1. Neste momento de eleições majoritárias que decidem o futuro do país, pelo menos nos próximos quatro anos, constrangem as declarações do ex-presidente Lula da Silva, batendo repetidamente em uma das suas teclas preferidas que é a da imprensa por ele qualificada de conservadora.

Ele deveria lembrar-se do seu começo como líder sindical, com o país em um regime político de exceção e a imprensa fazendo o seu nome e contribuindo para torná-lo um dos mais respeitados líderes populares que o Brasil já teve.

Graças a esse apoio, que ele chegou a reconhecer no passado, mas deve ter esquecido, Lula da Silva elegeu-se e reelegeu-se presidente da República, ajudando por sua vez a eleger também a sua sucessora e hoje presidente da República Dilma Rousseff.

Como, porém, todo poder é desgastante e um dos alicerces da democracia reside na alternância de governantes, grande parte da população brasileira julga que chegou a hora de uma troca de comando na nação.

A imprensa, caudatária do pensamento da opinião pública, reflete esse desejo, fato que não deveria incomodar o ex-presidente Lula da Silva.

Mas, eis que ocorre o contrário e ele se volta com frequência contra a imprensa livre do país, adjetivando-a não só de conservadora, como acusando os proprietários das principais empresas jornalísticas de terem terceirizado suas corporações.

Sem perceber, Lula da Silva cai em uma cilada, confirmando o dito popular que reconhece que quem fala muito dá bom dia a cavalo.

A cilada é ignorar que os noticiosos são feitos por jornalistas, profissionais que têm opiniões e preferências e que não ocupam espaço e tempo nas plataformas de comunicação, sem terem capacidade para isso.

Ainda nesta última quinta-feira (2), Lula afirmou discursando na região do ABC “imaginar que o ódio da elite contra ele se devia ao fato dele ter sido analfabeto e chegar à presidência do Brasil”, concluindo que por isso foi “trucidado pela imprensa” durante os oito anos dos seus dois períodos de governo.

Não há nenhuma veracidade nessas afirmações e tampouco em outra no mesmo ato, quando apontou para a existência de “uma doutrina de nove famílias que dominam a comunicação, determinam quem é o inimigo”.

Os jornalistas sabem que isso não existe e Lula da Silva sequer percebeu a contradição das suas palavras: se os proprietários das empresas de comunicação “terceirizaram” seus negócios, como podem dominar o setor e determinar quem é o inimigo?

A teoria da conspiração, como se vê, corre solta pelas palavras de Lula da Silva, mesmo estando seu partido no poder há 12 anos e com vantagem na atual disputa pelos próximos quatro anos.

A psicologia pode explicar melhor a insistência de Lula nessa postura contra a imprensa livre brasileira. A criação de um alvo a ser constantemente atacado, pode transformá-lo em um bode expiatório, que acaba recebendo indevidamente culpas alheias.

Cabe ao leitor analisar o que prefere: a imprensa brasileira constantemente atacada e com maior rigor nos períodos eleitorais e prosseguindo contudo no seu dever para com a opinião pública de relatar o que apura e chega ao seu conhecimento, ou a imprensa submissa dos regimes fortes, meros boletins reprodutores das vozes dos gestores de plantão.

Na verdade, o Brasil já fez essa opção de há muito. Desde Rui, quando sentenciou que a imprensa são os olhos da nação e até muito antes do consagrado baiano, o povo brasileiro aprendeu a distinguir a boa da má imprensa, que na verdade trata-se de uma figura de retórica, pois se é má, não é imprensa. É outra coisa.

Em respeito ao pedestal que a imprensa livre brasileira muito ajudou a lhe colocar, Luiz Inácio Lula da Silva deveria abandonar de uma vez por todas esse caminho de alvejá-la sem o menor sentido.

Sendo uma pessoa do bem como é, cabe-lhe essa reflexão.

2. Em meio aos disparates eleitorais, vem à tona que a OAB de Brasília negou a devolução do registro de advogado ao ex-ministro e presidente do STF Joaquim Barbosa.

A alegação seria a de que ele construiu nos últimos tempos uma história de maus-tratos contra advogados.

Possivelmente, essa ilação dos responsáveis pela OAB do DF emana do julgamento do mensalão, quando Barbosa não se rendeu aos poderosos da época, optando pelo rigoroso cumprimento da lei.

Se esse é o motivo da recusa da entidade brasiliense, só temos a lamentar, dispensando maiores comentários a respeito.

3. Merece aplausos a volta da campanha publicitária do Itaú, recomendando-nos ler para uma criança. O gesto dos adultos nesse sentido, um verdadeiro prazer, em muito contribuirá para um país melhor dentro de alguns anos, aumentando a capacidade de discernimento nos cidadãos desse futuro breve.

Saberão separar o joio do trigo, sendo melhor informados desde a mais tenra idade. Muito provavelmente, não cairão mais nos engodos dos trapaceiros e espertalhões.

4. O mundo do futebol comemorou muito pouco a mais recente decisão da Fifa, que eliminará em um prazo de quatro anos, a figura do empresário de atleta.

Segundo a Fifa, os direitos econômicos dos jogadores deverão pertencer aos clubes – como era no passado – além dos seus direitos federativos.

A medida tende a diminuir a imensa corrupção que se instalou no futebol mundial, onde dirigentes de clubes são ao mesmo tempo proprietários desses direitos, forçando a escalação dos atletas no intuito de valorizá-los para futuras transações.

Aqui no Brasil, muito cabeça de bagre deixará de ser exaltado como craque, abrindo brecha nas posições em que atuam para o surgimento de novos e verdadeiros craques que hoje se recusam a participar desse jogo sujo de bastidores.

Há nessa decisão da entidade maior do futebol mundial, uma grande possibilidade de o Brasil voltar a ser o que já foi aos olhos do mundo.

Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2518 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 6 de outubro de 2014