Supostamente o beato Antônio Conselheiro teria previsto que “o sertão vai virar mar, o mar vai virar sertão”. Quando olho no que se apresenta, e vejo a Nestlé e a Unilever atropelando desembestadas a cadeia de valor e vendendo direto ao tal do consumidor final, leia-se, nós, pelo Facebook, começo a sorrir de nervosismo.

Quando do dia para a noite os grandes bancos são atacados por milhares de bichinhos chamados fintechs, que até ontem eram lojas, sites, farmácias, barracas de feira, sorveteiro da esquina e todos os zé manés possíveis e inimagináveis, abro um sorrisão, mas minhas mãos tremem.

Quando as casas de leilões de móveis, geladeiras, fogões, tapetes recusam-se a receber mercadoria porque não têm mais onde literalmente enfiar, tão grave é a ressaca da coronacrise, já não consigo nem mesmo esboçar um sorriso.

Quando João Doria e Jair Bolsonaro se estapeiam na disputa de uma luta de box só programada para novembro de 2022, começo a me coçar e tenho vontade de espancar os irresponsáveis. Mas, de repente, quando me aproximo, o Doria, que tem uma casa de um quarteirão nos Jardins e um Palácio no Morumbi, de dedo em riste, cuspindo fogo pelos olhos e de chicote nas mãos manda os miseráveis trancarem-se em seus barracos e cubículos; e Bolsonaro, em sua tosca normalidade, manda demitir todos os que os cercam, exclusive e tão somente seus santos filhos, começo a colocar em dúvida nossa sanidade mental.

Onde foram parar as almas abençoadas e generosas? As pessoas de boa-fé, dotadas de imensa compaixão e infinita empatia? O gato comeu? Em 20 anos cinco empresas, as tais das big techs, apoderaram-se do mundo. Incomodava-nos, antes, vizinhos bisbilhoteiros que sempre encontravam um jeito de invadirem nossas vidas. E palpitarem… Hoje, sorrimos de felicidade, entregamos tudo, numa boa, de uma forma mais absurda do que os índios encantados com pentes e fivelas. E quando circunstancialmente, assim como no filme Awakenings, temos breve despertares e esboçando alguma reclamação, as top five nos mandam calar a boca, mesmo porque elas não têm nada com isso, mesmo porque e quando perguntados se aceitávamos, dissemos, açodados e excitados, Sim! Sim! Sim!

As top fives são capazes de prever com uma margem de erro inferior a 1% o que vamos comprar nas próximas horas, quando soltaremos o próximo pum, e se as eleições fossem hoje, com absoluta certeza e precisão o nome dos vencedores. A AI – Artificial Intelligence –, mais que encontrar todas as respostas, é capaz de fazer perguntas que somos incapazes de formular e, assim, descobrir coisas sobre os carneirinhos, nós, que jamais consideramos. Mas um dia…

Diminuímos na bebida e nos intoxicamos nas redes sociais. DDT – Delirius Digital Tremens! Assim, na primeira metade desta década, o mundo passará por uma geral, acionando um megafreio de arrumação.

Joana I, rainha de Nápoles e condessa da Provença, estipulou os estatutos dos bordéis de Avinhão. E notabilizou-se por ser a proprietária da casa mais famosa do mundo, a Casa da Mãe Joana. Que é onde hoje estamos todos, provisória e precariamente, morando. Assim, chegou a hora do pit stop. Para uma água, regulação, antes de seguirmos em frente.

E de as big techs voltarem à Terra, respeitar incautos, ingênuos e inconsequentes, e, como dizia o Pequeno Príncipe, serem responsáveis pelos tontos que cativaram com muita tralha, bugigangas e coisas extraordinárias e espetaculares.

“Gimme a Break!”