Tem muito engenheiro debruçado neste instante em fórmulas mais sustentáveis para embalar produtos. Tem até embalagens de pipoca – granulada, prensada e não comestível –, sendo testada como alternativa mais simpática para substituir poliestireno ou plástico. O fato é que as embalagens são uma preocupação mundial no sentido de reduzir o lixo que não se desfaz facilmente no meio ambiente. O design e os materiais são testados aos montes. E a indústria aceita mudar as embalagens dos produtos em nome da consciência e da exigência do consumidor.

A Arcos Dorados, operadora do McDonald’s na América Latina e Caribe, é uma que está sempre debruçada para desenvolver embalagens mais sustentáveis. Segundo a rede de fast-food, a marca assumiu o papel de influenciar o setor para promover um futuro mais sustentável e gerar impacto positivo. “Temos o compromisso de minimizar o consumo de plásticos de um só uso e incentivar a economia circular”, afirma a empresa, relembrando que, em 2018, implementaram programa de redução de plásticos, no qual deixou de entregar canudos nos restaurantes.

McDonald’s substitui caixa plástica (Divulgação)

Além disso, entre as iniciativas desse programa, está a substituição de embalagens de plástico das saladas por similares feitas com papel cartonado certificado, como as de outros produtos, incluindo as McFritas e as caixas de sanduíches. “Globalmente, o McDonald’s busca a meta de ter 100% das embalagens usadas na rede provenientes de fontes renováveis, recicladas ou certificadas, até 2025”.

Outra empresa de fast-food que enfrenta os desafios de oferecer embalagens mais sustentáveis é o Grupo TrendFoods, dono de dez marcas de restaurantes, entre eles, China in Box e Gendai. Segundo Rafael Shiba, coordenador da Supply Solutions, braço de supplies (P&D) da companhia, atualmente, o desafio interno é formatar um alinhamento entre responsabilidade ambiental, logística produtiva, mudanças de consumo no mercado e expansão de marcas. “Diante de tal cenário, estipulamos uma meta na qual entendemos como possível para o grupo substituir todas as embalagens de plástico por biodegradável, ou papel, até o fim de 2021”, diz Shiba. Ele afirma ainda que até o momento, 95% das embalagens utilizadas pelo grupo são de papel ou biodegradáveis, a exemplo das populares caixinhas de comida chinesa, na qual disponibilizam alguns produtos China in Box. “Os 5% restantes já estão em processo de desenvolvimento”.

Grupo TrendFoods também muda embalagens da sua rede (Divulgação)

REFRESCO
A Coca-Cola também é uma das empresas que não fogem à nova ordem mundial. A companhia no Brasil cita, por exemplo, a embalagem de Crystal, a primeira garrafa de água mineral, segundo a marca, feita 100% com PET reciclado do mercado brasileiro. “Para produzir as novas garrafas, a Crystal deixará de utilizar 14 mil toneladas de plástico virgem, que seriam consumidas na produção de 700 milhões de embalagens, até o fim de 2021”.

A Coca-Cola afirma ainda que uma parte importante da sua estratégia é o forte investimento em embalagens retornáveis nos últimos anos. “Além das garrafas de vidro retornáveis, que nunca deixaram de existir, há alguns anos temos em nossa linha as garrafas de PET retornáveis. Com investimento de R$ 100 milhões, passamos a comercializar todas as garrafas de PET retornável de refrigerantes de 2 litros em um formato apenas: é a garrafa universal”.

Crystal: 100% PET (Divulgação)

Conforme a empresa, a cada retorno à fábrica, a embalagem 100% reciclável poderá ser envasada e receber um rótulo de papel destacável de qualquer sabor de refrigerante da Coca-Cola Brasil, “garantindo ganhos para o consumidor e para o meio ambiente”. E fala que está ampliando para outras categorias as embalagens retornáveis, produtos acessíveis e com menor impacto ambiental. “Por isso, trouxemos para o mercado brasileiro o primeiro refresco em embalagem retornável do país”.

A marca Del Valle é outro exemplo no lançamento de Del Valle Frut, na garrafa PET retornável de 2 litros, que pode ser, segundo a Coca-Cola, reutilizada até 25 vezes e, se comparado à embalagem descartável de 1 litro, chega a ser até 40% mais econômico. “O produto chegou em agosto, em Manaus, com expansão para o território nacional prevista para 2021”.

Del Valle (Divulgação)

A Ambev também vai nessa linha e fala que as suas metas sustentáveis estão voltadas às embalagens circulares, o que significa que, até 2025, pretende ter 100% das embalagens retornáveis (ou feitas, em sua maioria, de conteúdo reciclado). “Em 2020, o volume de nossa produção no Brasil feita a partir de material reciclado correspondeu a 47% vidro, 45% PET e 75% alumínio. Para ampliar a cultura do retornável, estamos buscando e testando novas soluções que levam em consideração as dificuldades de transporte e armazenamento”. A companhia afirma que entre os projetos em teste hoje estão o Vale Garrafa e a máquina de refil de refrigerantes.

A empresa cita Skol, Brahma, Bohemia, Original e Antarctica como exemplos de embalagens retornáveis no seu portfólio. “Também estimulamos e queremos conscientizar os pontos de vendas sobre a importância dos retornáveis. No ano passado, ajudamos mais de 100 mil bares a venderem cervejas em embalagens retornáveis, no formato take away, contribuindo para que eles pudessem manter o faturamento mesmo no período de fechamento pelas restrições da Covid-19”.

LIMPEZA
Flávio Ferreira, gerente de desenvolvimento de embalagens Latam da Reckitt Hygiene Industrial, revela que o Grupo Reckitt divulgou suas ambições globais de sustentabilidade chamadas de For a Cleaner, Healthier World (Por um mundo mais limpo e saudável) em março deste ano. “O plano traz metas que deverão ser cumpridas nos próximos dez anos e contarão com investimento de 1 bilhão de libras (cerca de R$ 8 bilhões)”, comenta.

Segundo ele, até 2030, o objetivo é atingir metade da população mundial com produtos que contribuam para um planeta mais limpo e saudável. Além disso, a companhia quer engajar 2 bilhões de pessoas em programas, parcerias e campanhas que gerarão impacto positivo e suportarão os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU. A estratégia é focada em três pilares: marcas guiadas por propósito; planeta mais saudável; e sociedade mais justa.


Ele afirma ainda que a companhia está dedicando esforços para reduzir ao máximo o uso do plástico e garantir que as embalagens ainda com esse material tenham 25% de plástico reciclado e sejam 100% recicláveis ou reutilizáveis até 2025. “Estamos sempre buscando tendências, compreender as mudanças no comportamento da sociedade e desenvolver soluções com alto desempenho e ótimo custo-benefício”.

Flávio Ferreira, da Reckitt (Divulgação)

Para ele, inovação é um dos principais pilares de atuação da Reckitt Hygiene Industrial no desenvolvimento de novos produtos e embalagens.

Ferreira analisa a categoria de tira-manchas, que, segundo ele, é um formato bem aceito pelo setor de lavanderia e ajuda na economia de plástico com suas embalagens flexíveis. “Para Vanish, a Reckitt Hygiene Industrial desenvolveu uma solução de embalagem com menos plástico. Hoje é um recipiente de 330 x 180 mm que possui impressão externa e utiliza PEBD (polietileno de baixa densidade) na sua composição. A nova embalagem contém dez vezes menos plástico do que a embalagem regular. Esse projeto se tornou referência global dentro do Grupo Reckitt e está alinhado às metas globais de sustentabilidade”, comenta.

Outros exemplos são as embalagens de refil econômico 400 ml de Veja Cozinha e Veja Banheiro sem Cloro, que possuem 60% menos plástico se comparado à versão frasco. “Nossas ambições globais de sustentabilidade envolvem os seguintes pilares a respeito de plástico: reduzir o uso de plástico virgem nas embalagens em 50% até 2030; introduzir plástico pós-consumo (PCR) em 25% de nossas embalagens até 2030; tornar nossas embalagens 100% recicláveis ou reutilizáveis até 2025; incluir nos rótulos informações que ajudem o consumidor a fazer o descarte correto para posterior reciclagem”.

Vitor Fernandes, da P&G (Divulgação)

Ele afirma que o grupo tem um time multifuncional de cientistas e analistas responsáveis pela pesquisa de novos produtos e soluções que fazem parte de uma estrutura global de desenvolvimento, integrando as necessidades locais às tecnologias mais avançadas. O executivo fala ainda que a empresa observa que os consumidores estão cada vez mais preocupados com sustentabilidade e preservação ambiental.

Já a P&G adota como projeto os 3 Rs – Reduzir, Reutilizar, Reciclar. “Em primeiro lugar, estamos comprometidos em alcançar embalagens 100% recicláveis ou reutilizáveis até 2030, assim como reduzir em 50% a quantidade de plástico de petróleo virgem usado”, afirma Vitor Fernandes, diretor do pilar de sustentabilidade da companhia. Segundo ele, existe uma série de inovações em produtos e embalagens para os próximos anos, que prevê que isso evitará o uso de mais de 300 mil toneladas de plástico virgem globalmente.

A P&G lançou, no Brasil, em 2018, a sua primeira linha de refis da marca Ariel, “que contém 60% menos plástico que a embalagem de volume equivalente, se juntando às nossas soluções existentes de refil das marcas de lâminas para barbear (Mach 3) e depilatórias (Venus). “Complementarmente a esses esforços, também trabalhamos para desenvolver a cadeia de reciclagem de plástico no Brasil, que será chave para o uso do plástico reciclado em larga escala”.