A morte de um cliente espancado por seguranças em uma unidade do Carrefour em Porto Alegre (RS), na quinta-feira (19), repercutiu no fim de semana e deve ter mais desdobramentos. Além da violência, chamou atenção o fato do rapaz ser negro e ter sido morto na véspera do Dia da Consciência Negra.

Uma das consequências foi o comunicado do CEO do Carrefour Brasil, Noel Prioux, divulgado na televisão aberta no sábado (21). No vídeo exibido nacionalmente, ele falou sobre a morte de João Alberto Silveira Freitas. “O que aconteceu na loja do Carrefour foi uma tragédia de dimensões incalculáveis, cuja extensão está além da minha compreensão como homem branco e privilegiado que sou. Antes de tudo, meus sentimentos à família de João Alberto. E meu pedido de desculpas aos nossos clientes, à sociedade e a nossos colaboradores”, disse.

Além dele, o executivo João Senise, vice-presidente de recursos humanos da companhia, também aparece na gravação. “O que aconteceu em nossa loja não representa quem somos e nem os nossos valores. 57% dos nossos funcionários são negros e negras. E mais de um terço dos gestores se declaram pretos ou pardos. Mas não é o bastante. Precisamos de mais ações concretas e efetivas para maior promoção da diversidade”, afirmou.

Outra consequência foi na sexta (20), quando a Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial desligou por tempo indeterminado a companhia das suas atividades e a participação no projeto.

“Repudiamos com todas as nossas forças o assassinato do cidadão negro João Alberto Silveira Freitas, por seguranças do Supermercado Carrefour, na cidade de Porto Alegre. É criminoso um ambiente empresarial em que um cidadão entre para fazer uma compra e saia morto. E é conivente todos aqueles que se omitiram e não tomaram as medidas para que essa morte fosse evitada. Inclusive os que se calam. Os acontecimentos de ontem, dia 19/11/2020, denotam e remetem inexoravelmente a um histórico dos quais não podemos nos furtar”, diz Dr. Raphael Vicente, coordenador da Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial.

O projeto é composto por representantes da sociedade civil, do ambiente empresarial e do poder público. São 73 organizações signatárias, com receita conjunta de R$ 1,2 trilhão, no Brasil, e 900 mil colaboradores diretos. Segundo a apresentação, é uma plataforma de articulação entre “empresas comprometidas em buscar um desempenho significativo na abordagem da temática étnico-racial, bem como lhes assegurar vantagem competitiva”. Constitui-se em um espaço de diálogo do empresariado brasileiro em torno dos seus compromissos com a inclusão, promoção e valorização da diversidade étnico-racial. A Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial promove a articulação das empresas em torno do compromisso com a promoção da igualdade étnico-racial; aprimoramento das práticas de gestão empresarial perante seus públicos de interesse; estímulo à ampliação da diversidade étnico-racial; promoção da inclusão e aumento da presença de negros no ambiente corporativo e sensibilização do meio empresarial e da sociedade para a promoção de práticas de igualdade racial.”

Ainda na sexta, Alexandre Bompard, presidente global da varejista, se pronunciou pelas redes sociais. Em uma sequência de posts no Twitter, ele lamentou a morte do rapaz, disse que as imagens postadas nas redes sociais são insuportáveis e que medidas internas foram imediatamente tomadas pelo Grupo Carrefour Brasil, principalmente em relação à empresa de segurança contratada. “Essas medidas são insuficientes. Meus valores e os valores do Carrefour não compactuam com racismo e violência. Espero que o Grupo Carrefour Brasil se comprometa, além das políticas já implantadas pela empresa.”

O fato gerou uma onda de protestos em unidades da rede localizadas em diferentes estados, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais.