Nada mais incômodo do que planejar sem previsibilidade. Mas, infelizmente, tudo que não temos nesse momento nebuloso é uma mínima visão do que acontecerá nos próximos meses.

Nebuloso é um bom termo para definir esse período instável. E, como diria o finado político mineiro Magalhães Pinto, bastante atuante nas décadas de 1960 e 1970: “Política é como nuvem. Você olha e ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou”.

Extrapolando a política, o sentido figurado das nuvens mutantes cabe bem na nossa conjuntura. A pandemia está acabando – você olha de novo e aparece a tal variante Delta.

A inflação está sob controle – olha de novo e lá vem pressão inflacionária. A única coisa que não muda é o quadro político, frequentemente agitado por relações conflituosas por conta de um Executivo beligerante. E aí o que vemos no horizonte são nuvens carregadas que, em vez de prover água no meio dessa secura incômoda, só geram discórdia e preocupação.

De uns tempos para cá, muitos empresários já não esperaram a previsão do tempo político e decidiram tocar a vida empresarial de forma pragmática, procurando não olhar muito para as nuvens carregadas da política. Assim, tocando a vida, alguns setores econômicos até conseguiram uma boa performance, a despeito da instabilidade e da incerteza.

Mas até quando será possível ficar ausente desse rebuliço institucional que assola nosso país? O 7 de Setembro que se avizinha traz previsões de trovoadas polarizadas ao cenário sócio-político brasileiro. O que esperar desse imbróglio que se nos apresenta?

No campo da famigerada pandemia, a distensão provocada pelos governos estaduais ao flexibilizar a realização de eventos e fazer voltar o funcionamento normal de estabelecimentos comerciais é comemorada. Mas alguns permanecem com um pé atrás, perante exemplos internacionais de recrudescimento, em função da variante Delta. E lá vem a incerteza. Devo programar meu evento nos últimos meses deste ano?, perguntam empresários. E a nossa resposta só pode ser sim, já que há uma expressa autorização governamental. A propósito, já há mais de 100 eventos programados para os próximos meses em São Paulo.

Mesmo os eventos de maior aglomeração já têm um horizonte de factibilidade, em função da promessa paulista de flexibilizar ainda mais o setor, a partir de novembro. O GP de Fórmula 1 será realizado em São Paulo, com público liberado, comunica o governador de SP.

Teremos um Lollapalooza grandioso, completa o governador. O The Town, empreendimento de entretenimento do megalômano Roberto Medina, já está sendo planejado para se instalar no autódromo de Interlagos. No Rio, já se dá como certa a realização do Carnaval.

Mas a experiência de presença de público em jogos de futebol em Belo Horizonte foi preocupante, em função da indisciplina do público quanto aos protocolos. Algumas feiras de negócios, reagendadas para os próximos meses voltaram atrás, deixando para o próximo ano.

Mas, o certo é que, pelo Brasil afora, as previsões em torno dos eventos são de um retorno à normalidade em 2022. Isso tudo poderia gerar um efeito positivo nos negócios, já que os eventos são geradores de forte movimentação, mobilizando mais de 50 setores no seu entorno, favorecendo o turismo, o transporte, os serviços especializados, alimentos e bebidas, plataformas digitais e muitos outros sub-setores econômicos.

Mas, ao sairmos da visão segmentada dos eventos, como prever o que nos espera na corda bamba da política? Como será o clima do nosso país em um 2022 de eleições? Como ter a garantia de que será possível tocar negócios no meio dessa turbulência institucional?

De um lado, o empresariado sensível aos princípios ESG, prometendo maior cuidado ambiental, responsabilidade social e governança transparente; de outro, uma política polarizada e beligerante, à beira de conflitos. Quais serão as nuvens que prevalecerão nos céus do nosso país?

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)