1. A redação de Larissa Freisleben no Enem, discorrendo sobre publicidade infantil (tema obrigatório da prova) e que foi transcrita integralmente pela Folha em sua edição de 16/1, não só a fez tirar a nota máxima, como traz a público uma análise serena e pertinente de uma jovem de 18 anos, sobre um dos assuntos mais discutidos dos últimos tempos em nosso país.
De fato, a publicidade infantil deixou há muito de ser tema de discussão exclusiva de autoridades do ensino e publicitários (aqui incluídos os representantes dos anunciantes), para ocupar espaço mais abrangente na mídia nacional, onde é listado no rol das questões politicamente (in)corretas.
Extrapolando, pois, o terreno embora amplo da publicidade comercial, o assunto atrai para si um número cada vez maior de debatedores, cada qual procurando opinar segundo suas próprias convicções (que de forma sub-reptícia carregam ideologia política, notoriamente em facções onde a liberdade de expressão deve ser controlada, com destaque para a liberdade de expressão comercial, pois isso favorece indiretamente o enfraquecimento e consequente controle da mídia).
Ciente desse caldo de falta de cultura em torno do assunto, o Ministério da Educação resolveu escolher o tema como pré-teste sobre o pensamento da juventude estudantil brasileira, possivelmente surpreendendo-se seus responsáveis, por cerca de 530 mil participantes do Enem (de um universo de 6,2 milhões) terem recebido nota zero nessa prova, “a maior parte (53%) por entregar a prova em branco”, segundo a Folha.
De qualquer forma, mais de 90% procuraram discorrer sobre o assunto, o que demonstra o interesse que o tema publicidade desperta entre os jovens, fato que deve se ampliar tratando-se da publicidade infantil.
Voltando à redação de Larissa Freisleben, embora demonstrando que a autora deve aprimorar alguns conceitos sobre a matéria, não resta dúvida que revela a boa cidadã que já é ao tocar e concluir sobre um dos cernes da questão: “Censurar ou proibir a propaganda não é uma boa solução. Correto é uma regulamentação”.
Reconhecendo o potencial positivo da publicidade, pois a considera capaz de incentivar e estimular os bons hábitos, como os alimentares, por exemplo, Larissa termina sua redação com um ótimo alerta para os defensores do controle da propaganda infantil: “Nenhum controle publicitário (…) é suficiente sem a participação ativa da família. É essencial ensinar as crianças a diferenciar bons produtos de meros golpes publicitários. Portanto, em se tratando de propaganda infantil (…), a educação vinda de casa é a melhor solução”.
2. Ao contrário da jovem Larissa, algumas (muitas) autoridades públicas decepcionam com palavras ou atos discriminatórios próprios de quem, muitas vezes até sem perceber por falta de melhor reflexão, contraria a lógica.
O ofício do jornalismo facilita a garimpagem frequente de exemplos dessa natureza, como o atual presidente da Sabesp justificando a multa para quem ultrapassar seus limites de consumo. Segundo ele, a imposição da multa fará com que essas pessoas reflitam melhor sobre o uso da água. A multa provocará essa reflexão.
Segundo nós, ela será um estímulo para as pessoas de maior poder econômico, que pouco serão afetadas ao ultrapassarem aqueles limites.
O correto seria conceder descontos aos consumidores que diminuírem a média recente do que consomem, até a situação se normalizar.
O estímulo do desconto abrangerá contingente maior de consumidores do que a aplicação da multa, que se refletirá unicamente no aumento da receita da Sabesp.
3. Outro assunto que não quer calar, embora repelido pela população brasileira sempre que é chamada a opinar a respeito, refere-se ao controle da mídia, obsessão do atual governo agora expressa nas palavras do novo ministro das Comunicações, Ricardo Berzoini.
O disfarce do rótulo “regulação econômica” não cola em uma população suficientemente esclarecida para entender aonde isso quer chegar.
O próprio governo de Dilma I, nas cercanias do 31 de março do ano passado, quando a instalação do governo militar completava meio século (e felizmente “só” durou duas décadas), fez severas críticas às lembranças da censura à imprensa, imposta pelo AI-5 em dezembro de 1968.
Como agora um ministro – e da pasta das Comunicações – do Dilma II inicia sua gestão falando em controle “econômico” da mídia?
Como perguntaria Gabeira, “o que é isso, companheiros?”.
4. Os jornais impressos livres e independentes receberam com júbilo a confirmação do que já sabiam: a recente Pesquisa Brasileira de Mídia da Secom – Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, em parceria com o Ibope, detectou que essa mídia continua sendo o meio de comunicação mais confiável para o povo brasileiro.
Se a mesma pesquisa, em 2013, apontou um índice de 53% entre os entrevistados que revelaram confiar muito ou sempre nos jornais impressos, agora esse índice subiu para 58%.
Mestre Berzoini, Vox Populi, Vox Dei. Favor anotar.
5. A última edição da Revista Piauí destaca-se pela entrevista com Chico Buarque, feita por Fernando de Barros e Silva, que o acompanhou em Berlim em busca do irmão alemão.
*Presidente da Editora Referência, que edita o propmark e as revistas Propaganda e Marketing