Marcado para o dia 15 de fevereiro, o desligamento do sinal analógico em Rio Verde, interior de Goiás, ainda não havia sido confirmado pelo Gired (Grupo de Implantação do Processo de Redistribuição dos Canais de TV e RTV). No entanto, após intensas reuniões do grupo, as emissoras Rede Vida, Canção Nova e Record News encerraram na última segunda-feira (15) a transmissão via sinal analógico e passam a ser transmitidas apenas em digital.
Em nota, a Abert, que faz parte do Gired, afirma que o desligamento total na cidade goiana acontece até o final de fevereiro, mediante a realização de nova pesquisa, realizada pela Empresa Administradora da Digitalizadora, que confirme as projeções de distribuição dos conversores e atingimento do percentual de domicílios aptos a receber o sinal digital terrestre.
A dúvida sobre o desligamento estava no fato de que a cidade ainda não atingiu o índice estipulado de 93% de casas com receptores de TV Digital. Segundo a Anatel, apenas 87% da cidade está preparada para o novo sinal. Rio Verde foi escolhida para ser a primeira a ter TV aberta apenas no sinal digital. Inicialmente, a meta era que o sinal fosse encerrado no dia 14 de dezembro.
O desligamento do sinal analógico dos canais de maior audiência, como Globo, SBT, Band e Record, acontecem no dia 29 de fevereiro. Isso será confirmado, segundo Roberto Zerbone, conselheiro da Anatel, à Folha de São Paulo, caso os índices alcancem mais de 90%. Caso não chegue a essa porcentagem, o cronograma será atrasado. Entretanto, os canais que tiverem sido desligados, não voltarão ao ar.
Para atingir o índice desejado, conversores digitais estão sendo distribuídos às famílias registradas no Cadastro Único, que reúne os beneficiados pelos programas sociais do Governo. De acordo com o último cronograma, Brasília terá o desligamento em outubro e São Paulo em março de 2017.
O maior desafio para o desligamento do sinal analógico nas grandes capitais é o tamanho das regiões e a complexidade técnica do trabalho, explica Olímpio José Franco, presidente da SET (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão) e engenheiro-chefe do Departamento de Rádio e TV da Faap. “O cumprimento do cronograma vai depender de vários fatores. O maior é a comunicação, a forma como a população vai se atualizar e entender o que precisa ser mudado para continuar recebendo o sinal, que é ou ter um conversor para as televisões antigas ou comprar uma nova”.
Essa transição, que envolve os grandes mercados consumidores, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, por exemplo, pode abalar a audiência das emissoras, explica Franco. A atualização dos equipamentos depende muito de cada pessoa, que escolhe como vai fazer essas mudanças e se deseja ou não realizá-la.
O adiamento das datas e o não cumprimento do cronograma também pode reforçar a cultura brasileira de deixar tudo para última hora, explica Franco. “O brasileiro só acredita vendo e pode realmente aguardar o desligamento para efetivamente trocar seus equipamentos”, analisa.
Por outro lado, a TV Digital pode alavancar a venda de eletrônicos e conversores, sendo positivo para o mercado. O consumo da programação, opina Franco, também não sofrerá grandes mudanças devido ao hábito dos espectadores. “Na TV aberta é muito forte a procura por notícias ao vivo e regionais. Na TV paga não existe essa regionalização dos conteúdos, que são muito importantes para a sustentação dos canais locais”.
Sobre o cumprimento do cronograma, previsto para ser finalizado em 2018, Franco diz não acreditar nessa data. “Pela dimensão do país, sua diversidade de estados, cidades e condições econômicas, acho difícil concluir nesse prazo. Em cidades pequenas, o desafio é ainda maior porque envolve emissoras que não têm condições de fazer o investimento para que o sinal analógico seja desligado”.