raça.

Não é Não

A rede de relacionamentos Badoo se uniu ao coletivo “Não é Não” para fomentar um Carnaval mais consciente este ano. A iniciativa consiste na distribuição de 210 mil tatuagens temporárias gratuitas pelas voluntárias do coletivo nos blocos de rua em 16 estados brasileiros. São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Amazonas e Distrito Federal são alguns deles.

As tatuagens terão dois desenhos: um com a mensagem “Não é Não” e o outro com a frase “Conexões Sinceras”, que marca a tagline da rede social. Com proposta semelhante, o BRT do Rio fez um “adesivaço” contra a importunação sexual no carnaval da capital fluminense.

A partir desta sexta-feira (21) quem passar pelos terminais Paulo da Portela (Madureira), Alvorada (Barra da Tijuca) e Jardim Oceânico (Barra da Tijuca) vai ganhar adesivos temáticos contra o assédio. A iniciativa faz parte da campanha ‘Carnaval com Respeito’ do BRT Rio. “Não é não”; “Fantasia não é convite”; “Meu corpo, minhas regras”; e “Depois do ‘não’, tudo é assédio” são as mensagens que estampam os adesivos.

Digital

As redes sociais também estão sendo mobilizadas com mensagens de conscientização durante o Carnaval. O Banco BMG e o Corinthians lançam, nos próximos dias, postagens que estimulam o respeito às mulheres e responsabilidade. Frases como “Não é Não!”, “Respeita as Minas” e “Não beba e dirija” serão divulgadas pelos perfis do clube e pelo Meu Corinthians BMG na internet.