Fundadora da agência Creative Breed ministrou palestra sobre storytelling na manhã desta quarta-feira (11)
Sob aplausos dos brasileiros que estavam na plateia do principal auditório do Austin Convention Center, polo de conferências do South by Southwest (SXSW), a cineasta Cheryl Miller Houser, fundadora da agência Creative Breed, especializada em storytelling, utilizou a premiada campanha 'VW Brasil 70: O novo veio de novo', lançada em 2023 pela AlmapBBDO para Volkswagen, como exemplo de história que transformou a inteligência (IA) artificial em um instrumento para emocionar.
“É a história de uma filha e sua mãe. Perdi o meu pai e estou prestes a perder a minha mãe. Chorei quando vi esse filme pela primeira vez”, testemunha Cheryl, que ministrou o painel ‘Human-centered storytelling: Driving connection and culture’, apresentado na manhã desta quarta-feira (11), durante a 39ª edição do South by Southwest (SXSW), festival de inovação realizado entre os dias 7 e 15 de março, em Austin, no Texas (EUA).
“As pessoas chegaram a questionar a ética em reviver pessoas mortas sem consentimento por meio da tecnologia, e que isso poderia confundir os mais jovens. Mas há tanta tecnologia aplicada para promover fakenews e deepfake. De qualquer forma, a mágica da IA foi usada para contar a história. A resposta foi positiva”. Relembre aqui o caso.

A campanha foi elencada por sua capacidade de imaginar, condição favorável para a criatividade e a inovação, alimentado a habilidade de sonhar e ter esperanças. “Marcas que captam experiências humanas parecem como humanas”, pontua Cheryl. Esse direcionamento ganha importância no momento em que a humanidade vive uma epidemia de saúde mental.
Aí entra o poder de histórias capazes de moldar o mundo rumo a um futuro com mais esperança. “Escute com o coração aberto. Falar do coração é a voz que deve ser ecoada por aqueles que estão envolvidos com experiências transformadoras”, recomenda Cheryl.
Ela cita o exemplo da ginasta Simone Biles, que, nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, reconheceu a necessidade de cuidar de sua saúde mental devido à elevada pressão e cobrança por vitórias, e decidiu se retirar da competição. “Alguns associaram a decisão com fracasso, outros acharam que ela foi uma heroína”, lembra Cheryl
Nas Olimpíadas de Paris 2024, ela retornou, e voltou a ganhar medalhas. Foram três Ouros e uma Prata. “Simone quebrou barreiras sobre as expectativas que formamos de outras pessoas. Estudos mostram que as pessoas gostariam de se preocupar menos com a opinião dos outros”, indica Cheryl.
A necessidade de ganhar a aprovação das pessoas agrava problemas de saúde mental. “Vamos todos aprender com Simone Biles. Abrace a plenitude da humanidade”, convoca Cheryl. Empatia é fundamental para mobilizar mudanças. “O grande presente que recebemos é descobrir o que podemos oferecer para enfrentar a bagunça que vemos neste país”, critica Cheryl.

A executiva lembra que a decisão de compra é tomada pela emoção e não de forma racional. Valores, crenças e o propósito de marca devem ser compartilhados para criar conexão. “Jovens querem comprar marcas que compartilham os seus valores”, certifica.
Super-herói
O ator Jeremy Renner, intérprete de Gavião Arqueiro na saga dos ‘Vingadores’, da Marvel, foi atropelado por uma máquina para extração de gelo em 2023. Os médicos chegaram a dizer que ele não andaria mais. “O único poder que temos é a perspectiva de ser um super-herói. Comece um sonho, um objetivo”, testemunha o ator em vídeo apresentado por Cheryl. “Hoje, ele está mais conectado com as pessoas que o cercam”, diz.
Segundo ela, esta é uma história cravada no “centro da experiência humana”. De acordo com estudos do economista Dn Ariely citados por Cheryl, o senso de realização após a superação de desafios endereça mais satisfação para o trabalho, mas até que dinheiro. Da luta à vitória, a escala clássica de estrutura do storytelling traz objetivo, obstáculos, conflito, transformação e triunfo.
Visão para o futuro
Atenção, inspiração e admiração garantem brand recall. Esse exemplo está no filme ‘Born to play’, exibido durante o intervalo do Super Bowl 58, em 2024. Com dois minutos e meio, a história mostra jogadores da NFL, que correm pelas tumultuadas ruas de Accra, capital de Gana.
Mas os lances de Saquon Barkley, Justin Jefferson, Cameron Jordan e Jeremiah Owusu-Koramoah estavam na imaginação de um garoto apaixonado pelo esporte, que termina em um acampamento montado pela NFL África, em Accra. “A emoção controla a parte do cérebro que estimula a memória e a atenção. É o tipo de história que leva a imaginação para novas realidades. Qual futuro você quer criar?”, reflete Cheryl.