"O que está debaixo do capô da mídia programática"

O mercado publicitário brasileiro tem suas particularidades e a Rocket Fuel, gigante em mídia programática no mundo, está disposta a se adaptar para mostrar a agências e anunciantes os benefícios dos inventários automatizados em campanhas digitais. Instalada no país desde janeiro deste ano, assim como outras do setor, a companhia está empenhada em educar os players sobre as vantagens que podem ser obtidas com o uso de uma tecnologia que funciona praticamente como uma bolsa de ações, promovendo venda e compra de anúncios em tempo real, e era desconhecida no Brasil até pouco tempo atrás.

A falta de conhecimento, inclusive, é o obstáculo que empresas de mídia programática estão tentando superar para a ferramenta decolar de vez. “Em comparação aos vizinhos, o Brasil é certamente o mais avançado, mas ainda existe um espaço gigante para crescer”, afirma Edvaldo Acir, diretor-geral da Rocket Fuel na América Latina. O executivo revela que informou sobre as características do mercado brasileiro ao board internacional liderado pelo cofundador e chairman George John, sediado em Palo Alto, nos Estados Unidos, e pediu autorização para assumir uma estratégia que respeite as práticas tradicionais da publicidade nacional.

Edvaldo Acir, diretor-geral da Rocket Fuel na América Latina e Brasil

Entre outras questões, Acir se refere ao chamado plano de incentivos, adaptação do antigo BV (Bonificação por Volume), modelo pelo qual agências ganham comissões de acordo com a quantidade de anúncios veiculados por clientes seguindo uma série de princípios de qualidade e prazos normatizados por entidades como o Cenp, que regula as práticas das negociações entre veículos, agências e anunciantes no Brasil. Em entrevista recente ao propmark, o próprio presidente do Cenp, Caio Barsotti, disse que está atento à evolução da mídia programática e pretende intermediar ações que reduzam o nível de insegurança em relação ao uso da tecnologia.

Consciente sobre este cenário, a Rocket Fuel já adotou até mesmo práticas que evitam desafiar o modelo de plano de incentivos, como a redução na margem de lucro da própria empresa nas mais de 30 campanhas brasileiras que estão sendo executadas pela DSP (Demand Side Platform) da multinacional norte-americana. “É um diferencial interessante, pois sabemos como o mercado funciona e estamos dispostos a ajudar. Pode ser que a tecnologia force algumas mudanças no futuro, mas não posso esperar que elas aconteçam para crescer”, diz o diretor-geral da companhia na América Latina e no Brasil. “Estamos dispostos a fazer o que outras não querem, que é deixar isso impactar na nossa própria margem de lucro”, acrescenta Acir, que garante que a estratégia não afeta a lucratividade da empresa.

O executivo da Rocket Fuel diz ainda que está buscando encontros com o Cenp e outras entidades para se colocar à disposição no trabalho de normatizar as negociações que envolvam mídia programática. “Queremos ajudar a educar os players para algo que talvez não tenha mais volta”, diz Acir.

Branding

De acordo com Acir, um dos desafios é mostrar que a tecnologia pode ser eficaz também em campanhas de branding, e não apenas em ações digitais de performance ou para e-commerce. “Vai além do retargeting”, diz.

Para o executivo, as agências que entenderem as possibilidades geradas pelas plataformas vão se sobressair na hora de apresentar resultados aos clientes. “Estou participando de eventos e reuniões para mostrar como os profissionais podem otimizar as campanhas”.

Além disso, Acir reconhece que a tecnologia pode levar a mudanças na estrutura de agências e anunciantes. “Nos Estados Unidos, por exemplo, empresas mais maduras no uso de mídia programática possuem departamentos de marketing autossuficientes, mas também há exemplos de sucesso em que as agências continuam comandando o processo inteiro da campanha”, explica.

Uma das principais polêmicas sobre o tema é justamente a facilidade que a mídia programática oferece para que anunciantes comandem sozinhos o orçamento e as inserções dos anúncios, sem a intermediação de agências.

Publishers

A mídia programática tem provocado reações não apenas em anunciantes e agências. Na outra ponta da cadeia, veículos de comunicação, que vendem os espaços e recebem os anúncios, também estão se movimentando. No exterior, já há exemplos de alianças entre publishers tradicionais como The Guardian, Financial Times, CNN International e Thomson Reuters, que criaram uma plataforma única chamada Pangea Alliance. A estratégia das publicações, que juntas atingem mais de 110 milhões de leitores, é concorrer com gigantes da internet como Google e Facebook, que começaram a atrair investimentos massivos em publicidade.

Ainda não há nenhum exemplo do tipo no Brasil, mas se depender da Rocket Fuel é possível que algo parecido se desenvolva em breve. “Estamos em contato com cinco grandes portais brasileiros que atuam de forma vertical (especializados) e não concorrem entre si. Estão estudando a possibilidade de formar uma aliança em mídia programática”, revela Acir.

Saiba mais como outra grande empresa internacional de mídia programática tem observado o Brasil aqui.