A história de Fábio Simões, diretor-executivo de criação da FCB Brasil, com o Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions é antiga. Há quase duas décadas, no ano 2000, o profissional fazia a sua estreia no evento ao ser um dos jovens selecionados para representar o país no projeto Young Lions Brazil. Depois de cinco anos, o criativo escrevia mais uma importante página em sua trajetória profissional na Riviera Francesa ao ser jurado na categoria Cyber. Agora, Simões se prepara para mais um desafio: vai julgar peças na área Mobile, cuja tarefa já está se ambientando, pois prejulga online os trabalhos de um dos segmentos que mais crescem na premiação. Veja a seguir os principais trechos da entrevista.

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Expectativa
A minha expectativa é altíssima para este ano e não poderia ser diferente, visto que esta é a categoria que mais cresce no festival em termos de volume, variedade e qualidade dos trabalhos. Além disso, tenho certeza que a conversa que terei com os outros jurados vai ser uma das partes mais proveitosas da experiência, porque são dez criativos de diversas áreas, cada um deles buscando uma forma de reinventar as suas agências e o próprio negócio dos seus clientes.

Cases
Já estou julgando há duas semanas, mas nesta primeira fase a sensação é sempre de que não tem nada muito legal inscrito, porque a quantidade de trabalhos é muito grande. E cada um dos dez jurados vê só uma parte dos trabalhos inscritos. Dos trabalhos que eu conheço e sei que têm grandes chances, o que eu mais aposto é o projeto do Banco Next, desenvolvido pela R/GA de São Paulo. É um projeto supercomplexo e completo, tanto como ideia de desenvolvimento de produto como qualidade de craft e forma de vender. Mostra que o trabalho das agências pode ser muito mais estratégico do que só comunicar.

Diferencial
Primeiro precisa ter o básico, um insight criativo novo, seja para a criação de uma nova tecnologia ou para uma campanha. Afinal, estamos em Cannes e não na CES (Consumer Electronics Show). Precisa ter também o entendimento da forma como usamos a plataforma, pois o celular não só mudou os formatos de entrega da mensagem, mas alterou também como nos relacionamos com as marcas. E ainda precisa ter sido criado com o celular no centro da ideia. Vários projetos geniais são inscritos em categorias que nem sempre são o melhor veículo para transmitir aquela ideia.

Pouco potencial
Acho que poucos trabalhos têm chances de trazer Leões para o Brasil, mas acredito que esses trabalhos vão trazer mais Leões que no ano passado. E isso é um sinal que temos de colocar mais esforços em desenvolver projetos inovadores para mobile. Agências, clientes, produtoras e plataformas têm de trabalhar juntos para gerar mais briefings e arriscar mais. Esse é um meio que se renova a cada dia e, se não mudarmos totalmente a forma de trabalhar, vamos perder a relevância na competição pela atenção e pelo tempo do consumidor.

Futuro
Para enxergar o futuro do mobile basta olhar a China. Em nenhum outro lugar do mundo a interação entre as plataformas, o uso de dados e o avanço da tecnologia é tão grande quanto por lá. Realidade aumentada, mobile wallet, chatbots, lojas automatizadas, social shopping, pense em alguma inovação e ela está sendo implementada e testada em milhões de telefones na China. Pode parecer um contrassenso, mas inclusive na questão de privacidade e propriedade dos dados temos de observar o que eles estão fazendo, não necessariamente para seguir o exemplo, mas para entender melhor como lidar com essa questão. A nova iniciativa do ranking social, implementada pelo governo chinês em parceria com a Alipay, é um exemplo que parece ter sido extraído do seriado Black Mirror, mas que já é uma realidade que muitos chineses estão vivendo.

Inspiração
Mesmo depois de 64 anos, o festival continua sendo uma referência, ainda mais agora que ampliou muito a sua área de atuação. Além da multiplicidade de meios, nós vemos também trabalhos de regiões como Ásia e Oriente Médio que trazem um novo olhar e novas soluções que estão passando a ser referência para o Ocidente. Cabe a quem for curioso e não enxergar a viagem como férias glamourosas na Riviera, porque quem estiver lá com essa cabeça provavelmente será parte do grupo que ficará para trás na revolução do mercado.

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