A comunicação do segmento de healthcare se depara, vez ou outra, com grandes desafios. E, na área de saúde, a falta de mensagens claras sobre um assunto pode ocasionar em desinformação ou disseminação de fake news, como tem sido possível observar durante o atual surto do coronavírus. A mesma lógica vale para enfermidades muito mais antigas e tão ou mais graves quanto, como o vírus do HIV e a Aids.

O assunto do vírus volta à tona em momentos específicos, como o Dia Mundial de Combate à Aids, no começo de dezembro, ou às vésperas do Carnaval, como agora, quando se reforçam campanhas para evitar o contágio. E até mesmo em situações inesperadas, como na semana passada, quando o presidente Jair Bolsonaro afirmou que as pessoas como HIV representam “despesa” para todos no Brasil. Seja como for, a exposição do assunto, em geral, é muito menor que nos anos 1980 e 1990, o que traz a necessidade de se reforçar esse vínculo especialmente com as novas gerações.

Campanha da GSK: Diego Krausz, de 27 anos, mostrou como a informação e o esclarecimento médico foram fundamentais para tirá-lo da “falta de ar”


“São jovens que não viram um Cazuza um um Henfil morrerem por causa da Aids. Eles precisam ser impactados por essa comunicação, e entender que existe o risco e perigo”, afirma João Consorte, CEO da McCann Health Brasil. 

A agência participou recentemente de uma campanha da GSK/ViiV Healthcare que visou o empoderamento de pessoas que convivem com o HIV. A farmacêutica convidou o youtuber Gabriel Comicholi, para reproduzir a ação do Free Hugs (movimento social que envolve pessoas oferecendo abraços para desconhecidos em locais públicos) na Avenida Paulista, em São Paulo. A ideia foi inspirada na atitude adotada pela princesa Diana na década de 1980, que visitava hospitais para abraçar, apertar as mãos e interagir com pessoas vivendo com HIV. 

Intitulada “Abrace a Positividade”, a campanha da GSK também foi composta pelo site Vivo no Positivo, que conta com informações, assistência e acompanhamento para estimular que pacientes procurem uma melhor qualidade de vida, e com desmistificação de informações falsas e dados sobre prevenção e testagem para os não infectados. “Se engana quem pensa que ele (Gabriel) recebeu menos abraços depois de deixar claro que tinha o vírus”, revela Consorte. 

Nesta ação, a ideia da empresa farmacêutica foi de se aproximar do público fornecendo informações que incluem não apenas o uso correto de medicamentos, mas também a adoção de medidas para uma vida mais saudável. A campanha trouxe cinco depoimentos reais de pessoas com HIV positivo, como Thais Renovatto, que contraiu o vírus do namorado, a quem viu falecer. Depois de procurar por tratamento, casou-se, teve dois filhos e está grávida do terceiro, e nenhum deles foi contaminado. 

Outra das histórias contadas é de Diego Krausz, de 27 anos, que mostrou como a informação e o esclarecimento médico e o apoio da mãe foram fundamentais para tirá-lo da “falta de ar” e do sentimento de solidão em que havia caído após saber da doença, mudando por completo seu modo de lidar com isso e tendendo a ter um olhar mais positivo sobre a vida. 

Queda

Por trás de histórias como essas, cresce a necessidade de se disseminar informações corretas e frequentes, em tempos de fake news, que possam fazer a diferença na qualidade de vida e contribuir para que as pessoas vivam com maior bem-estar. Essa missão é do governo, mas não apenas dele. Mídia, empresas e agências precisam estar atentas para fazer sua parte para não deixar o assunto cair no esquecimento.

Os dados mostram que são 866 mil pessoas que convivem com o vírus no Brasil, segundo informações atualizadas do Ministério da Saúde. As políticas públicas de combate ao HIV/Aids no Brasil, desde 1996, garantem o tratamento universal e gratuito no Sistema Único de Saúde (SUS) para pacientes. Isso se reflete no aumento do tempo de vida dessa população, segundo o Estudo de Abrangência Nacional de Sobrevida e Mortalidade de Pacientes com Aids no Brasil. A pesquisa aponta que 70% dos adultos e 87% das crianças diagnosticadas entre 2003 e 2007 tiveram sobrevida superior a 12 anos. Em 1996, a sobrevida estimada era de cinco anos. 

O Brasil, assim, chegou a três décadas de de luta contra o HIV/Aids com queda no número de óbitos. A garantia do tratamento para todos e a melhoria do diagnóstico contribuíram para a melhora no cenário, além da ampliação do acesso aos testes e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento.

Mas embora a epidemia no país seja considerada estabilizada, não significa, como lembra Consorte, que o problema não existe mais. Pelo contrário. “Onde há desinformação, fala-se o que quer”, resume.

João Consorte, da McCann Health: “Há jovens que não viram um Cazuza um um Henfil morrerem por causa da Aids. Eles precisam ser impactados por essa comunicação”
Crédito: Divulgação

Dúvidas

Com foco nas dúvidas do público mais jovem, o Ministério da Saúde lançou em dezembro uma campanha criada pela CC&P com o objetivo de mudar, na população brasileira, a atitude e a percepção da importância da prevenção, teste e tratamento do HIV para evitar a Aids. Com o conceito “HIV/Aids. Se a dúvida acaba, a vida continua”, a ação quer combater o problema de que um grande número de brasileiros não sabe que convive com o vírus HIV, cerca de 135 mil pessoas. Embora estabilizado, o vírus tem crescido a contaminação entre homens jovens, faixa etária mais vulnerável. 

Comunicação do Ministério da Saúde ressalta que, mesmo com o resultado negativo, é importante continuar usando camisinha e se protegendo do HIV


Com o mote “E Se?”, a ação traz a dúvida aos jovens que não usaram camisinha e estimula a atitude de se fazer o teste de HIV com o objetivo de acabar com essa dúvida. E, se der positivo, a campanha informa que, com o tratamento adequado, o vírus pode ficar indetectável e a pessoa não desenvolver a Aids.

A comunicação ressalta também que, mesmo com o resultado negativo, é importante continuar usando camisinha e se protegendo do HIV e outras Infecções Sexualmente Transmissíveis – IST. A campanha teve filme para TV, peças de mídia exterior como outdoor social, DOOH, peças para internet e redes sociais, cartazes e spot para rádio.A mídia também tem papel importante no processo. Tanto que, nas últimas semanas, a Globo reforçou a veiculação de sua campanha “Viver Melhor”, em parceria com o UNAIDS, programa conjunto da ONU sobre HIV e Aids. No filme, um praticante de slackline se equilibra em cima da fita. Com passos cuidadosos, olhar firme e muita concentração, ele consegue ir até o final e terminar o percurso. O mesmo não ocorre quando ele coloca uma venda nos olhos.

A ação existe há alguns anos e tem como objetivo gerar mobilização social em cima do assunto, especialmente pelos mais jovens.  “A AIDS não tem cara, classe e nem gênero. Qualquer um de nós pode se infectar e isto está crescendo entre os jovens, pessoas como vocês”, afirma a ação, que teve reforço no passado em programas como Altas Horas e Encontro com Fátima Bernardes.