A revista Realidade faz parte do acervo da coleção“Acabo de completar cinquenta anos de atividade publicitária. Comecei trabalhando na área de mídia (na época era escrita media), que era dividida em ‘Eletrônica’ e ‘Impressa’. O caipira de Ribeirão Bonito era datilógrafo do departamento que autorizava veiculação para televisão, rádio e cinema.

No início dos anos 70, então trabalhando na Thompson, recebi como uma promoção minha transferência para a área de “’planejamento de mídia’, uma grande novidade para a época.

Não conhecia profissionalmente os meios impressos (jornal, revista e outdoor) tanto quanto aprendera até ali sobre os meios eletrônicos, e me determinei a equilibrar este conhecimento em curto prazo.

Uma das formas era levar para casa as dezenas de publicações recebidas durante a semana, para folheá-las, conhecer seus conteúdos editoriais, ver os anunciantes que as privilegiavam.

Naquele período o Brasil viveu um chamado ‘boom’ econômico, onde o crescimento e desenvolvimento do país se aceleraram e muitas novas empresas surgiram. No campo editorial também: foi um período fértil de lançamento de publicações, também porque era evidente que o futuro delas, particularmente das revistas, seria a segmentação de públicos.

Com o ‘bolo’ de revistas a conhecer, percebi que parte representativa delas era lançamentos, as números 1. Pensei então nesta ideia maluca: porque não colecionar revistas nº 1?

Elas sempre trazem em seu editorial as explicações de sua existência e, com o tempo poder-se-ia acompanhar sua trajetória.

Passei a ser ‘rato de banca’, perguntando em todas elas: ‘Tem revista número 1 ai?’ Descobri que dificilmente jornaleiro sabia, mas continuei procurando. Espalhei o novo hobby a amigos e contribuições começaram a chegar. Aliás, até hoje chegam.

Isto permitiu que adquirisse alguns raros lançamentos dos anos 1940, 50, 60. Permitiu ter um número 1 de uma publicação de 1929; o lançamento da revista Grande Hotel, de 1947, com texto nos ‘baloons’ da fotonovela produzida em ‘bico de pena’; lançamentos marcantes como Veja, Realidade, Isto É, Playboy, Nova e etc. E a principal ‘joia”: a número 1 do Pato Donald, a primeira publicação produzida pela Editora Abril.

Estou seguro que ao fazer a doação dos quase 700 títulos de revistas nº 1 para a ESPM, estarei dando utilidade para aquela ideia maluca.

Que ela sirva de consulta para os jovens e interessados em resgatar parte da publicidade e do conteúdo editorial das revistas brasileiras. Que ela sirva também para que a coleção fique viva e seja ampliada. Com certeza neste mês estão sendo lançadas novas publicações, que daqui a dezenas de anos farão parte da historia da imprensa brasileira.

Aí direi: ‘valeu a pena’”.

*Entre em contato com o autor, que é Vice-presidente de comunicação e marketing da ESPM, no email fqueiroz@espm.br