Criação da Eleven de São Francisco, campanha tem como protagonistas manequins sem expressão

É o tipo de campanha para amar ou odiar.  Mas goste-se ou não, ganhou bastante audiência e notoriedade o comercial lançado pela companhia aérea Virgin America na internet, com nada menos que 5 horas e 45 minutos de duração, que retrata a entediante viagem entre Newark, no estado de Nova York, e São Francisco, na Califórnia, numa companhia aérea qualquer chamada Blah.

Os protagonistas são manequins sem expressão, de olhos arregalados e bocas escancaradas para o nada, que passam por todos os momentos-clichês de uma típica viagem desconfortável, com direito à voz estridente e as piadinhas irritantes da aeromoça, os comentários desconexos do comandante, o choro de criança, o lanchinho econômico, o filme de péssima qualidade exibido no ar. A criação é da Eleven de São Francisco.

“Blah Airlines Flight 101” é chato e longo mas também burlesco e inesperado – e certamente corajoso, uma vez que dificilmente alguém assistirá do início ao fim. Mas de tão estranho, gerou grande curiosidade. É surpreendente e carrega a personalidade espirituosa da Virgin. Talvez se torne, de fato, o “cult movie” que o diretor de criação da Eleven responsável pelo filme, Bryan Houlette, tanto deseja.

“Comercial do dia” no site da Adweek, o filme foi chamado na publicação de “assustador, meio Warhol, e com algo de brilhante”. A ideia é fazer as pessoas refletirem a respeito da decisão de pagar para passar tantas horas entediados dentro de um avião, tendo uma experiência muito semelhante à dos bonecos do filme da Blah Airlines.

Houlette disse à Adweek que o filme mostra que muitas pessoas escolhem companhias aéreas sem personalidade e com serviço lastimável por estarem presas a programas de milhagem, por exemplo. Quase como se funcionassem em piloto automático, ganhando o aspecto dos manequins que aparecem no filme da Blah Airlines. Um lembrete às pessoas de que há maneiras melhores de voar. Por sinal, a agência criou um site para a “Blah Airlines” , cujo slogan é “You will get there” (você vai chegar lá).

Há quem o compare ao projeto “Non-stop Fernando”, também de uma companhia aérea, a Emirates, que para lançar em 2008 seu vôo Dubai-São Paulo de 14 horas e 40 minutos filmou Fernando Ferreira falando exatamente durante todo esse tempo sobre o Brasil. Criação da inglesa Lean Mean Fighting Machine. A ação ganhou dois Leões  de ouro e um de bronze em Cyber, no Cannes Lions, entre outros prêmios.

“Achei um desperdício de dinheiro do cliente apenas para conseguir um factoide. Tentaram repetir o sucesso do “nonstop Fernando” e fizeram uma bobagem”, opina Fernanda Romano, da Naked. Não dá para não lembrar também do clipe de 24 horas de Pharrell Williams para lançar seu hit Happy. O clipe bateu recordes de visualizações, compartilhamentos, paródias. Tendência?

“No mundo fragmentado em que vivemos, a estratégia traz um jeito diferente de tentar prender a atenção do público. Mas não acredito que seja tendência ou seja uma fórmula ou estratégia que se dissemine. Apenas um formato inesperado. “, diz Daniel da Hora, chief creative officer da DH,LO.

Carlos Righi, sócio da produtora Companhia de Cinema, aplaudiu de pé. “É brilhante, angustiante, hilário. A trilha é genial. Diferente de tudo o que eu já vi.”, elogiou. Gui Jahara, CCO na F.biz, acredita que estratégias assim têm objetivos de PR, principalmente. “A coragem de fazer algo assim talvez seja o mais valioso, seja do lado da agência, seja do cliente. É curioso. Mas não é, de fato, para ser assistido completo. Nem em festival de filme alternativo”, brincou.

Fabio Seidl, vice-presidente e diretor de criação executivo na Lapiz, em Chicago, concorda com ele, dizendo que ainda que se ame ou se odeie, a parte que ele particularmente amou foi a coragem de não ter que agradar todo mundo. “O fato de que agência e cliente não tiveram medo de experimentar e errar o caminho, de não saber onde iam chegar. Mesmo sendo uma companhia aérea”, observou.

https://www.youtube.com/watch?v=UsMZRl71Zo4#t=623