Cresci, educado a amar a Petrobras. Aprendi que a marca representava a nossa verdadeira independência, a proteção de nossas riquezas, um pilar da nossa soberania. “O petróleo é nosso!” era um grito que arrepiava. Mesmo em plena ditadura, lembro de um outdoor, anunciando a descoberta de um novo poço, que me encantou. Ainda bem jovem, observei o aumento da presença dos postos Petrobras nas nossas ruas e avenidas, em detrimento das marcas gringas, e isso me provocava certo fervor patriótico.

Em 24 de março de 1999, Fernando Henrique Cardoso nomeou Henri Philippe Reischstul para a presidência da companhia. Profissional escolado no mercado, abandonou o sentimentalismo histórico pela marca, e foi atrás de alguma coisa mais próxima do pragmatismo dos negócios. Assim, do dia para a noite, fez a Petrobras virar PetroBrax. Segundo o próprio afirmou, o nome original continha inconveniências: “Petrobras é um nome moreninho” e “Petrobras, em inglês é Petrosutiã”. Não duraram. Nem a nova marca, nem ele. Vibrei com o resultado final, já que tinha achado um absurdo mexer num “patrimônio” dos brasileiros.

Inclusive, escrevi um artigo na época, caindo de pau na tentativa de mudança. Depois, já na era Lula, veio a descoberta do pré-sal e toda a entusiástica fantasia sobre o que aquilo significava – entramos na Opep? Hoje, eu pediria desculpas a Reichstul. Ele, na verdade, estava retirando a máscara de hipocrisia que cobria a realidade de uma empresa cujo propósito maior já era o de remunerar seus acionistas com gordos dividendos. Por conta de uma resistência ingenuamente nacionalista, no entanto, continuamos agitando essa falsa bandeira patriótica, que serviu para alimentar um vanglorio de idiotas. A eleição do Bozo, enfim, desnudou por completa a aberrante feiura social da companhia.

Hoje, seguramente, a Petrobras pode ser considerada uma marca inimiga dos brasileiros. Quando li que Geisa Sfanini, mãe de um bebê de 18 meses, morreu queimada porque não conseguiu pagar um bujão de gás, e cozinhava com álcool, lembrei, imediatamente, da Petrobrás. E de seu presidente, o general Joaquim Silva e Luna, nomeado pelo Bozo, que recebe um salário de R$ 260 mil por mês.

Esse é o verdadeiro “marketing” da Petrobras; o outro, se é que se pode chamar assim, não passa de um exercício de cinismo defensivo e patético. Se isso tudo foi tramado para criar um clima “favorável” ao processo de venda da parte do governo brasileiro, eu diria que é de uma genialidade quase “menguélica”.

Uma pesquisa para avaliar a imagem da marca, hoje, provavelmente, revelaria, no mínimo, um completo desapego por ela, uma recíproca de indiferença e desprezo, por conta da frieza que a gestão lida com a relação com consumidores e a opinião pública.

Como eu, que um dia me emocionei com o “petróleo é nosso!”, os brasileiros devem estar torcendo para que a Petrobras seja logo passada nos cobres, se assuma gringa, e ganhe a concorrência de outros players poderosos. Quem sabe, até troque de nome, e abandone o disfarce verde-amarelo.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing (stalimircom@gmail.com)