É possível para a economia formal tirar algumas lições do “submundo” do mercado negro, que chega a movimentar até 10 trilhões de dólares no mundo todo? Para responder a esta pergunta, a terça-feira (31), último dia do Festival of Media Latam, realizado no hotel Turnberry Isle, em Miami, começou com uma palestra fora dos padrões, ministrada por Alexa Clay, coautora do best seller “The Misfit Economy” (lançado no Brasil pela editora Figurati com o título “A economia dos desajustados”), e por Antonio Fernandez, conhecido como King Tone, da gangue Latin Kings.  

Após passar os últimos três anos viajando pelo mundo para ouvir gângsteres, hackers e piratas, Alexa contou ter entrado em contato com a criatividade dos marginalizados. O fato de os pais dela serem antropólogos -ele trabalhando com população indígena e ela com pessoas que relatavam abduções por ETs- incutiu na profissional a vontade de ouvir as pessoas que tinham uma perspectiva diferente.

“A jornada da minha vida toda tem sido encontrar esses desajustados. Eu comecei a trabalhar em multinacionais e a encontrar essas pessoas que estão comprometidas em trazer ideias disruptivas para as companhias, que questionam a área em que trabalham. O trabalho deles é duro porque, se você é um ativista você pode gritar sobre sua paixão, mas se você é alguém que quer trazer um novo jeito de pensar o negócio ou transformar a cultura da empresa, tem de camuflar, viver nas sombras”, diz.

Para Alexa, os desajustados são desbravadores e por isso é preciso prestar muita atenção no que o mercado informal está fazendo. “Na Índia, a indústria farmacêutica ocidental está tendo de desenvolver estratégias mais elevadas como resposta a esses piratas. Às vezes, vemos essas entidades ilegais colocando pressão nas empresas ou desafiando algumas verdades do controle do monopólio”, diz.

Fernandez, por sua vez, contou como transformou a marca Latin Kings, que causava medo nas pessoas, em algo para se orgulhar. “Meu CEO teve de se retirar por 145 anos, sem visita, telefone ou correio. Eu pensei: ‘não vou seguir estes passos. Essa marca falhou’. Então cheguei com uma estratégia de marketing e com três leis que minha nação precisava. Primeiro, nós precisamos reconstruir a comunidade. Tínhamos esquecido de onde viemos. Nós precisamos de mais do que dinheiro, nós precisamos de valores. Em segundo lugar, precisamos deixar a influência de fora entrar. Eu criei espaços seguros onde o público vinha e falavam suas ideias. Então me tornei um chefe que dá o poder a quem ele pertence: à voz do povo. E a última coisa que eu tinha de fazer: ter uma causa. O público não ia acreditar em um gângster dizendo que nós havíamos mudado. Eu achei uma mãe, que teve o filho morto por um policial, e queria justiça. Eu transformei o cara mau no cara bom”, explica.

O líder foi aconselhado a mudar o nome de sua marca, mas resistiu. “Me disseram: ‘a marca tem uma história ruim’ e eu respondi: ‘assim como os Estados Unidos’”, fala, explicando que com oferecendo apoio à comunidade foi possível ressignificar a imagem.

Encerramento

O piloto de Fórmula 1, Felipe Massa, da Williams, foi o último convidado a se apresentar no Festival of Media Latam 2017. O brasileiro falou sobre sua presença nas redes sociais e defendeu que os fãs gostam de saber quem são os ídolos de verdade. “Eu não gosto de mostrar alguém que não sou eu. Se você mostrar o que você gosta, você mostra as pessoas quem você é. É importante dar a opinião sobre suas crenças, seus valores”, fala.

O piloto confessou que fica surpreso, às vezes, com a interação do público. “Algumas pessoas não tem nada para fazer em casa (risos). Algumas vezes de maneira positiva, outras nem tanto, mas eles tentam participar da sua vida”, conta.

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