Há alguns meses todos nós observamos o desembarque da febre chamada Pokémon Go no Brasil, o joguinho de realidade aumentada que promove uma caçada virtual via geolocalização. No game, os simpáticos bichinhos criados por Satoshi Tajiri na década de 90 são plotados em uma coordenada x,y,z, por isso é possível vê-los e capturá-los apenas através do app instalado em um smartphone. O game entrou na vida de milhões de pessoas, mostrando, em larga escala, como a realidade virtual influencia a vida real. 

 É um caminho sem volta. Enquanto as pessoas se desligam do mundo ao redor para manterem os olhos fixos no celular e capturar Pokémons, outros desenvolvedores quebram a cabeça para lançar – e num curto período de tempo – novos jogos e aplicações similares ao game, baseados nos acertos desse fenômeno. 

 Deixando de lado os futuros apps que para nada servirão (sim, não é sempre que se criam sucessos Pokémons Go), eu aposto também no lado positivo de se explorar a possibilidade do usuário ver algo através do celular (realidade virtual) que os olhos não conseguem enxergar (realidade).

Ao aliar essa dinâmica ao incrível poder de geolocalização dos celulares, posso afirmar que não está distante o dia em que você passará por uma loja de shopping na qual costuma comprar para ver, via celular, um look com desconto na vitrine, esperando por você. Já há aplicativos que gentilmente informam descontos quando percebem a sua presença no recinto, mas nada seria mais tentador do que “ver” uma roupa pensada para você, baseada no seu histórico de compras. 

As oportunidades não têm fim. Que tal “ver” um pouco de uma exposição ainda do lado de fora de um museu, para aguçar a curiosidade? Já temos alguns ambientes virtuais incríveis na rede – a exposição do multifacetado artista Ai WeiWei na Royal Academy of Arts de Londres é prova disso – mas imaginem andar na Avenida Paulista, mirar o belo prédio do Masp e se deparar com um Portinari virtual… Mágico, não? Melhor ainda se pudermos ler virtualmente sobre a exposição e a obra. Ou, quem sabe, direcionar o celular naquele flerte do barzinho e enxergar o perfil do Facebook? Ok, posso estar apenas viajando, mas se (ou quando) isso acontecer, lembrem deste texto. 

Para aqueles que não compreendem a brincadeira e acham esquisito ficar apontando dispositivos móveis por aí, vale lembrar que o Pokémon Go pode ser o empurrãozinho que faltava para a proliferação em larga escala do Google Glass ou VR Cardboards. Quanto mais aplicações de realidade aumentada, mais propenso é o cenário de um novo hardware que nos mostre o mundo virtual de cada dia. Estejamos antenados para acompanhar o futuro real, que já está sendo capturado por aí. 

Frederico Pericini é sócio e diretor comercial da agência f2f-digital