Dupla de influenciadores fala da dificuldade em conseguir patrocinadores para o reality: 'posicionamento pode estar afetando'

Eduardo Martini Camargo e Filipe José de Oliveira, 33 e 34 anos, começaram as suas trajetórias na internet há nove anos, com uma página de memes e piadas no Facebook. Alguns anos depois, ambos decidiram migrar para o YouTube e, assim, nasceu o canal Diva Depressão.

Atualmente, o canal conta com mais de 3 milhões de inscritos, mais de 700 milhões de visualizações e inúmeros projetos pensados em conjunto com a Dia Estúdio.

Ao longo dos anos, o casal acumulou números, engajamento e relacionamento com marcas como Avon, TIM, YouTube, Coca-Cola, Pizza Hut, GNT e Philips, além de estarem no time de divulgação do Novelei, projeto da Globo, e de terem participado das lives de Black Friday da Americanas.

Em 2018, Edu e Fih deram início ao "Corrida das Blogueiras", um reality show com provas e desafios para decidir quem seria o próximo influenciador de sucesso da internet.

O projeto já contou com inúmeros patrocínios, como Avon, Tim e Leroy Merlin nas edições passadas, mas segundo os meninos, a quarta edição do reality está ameaçada por falta de marcas parceiras.

"Tivemos muita audiência nas últimas temporadas, mas está muito difícil de conseguir patrocínio para essa", afirmou Edu.

Vocês começaram o Diva Depressão no Facebook. Como foi a ideia?
Edu: A gente criou a página em julho de 2012. O Facebook estava em uma época muito boa de páginas de humor, de meme... O Fih que criou a página com o intuito de brincar mesmo.

Fih: Era só um a zoeira mesmo, sem nenhuma pretensão. Era um lugar onde a gente podia reclamar do trabalho, de chefe e colocar algumas piadas internas. Eu comecei a fazer as imagens, compartilhar na minha linha do tempo da rede mesmo e eu via que o Eduardo e uma outra amiga nossa se divertiam, achavam graça das postagens. Eles até comentavam que parecia que a página era uma coisa nossa e foi ai que eu revelei para eles que eu era a pessoa que cuidava da página e perguntei se eles queriam participar, mas era só por diversão mesmo.

Edu: A gente não tinha essa visão de ter números e transformar isso em um negócio. Era só diversão mesmo.

Em que momento vocês entenderam que isso tinha virado o trabalho de vocês?
Edu: Foi na época do Facebook ainda. Na época, a gente tinha 80 mil seguidores — o que era muita coisa — e decidimos criar uma lojinha online para vender caneca, camiseta das coisas que a gente postava. Ali, a gente entendeu que dava para tentar uma renda extra com os números que a gente tinha.

Fih: A gente via muito as pessoas do nosso círculo de amigos compartilhando e na época que bateu os 80 mil, não parou de crescer.

Nessa época, como era a relação de vocês com as marcas?
Edu: A gente não teve nenhuma grande marca nessa época. Virem alguns pequenos empreendedores com lojas físicas querendo fazer coisas com a gente, como camisetas, mas nunca foi para frente.

Fih: Só veio marca mesmo quando a gente criou o blog Diva Depressão. Na época, a marca Uatt? fez uma parceria com a gente, então quando tinha promoção na loja, a gente fazia um post, algo assim, mas nada muito grande.

Edu: Eles tinham uma linha chamada Diva, que existe até hoje. A gente postava bastante coisa deles.

E como foi a ida da Diva Depressão para o YouTube?
Edu: Em paralelo ao blog, a gente teve algumas oportunidades de criar pautas para o Uol. Eles tinham uma aba de entretenimento que falava de Oscar, A Fazenda etc e ali a gente conseguiu expandir o conteúdo. Vira e mexe eles chamavam a gente para alguma live, eu até cheguei a participar de uma, sem o Fih, sobre o Oscar. Nessa época, em 2014/2015, tinha esse 'boom' do YouTube, com muita gente grande, e eu botei na minha cabeça que se a gente não criasse um canal e não aparece mais, as coisas não iam andar sabe? Eu sentia que a gente nadava, nadava e morria na praia. As oportunidades pingavam, eu sentia que dava para tirar mais e comecei a pensar que ao invés de fazer as lives no UOL, a gente podia estar fazendo para a gente. No final de 2015, a gente começou a morar juntos e decidimos começar o canal como uma última tentativa de deslanchar os números e o engajamento, que até então, tinha muito ainda nas outras redes.

Fih: Quando a gente entrou nesse meio, falavam que os primeiros youtubers que eram a Kefera, Christian Figueiredo, Felipe Castanhari monetizavam demais os vídeos, mas na nossa época, já era um pouco mais disperso e mais diverso também. As marcas já tinham outras opções de criadores.

Foi no Youtube que vocês entenderam que isso tinha virado, de fato, um trabalho?
Edu: Foi. Eu ainda trabalhava fora quando a gente começou o canal, mas três ou quatro meses depois eu fui demitido. O Fih já ficava todo o tempo cuidando das coisas do Diva, então o pouco que entrava de posts no blog, por exemplo, era ele que segurava. Quando eu fui demitido, a gente focou em tentar ficar só com o canal, então a gente triplicou o número de vídeos publicados lá e nos aplicamos muito para fazer funcionar. A gente pensou que poderia dar certo e em um ano, um ano e meio, deu.

Qual foi a primeira grande marca a apostar em vocês?
Fih: Foi com a Netflix, mas não era com o canal em si. Eles fizeram uma ação que pegaram a gente, que era do núcleo de fofoca e juntou com outro criador do núcleo, que é o Nana Rude e a ação era meio que uma batalha dos fofoqueiros. Foi um dinheiro bom, sabe? E com ele, a gente começou a investir no canal.

Edu: Mas com o canal demorou muito para a gente começar a fazer as campanhas. A gente achava que era muito por conta da nossa linguagem, que era muito ácida, e colocamos na cabeça que para conseguirmos fazer alguma coisa, a gente tinha que ter muito número e foi ai que caímos de cabeça na produção de conteúdo mesmo.

Com o tempo, as marcas passaram a incluir a diversidade nas suas campanhas. Como vocês e enxergam esse movimento?
Edu: É muito legal ver a iniciativa de muitas marcas, acho que muitas delas entraram de cabeça nessa questão de se preocupar com a diversidade. Óbvio que existem muitas que só fazem em junho, mas tem muitas que a gente sente que é uma mudança de dentro para fora, como a TIM. Nós somos embaixadores deles a muitos anos e, quando começamos a trabalhar juntos, eles nem falavam tanto de diversidade e nós acompanhamos a evolução da marca. O que a gente conversa muito na nossa bolha de amigos é que em junho todo mundo bomba de fazer publicidade, mas eu já sinto que nós dois estamos em um meio termo meio esquisito. As marcas se preocupam muito em trazer as pessoas LGBTQIAP+ no mês do Orgulho, pegam um valor enorme e dividem entre 50 criadores pequenos, que cumprem essa 'cota' da pessoa preta, trans, LGBTQIAP+ e, para a gente, não sobra tanto trabalho porque esse movimento acontece com os micro influenciadores.

Fih: Eu acho que é uma coisa de mercado mesmo. As marcas entendem que os influenciadores não precisam ser imensos para representar um público determinado. As vezes, reverbera melhor para a marca investir em um influenciador menor e mais nichado do que em um influenciador grande mas que tem um público disperso.

O que vocês levam em consideração na hora de fechar uma parceria com alguma marca?
Fih: Primeiramente, o posicionamento político. Nós temos essa seleção, da mesma forma que a gente sabe que as marcas também fazem isso com a gente. Temos o cuidado de não ficar fora do que a gente é, faz e prega e nas nossas redes.

Edu: A questão política é muito importante para a gente e ficamos muito ligados nisso. Agora, em questão de produto e consumo, nós somos muito abertos a tudo. Se a gente cria uma identificação com o produto, eu não vejo porquê não fazer, sabe? Acho inclusive que as marcas precisam ter mais esse pensamento. Nós somos bem abertos a conhecer o produto, falar com o cliente mesmo que nunca tenhamos feito para aquele nicho porque o nosso dia a dia é muito geral.

Além do humor mais ácido, vocês se posicionam muito nas redes sociais. Isso já influenciou o relacionamento de vocês com as marcas?
Edu: De alguns anos para cá, nós temos trabalhado com as mesmas marcas, sabe? Então, o nosso posicionamento político nunca foi um problema dentro da nossa zona de conforto. A gente nunca passou por alguma situação sabe? Tirando agora, com o Corrida das Blogueiras, que a gente acha que o posicionamento pode estar afetando, até por estarmos em um ano de eleição. Agora, a linguagem ácida, eu acho que nós viramos a chave no momento certo, então não acabou influenciando.

Fih: Eu tenho uma opinião diferente. A gente não tem como saber o quanto influencia, porque as vezes a gente sai de uma reunião achando que vai fechar o trabalho e não fecha. A marca pode dar qualquer justificativa, mas já aconteceu de uma marca trabalhar com a gente, pedir ideias e, no final, não aconteceu. Nesse caso, falaram para nós que a chefia da empresa acharam que o público não iria gostar justamente por causa da linguagem. Eu acho que a gente não perdeu nada em alguns casos, porque eram marcas que eu mesmo não queria trabalhar. O que acontece muito com a gente é o time da captação e marketing de uma empresa chegar na gente, mas ser barrado quando chega na chefia.

Como surgiu a ideia do Corrida das Blogueiras?
Edu: No começo de 2018, o pessoal do Google estava afim de pegar alguns criadores que estavam relevantes no Youtube e coloca-los em contatos com marcas para novos projetos na plataforma. Nós tivemos uma reunião com eles, voltamos para casa e pensamos em fazer um reality de blogueiras, que era um tema que a gente já falava no canal e dava super certo. Tivemos essa ideia, bem embrionária mesmo, levamos para eles e queríamos botar no ar naquele mesmo ano, mas eles disseram que não dava tempo. Mesmo assim, eu decidi que queria fazer então mostrei para o Rafa, da Dia, que amou a ideia e ai nós conseguimos uma marca para bancar a primeira temporada. Nós usamos o espaço do Youtube Space, então saiu mais barato e eles davam uma verba simbólica para arcar com os custos de produção.

Fih: Foi sofrido. Não ficou do jeito que a gente queria, mas era o que dava para fazer na época. Acima disso, as pessoas mais gostaram do que odiaram e todo mundo entendeu que não foi da forma que nós queríamos porque é um projeto caro. Tanto que, na segunda temporada, a gente conseguiu mostrar melhor a nossa intenção e as pessoas entenderam melhor, mesmo com os perrengues para conseguir os patrocínios.

Como vocês fazem para conseguir os patrocínios para o projeto?
Edu: Na segunda temporada, como foi feito mais ou menos nos mesmos moldes da primeira — no espaço do YouTube e com a verba deles — não foi tão difícil conseguir os patrocínios porque essas coisas que são mais caras já estavam bancadas. Na segunda temporada, nós conseguimos a Avon, Leroy Merlin e Tim e ai tivemos um orçamento bem maior e deu para fazer uma coisa grande, com lançamento no cinema, um teaser mais elaborado, uma stylist para nos vestir etc. A Dia ia atrás das marcas junto com o YouTube, então não foi tão difícil de fazer a segunda temporada.

Fih: Mas mesmo assim, tinham coisas para acertar como câmeras, equipe etc. Na terceira temporada, eu acho que a gente conseguiu entregar uma coisa de qualidade e bem legal. A gente não tinha mais o Youtube Space, então fizemos na Dia Estúdio para não ter o custo de alugar o estúdio. Nessa última temporada, nós conseguimos mais câmeras e até colocar mais participantes.

Edu: Como teve o atraso da pandemia para a terceira temporada, nós acabamos conseguindo mais marcas também, tipo o Kwai, que entrou no projeto um mês antes de começar as gravações. Ali, a gente conseguiu uma qualidade que agora, no mínimo, tem que ser mantida.

Como estão as preparações para a quarta temporada?
Edu: Nós começamos a trabalhar na pré-produção dela. Tanto que o vídeo de inscrição já traz o tema dessa próxima temporada, o roteiro do teaser já está montado, tem música nova e tudo mais. Mas não sabemos se vai acontecer. Depois do ano passado, a gente achou que seria muito fácil vender as cotas para as marcas e nós estamos sentindo uma queda de expectativa muito grande. Nós achamos que seria fácil, tivemos muita audiência mas ta muito difícil de conseguir patrocínio. A Tim e a Avon já confirmaram a presença nessa temporada e, de fato, não é um projeto barato. No ano passado, nós gastamos quase um milhão e meio para fazer e, neste ano, está dando um pouco mais caro que isso porque tudo está caro. A gente ainda está vendo a questão desse orçamento porque tem alguns participantes que já estão em São Paulo, então fica mais barato. Em compensação, tem os participantes que vem de outros Estados e as passagens aéreas estão muito caras também. O cenário a gente já tem, porque vamos usar o mesmo espaço do ano passado, então fica também um pouco mais barato, mesmo tendo que arrumar algumas coisas.

Fih: Além disso, tem a questão da hospedagem e logística também, porque os participantes ficam confinados aqui.

E as negociações?
Edu: Este ano nós fomos pegos de surpresa. As marcas estão com essa questão de ser um ano político, de Copa do Mundo, além de ter Natal, Black Friday ou de já terem investido no BBB sabe? Mas todo ano vai ter alguma coisa. A gente sente que se a marca quiser, ela da um jeito e isso chateia porque a gente não tem mais o que fazer. Fizemos o melhor que podíamos, entregamos três temporadas que evoluíram, a terceira foi impecável em nível de produção... A gente já conversou com mais de 100 marcas, sabe? Na nossa live de 10 anos, nós abrimos a situação para o nosso público e eles começaram a ir atrás das marcas também, mas só uma delas veio, de fato, conversar com a gente e, mesmo assim, ainda não é uma certeza. Nesse ano, nós queremos trazer mais novidades e temos mil ideias de como colocar as marcas ali. É óbvio que a gente sabe que é um projeto caro e que não da para diminuir muito o valor, mas são valores que a gente sabe que muitas das marcas que disseram não para a gente, tem. É muito triste. Os participantes do nosso reality mudam de vida e nós temos números para mostrar. Nós temos como provar.

Fih: Nós queremos entregar o máximo sabe? Não só para os participantes e para o público, mas para as marcas também. Nós não ganhamos nada de lucro com o Corrida, por exemplo. Só ficamos com o adsense do Youtube mesmo. Não temos cachê. Nós fazemos questão de gastar todo o dinheiro das marcas no projeto mesmo.