Contra a maré da maioria dos setores que tiveram impactos negativos durante a pandemia, a foodtech Liv Up teve crescimento de 73% nas buscas do Google nos últimos três meses, e está entre as 100 startups mais procuradas pelo público na internet. As razões para a popularidade acelerada da marca são diversas, a começar pelo interesse das pessoas por uma alimentação mais saudável na quarentena. Como seu core business está na oferta de comida orgânica, sem aditivos químicos ou conservantes, a plataforma se popularizou também pela praticidade no preparo dos alimentos congelados e na entrega em casa.

Stella Brant, CMO da Liv Up: “se você se sente dono e age como tal, a empresa te vê assim também”

À frente do marketing da startup está Stella Brant, sócia e CMO da empresa, que assumiu o barco em abril, em meio às mudanças que a marca estava fazendo para dar vazão à demanda acelerada. Com carreira sólida na liderança do marketing de companhias globais como AB Inbev e 99, a executiva decidiu empreender e liderar o próprio negócio. Na entrevista a seguir, Stella fala sobre os aprendizados em multinacionais, a nova dinâmica em uma startup e como tem ajudado a ressignificar o próposito da Liv Up.

Aprendizados
Trago uma visão de dono e a vontade de impactar a vida das pessoas tanto quanto o resultado da empresa. Uma das coisas que aprendi na minha grande escola, a AB Inbev, foi que, independentemente da posição no organograma, tínhamos um papel decisivo para impactar os resultados e na busca por revolucionar e transformar. Essa vontade
de trazer valor para a marca e, ao mesmo tempo, agregar valor para as pessoas é o que eu trago de grande experiência. A 99 também me trouxe esse olhar de startup e de empreendedora, que eu sempre exerci.
Eu me senti empreendendo também na Ambev. A gente buscava muito isso, essa vontade de empreender. Porque se você se sente dono e age como tal, a empresa te vê assim também.

Mudança de cadeira
Numa startup, a empresa depende das pessoas que estão lá. Os times são mais enxutos, a velocidade é muito grande. O espírito empreendedor precisa estar sempre vivo. Juntar esse lado de visão estratégica com a capacidade de fazer acontecer é um misto de perfil imprescindível para quem quer estar em uma startup. Eu aprimorei essa visão quando estava na 99, onde a gente tinha
um competidor muito forte, sinônimo de categoria e que a marca precisava mostrar o seu valor. E agora na Liv Up, a gente tem o desejo de trazer disrupção para a indústria da alimentação. Como fazer isso? Com um produto muito bom, que agrega valor com uma percepção muito positiva, em uma refeição 100% natural, sem aditivos, que chega na sua casa de forma prática. Temos um produto que traz uma solução real para um problema real.

Novos ares
Uma das coisas que me fizeram querer migrar para as startups, ainda que seja uma decisão muito difícil, é a capacidade de aprender diariamente. Isso é recompensador. O aprendizado diário foi o que me fez migrar. Minha experiência me ensinou muito, mas essa troca diária me deixa ter mais paixão pelo negócio. No mundo de tecnologia, é preciso entender a máquina de dados, como cocriar com o consumidor e ter um pulso do que está acontecendo com rapidez. E, por outro lado, a preocupação com a sociedade, construir toda a cadeia baseada no high tech e no high touch, em proximidade. É atuar com produtores familiares, e como fomentar essa agricultura, entendendo ao mesmo tempo que o consumidor quer ter acesso a uma comida mais natural.

Saudabilidade
A gente já vinha acompanhando as tendências de comer e viver bem, e essa busca por saber a origem dos alimentos. E o momento de pandemia acelerou isso ainda mais. Esse cenário tem tudo a ver com
o propósito da Liv Up. Há 4 anos, quando surgimos, vimos a necessidade que as pessoas têm de querer comer bem, mas com o impeditivo do tempo para o preparo. Não só por longevidade, não dá para cuidar disso apenas quando envelhecermos. Isso vem sendo disseminado já há algum tempo. Somos pioneiros na proposta de crescimento consistente. Tanto é que nosso crescimento triplica a cada ano.

Aceleração
Todos os setores sofreram e, por fazermos parte de uma categoria de serviço essencial, vimos que a pandemia acelerou o nosso negócio. Muitas pessoas estão buscando alimentação mais saudável. Mas nos demos conta que temos responsabilidade pelo tamanho do nosso privilégio. Enquanto muitos produtores tiveram excesso de alimentos parados e quase perderam tudo, do outro lado, cada vez mais pessoas estavam querendo praticidade na alimentação em casa. Mexemos em toda a nossa cadeia e organização, para comprar desses produtores os alimentos e disponibilizamos cestas de orgânicos para as pessoas. É um serviço completamente diferente do nosso core, que é comida saudável congelada, mas que complementa as necessidades dos consumidores. Agora estamos ampliando essa oferta. Antes disponibilizávamos frutas, legumes e verduras, agora temos ovos e shitake para ampliar a quantidade de coisas do campo e otimizar cada vez mais a cadeia. Além de lançar essa cesta de orgânicos para a venda, doamos até agora mais de 14 toneladas de alimentos. Se tem um problema real e podemos ser parte da solução, é nossa responsabilidade agir. Trabalhamos de forma integrada para a construção de marca e de propósito, trazendo uma solução que impacta toda a cadeia. Funciona para todas.

Delivery
A gente abriu nossa cozinha para o preparo de saladas a pronta entrega poucos dias antes da pandemia. Contratamos uma empresa de entregas particular, não fazemos parte de serviços de delivery já estabelecidos em aplicativos porque assim garantimos o melhor serviço de entrega e melhores condições de trabalho para os entregadores também. A proposta da Salad Stories é mostrar a história por trás dos ingredientes, sua procedência. São refeições grandes, proteicas, completas, que substituem o jantar ou o almoço, sempre com ingredientes orgânicos de produtores familiares. O serviço materializa uma experiência que já fazemos com os pratos congelados. Estamos agora expandindo com mais cozinhas e ampliando o cardápio. Para o inverno lançamos as sopas.

Comunicação
A marca Liv Up sempre foi bem construída em seus diversos pontos de contato. Nunca havia anunciado nas mídias tradicionais, até pela sua essência digital, somos mais focados em marketing de performance e, aos poucos, refinamos esse posicionamento, trazendo mais clareza, consistência e mensagem mais clara para todos. Costumamos dizer que temos dois tipos de público: aquele que já conhece e ama, e os que não conhecem muito bem ainda. Existe um grau de satisfação chamado NPS que avalia o quanto você recomenda determinada marca, e estamos com 80 pontos de recomendação, é muito alto. Isso é motivo de orgulho. Fomos também citados entre as 100 startups mais lembradas nas buscas do Google. Tivemos crescimento de 73% nas pesquisas nos últimos 3 meses. Cada vez mais a marca vem trazendo resultado não só de negócio, mas de reconhecimento de branding.

Estreia
Com a nova campanha na TV paga, a gente viu uma oportunidade de aumentar o conhecimento da marca e dar continuidade ao trabalho de criar valor para as pessoas. Testamos um novo modelo de formato que vai além da comunicação digital. O meio TV traz uma eficiência muito grande. Tanto pela tendência de as pessoas estarem mais tempo em casa na pandemia e, consequentemente, vendo mais TV, mas pela eficiência de combinar meios. Foi um desafio criar um conteúdo em clausura, agência de um lado, produtora do outro, mas ficamos felizes pelo resultado, que traz essa praticidade da marca. As pessoas entenderam o que é o saquinho com o alimento, como usar de forma fácil. Temos um time de criativos e vimos a possibilidade de somar esforços com a agência CP+B. Estamos trabalhando com eles por projetos, e temos sentido uma sinergia de propósito interessante que nos ajuda a aprimorar ideias e traz complementariedade para o time.

Colaboração
Cocriação é muito importante. Fazemos muito com o consumidor e buscamos essa dinâmica com todos. Ela é chave desde que a Liv Up foi fundada e na relação com os produtores. E, na pandemia, vimos oportunidade de agregar empresas com propósito. Na Páscoa, por exemplo, fizemos parceria com a Dengo, e vendemos os ovos de chocolate. Temos hoje parceria com marca Green People e Natural One, para oferecermos sucos naturais. O objetivo é sempre a complementariedade da cesta e todos saem ganhando. Conseguimos levar valor e otimizar nossa cadeia.