Bruna Gameiro é gerente de RH e D&I da companhia, detentora de marcas como Kitano, Yoki e Häagen-Dazs
Em novembro, mês da Consciência Negra, colaboradores da General Mills fazem pausa de uma hora para falar sobre racismo estrutural e a importância do engajamento no combate à desigualdade racial na sociedade e no trabalho.
Batizado como Dia de Mover, ele se refere ao compromisso público assumido pelo Movimento pela Equidade Racial (Mover), do qual a General Mills, dona de marcas como Yoki, Kitano e Häagen-Dazs, é uma das 47 signatárias.
Nesta entrevista, Bruna Gameiro, gerente de RH e D&I, fala que o propósito do programa é ser uma “força para o bem, criando meios para impactar positivamente seus mercados e comunidades”. Entre as metas, o projeto prevê 10 mil cargos de liderança para negros até 2030 e oportunidades de educação, empreendedorismo e empregabilidade para mais de 3 milhões de pessoas. “Temos metas próprias e específicas para contratação de negros e mulheres”.
Veja a seguir detalhes da entrevista.
Qual o resultado do Dia de Mover promovido pela empresa em novembro?
Engajamento e conscientização de todos os colaboradores sobre a importância de avançarmos em temas relacionados à equidade racial. O Dia de Mover foi a celebração do nosso compromisso público em ser uma força para o bem e em atuar tanto para criarmos um ambiente de trabalho cada vez mais diverso e inclusivo, mas também trabalharmos nas nossas relações com fornecedores, clientes e consumidores.
A General Mills acredita que o movimento está ajudando na conscientização sobre o racismo dentro da empresa?
O Mover é importante para sensibilizar, especialmente pela grandeza do movimento, que conta com dezenas de empresas, sejam multinacionais ou brasileiras, em diversos setores da economia. Não existe, no Brasil, nenhum acordo parecido até o momento, concentrando tanta mobilização para avançarmos em equidade racial, com uma meta arrojada de contratar 10 mil pessoas negras em cargo de liderança até 2030. O movimento está totalmente alinhado com o que buscamos como empresa: atrair talentos negros e promover ações efetivas na luta antirracismo.
Qual a mecânica do Mover?
O Dia de Mover buscou mobilizar os integrantes de todas as empresas por meio de lives, rodas de conversas, vídeos etc. com pessoas que representam símbolos na luta antirracista no Brasil e envolvendo todas as empresas signatárias. Neste dia, para celebrar um ano da criação do movimento, convidamos nossos colaboradores para reflexão sobre o racismo estrutural no Brasil. A ação vem totalmente
ao encontro do que temos buscado em nosso pilar de engajamento, dentro de nossa nova estratégia de D&I: promover meios para conversas, desconstrução de vieses e discussões sobre como combater o racismo e criar uma sociedade mais igualitária e inclusiva para negros e demais minorias, além do empoderamento de vozes negras.
Por que a empresa abraçou essa causa?
A General Mills tem como propósito ser uma “força para o bem”, criando meios para impactar positivamente seus mercados e comunidades. Sabemos que injustiças sociais e racismo não são novos em nossa sociedade, que muito ainda precisa ser feito e precisamos atuar rápido para mudar essa realidade. Entendemos, como empresa, que precisamos ouvir as pessoas negras em primeiro lugar, para entender que a mudança deve ocorrer de forma muito mais ampla e em todos os lugares. É nossa responsabilidade sermos agentes transformadores para gerar mudanças efetivas e significativas.
Quais indícios indicam que ser uma das signatárias do movimento é um caminho bom a ser seguido do ponto de vista da marca?
O movimento representa uma mobilização expressiva, com dezenas de empresas e metas robustas para avançarmos em equidade racial. Acreditamos que ao somarmos forças com tantos players importantes, de diversos segmentos, temos potencial único para promover mudanças expressivas e efetivas no Brasil, tornando esta coalizão um grande marco histórico na luta antirracista no Brasil.
Quais outras ações a companhia desenvolve para combater o racismo?
Temos uma nova estratégia de Diversidade & Inclusão, contemplando quatro pilares para guiar nossas ações: Engajamento, Desenvolvimento, Governança e Protagonismo. Promovemos diversas palestras, discussões e conversas de coragem e protagonismo, onde damos voz aos nossos colaboradores, em busca de gerarmos conexão emocional para que todos contribuam nessas iniciativas.
Vocês criaram um calendário?
Em novembro, mês da Consciência Negra, criamos um calendário específico, com debates e empoderamento de vozes negras com o intuito de refletirmos sobre o racismo e entender como cada um de nós pode ser um agente transformador ao apoiar medidas antirracistas em busca de mudanças efetivas. Outra ação importante foi a realização de um treinamento específico para letramento racial, que abordou um conjunto de práticas para desconstrução de formas de pensar e agir relacionadas a pessoas negras ou brancas.
Vocês promovem treinamento interno para atingir os objetivos do projeto?
Treinamos nossos líderes e colaboradores de recursos humanos para realização de processos de atração e seleção com desconstrução de vieses, sob uma nova estratégia e governança para contratação de pessoas; estamos promovendo ainda processos seletivos atentos à diversidade, além de termos finalizado recentemente um censo interno sobre o perfil de nossos colaboradores, que contou com 82% de participação e nos trará dados importantes para entendermos onde devemos focar nossos próximos passos. Outra iniciativa de impacto que trouxemos recentemente ao nosso ambiente foi a criação de um guia de comunicação inclusiva, orientando colaboradores sobre termos que devem ser evitados, com orientações para algumas situações específicas.
É muito grave a questão do preconceito racial dentro da General Mills?
Na General Mills não toleramos nenhum tipo de preconceito. Promovemos ações e meios para que cada colaborador se sinta confortável para expressar sua personalidade livremente. Temos plena confiança que a diversidade de perfis nos leva a visões de mundo mais amplas, contribuindo também para o sucesso dos nossos negócios. Por isso, buscamos constantemente realizar ações de orientação e sensibilização para criação de um trabalho inclusivo. Temos ainda canais de denúncia, totalmente anônimos, que são amplamente divulgados e buscam trazer envolvimento, inclusive, de nossos líderes para tomada de ações para coibir atos de preconceito em nossa companhia e acolher qualquer pessoa que tenha passado por uma situação desconfortável.
Em todos países a desigualdade racial é um problema sério. Em quais regiões a questão é mais grave?
A General Mills busca atuar em todos os mercados para promover medidas antirracistas, mas hoje os maiores investimentos têm ocorrido especialmente no Brasil e nos Estados Unidos.
A General Mills acredita que a estratégia de marca deve passar por compromissos sociais?
Há décadas ações sociais fazem parte de nossa estratégia corporativa, em todos os mercados onde a General Mills possui operação. Acreditamos que devemos ser uma força para o bem, promovendo o bem-estar de nossas comunidades, atuando para promover sociedades mais justas e cuidados com o meio ambiente. Entendemos que, como empresa, também somos responsáveis por promover mudanças e, por isso, atuamos para liderar e convidar outros agentes de nossas cadeias de negócios para gerarmos impacto em compromissos sociais e ambientais.
O consumidor do futuro vai cobrar das empresas atitudes voltadas para a consciência antirracista?
Acreditamos que o consumidor esteja também cada vez mais ciente de que nossa sociedade precisa avançar em questões como a equidade racial, entendendo que grandes, médias ou pequenas empresas também são agentes importantes e têm responsabilidade em promover medidas antirracistas para avançarmos em uma sociedade cada vez mais justa e inclusiva.
A General Mills tem programa para contratação de negros? Se sim, qual a meta?
Além da meta do Mover para gerarmos 10 mil posições de liderança para negros até 2030 e oportunidades de educação, empreendedorismo e empregabilidade para mais de 3 milhões de pessoas, temos metas próprias e específicas para contratação de negros e mulheres.
Quantos funcionários pretos a empresa tem hoje em seus quadros?
Recentemente realizamos um censo, que contou com 82% de participação, para termos dados para apoiar nossos pilares de Diversidade & Inclusão e entendermos onde devemos atuar para sermos uma empresa ainda mais diversa quando falamos de raça, cor, pessoas com deficiência, gênero e orientação sexual. As informações estão sendo consolidadas e vão nos auxiliar nos próximos passos para definição de mais ações.