Desde há muito não tínhamos esse recesso econômico entre o Natal e o Carnaval.
Em tempos idos, com o país “menor” em termos de população e ambições, era comum a estagnação que agora se repete, sendo a nossa torcida para que não passe da Quarta-feira de Cinzas.
Vivendo diversas crises, das quais a pior é a da desonestidade de grande parte da nossa classe política, o Brasil tem puxado o freio de mão, à espera de milagres que aos governantes não cabe com eles contar.
Se o homem põe e Deus dispõe, isso cabe à população abraçar ou não. Quem dirige pode até se beneficiar dessa espera, mas tem a obrigação de agir, antecipando-se aos fatos que provocam graves transtornos como os que agora nos atingem, com destaque para a escassez energética e da água, causadoras de graves apreensões na população.
Viver sem água e energia elétrica é mais que voltar aos primórdios da civilização, onde não havia ainda a segunda, mas a primeira e principal era abundante.
O que se presencia em São Paulo com relação ao problema é inadmissível em um Estado que ocupa a vanguarda nacional. Deixar as providências para a undécima hora, quando nem mesmo nos nossos pés a água está batendo, é de uma incúria impossível de se qualificar.
Para piorar o cenário, já que desgraça pouca é bobagem, assistimos a uma incompetência do governo federal – para dizer pouco – que em seus pronunciamentos através da presidente da República e de alguns dos 39 ministros recém-empossados, dá a nítida impressão de viver em outro país.
A tão propalada aproximação com os pobres, cujo discurso ajudou na reeleição de Dilma Rousseff, nunca se revelou tão distante como agora, com os megaescândalos vindo à tona seguidamente em um verdadeiro achincalhe ao trabalhador brasileiro.
Os bilhões detonados na Petrobras e que representam um poder aquisitivo impossível de ser calculado pela maioria do povo, causam indignação e repulsa quando os noticiários das tevês, à noite, mostram a calamidade dos hospitais públicos, as armadilhas das nossas estradas e a guerra urbana travada nos grandes centros do país, ceifando anualmente milhares de vidas sem distinção de idade e absolutamente irreparáveis.
Para refrear a dramaticidade da nossa realidade cotidiana, o governo combina entre alguns dos seus pares o engodo da regulação da mídia, querendo atribuir a esta a responsabilidade pelo caos que mostra e do qual não participa a não ser como vítima, o que aliás é repartido entre todos os segmentos da nossa nacionalidade.
Mais recentemente, dias atrás, em meio a toda essa balbúrdia a que o país assiste e vive, a presidente Dilma conclama seu ministério a abraçar a guerra da comunicação, rebatendo o que ela afirma serem mentiras forjadas pelos adversários do seu governo.
Ao criar dessa forma uma cortina de fumaça em meio ao grave momento que vivemos, a presidente julga que um esforço de comunicação dos seus colaboradores mais diretos reequilibrará o jogo para o seu lado.
Mas não se trata de um jogo. Trata-se da vida de cada um de nós, ameaçada pela inércia de governantes que são agora aconselhados a encontrar, na porta de saída da comunicação, a solução para os graves males que a todos afligem.
É o caso de se perguntar que tipo de comunicação é a pretendida por sua excelência, que parece não concordar que o primeiro alicerce dessa ferramenta é a verdade, devendo ser o segundo a pertinência.
De nada adianta, neste momento de pesadelo, enumerar eventuais vitórias passadas. As derrotas do presente se sobrepõem e é nele que vivemos.
Vai ser difícil para todos nós escapar rapidamente do abismo em que nos meteram, mas será ainda mais difícil para o governo prosseguir na sua tentativa de tapar o sol com a peneira.
Há um desânimo nas ruas e uma revolta crescente em cada cidadão que percebe e vive a realidade do dia a dia e não aquela embutida nos discursos oficiais.
Ainda é tempo da guerra da comunicação se transformar na guerra da ação, em prol de um país melhor para todos.
*Presidente da Editora Referência, que edita o jornal propmark e as revistas Propaganda e Marketing